— Hã!? Quem é você?
Quando gritei bem ao lado dela enquanto dormia, ela acordou. Esfregou os olhos sonolentos e olhou para mim, seus olhos se arregalando gradualmente.
— H-hey. Quanto tempo, hein?
— ........................... Mentira. Quê? Eu ainda estou dormindo?
— Não, acho que você está acordada? Quer dizer, já faz——
— Ed!
Tia pulou e abraçou meu pescoço. Mas, infelizmente, aquela sensação macia (delirante) não pôde ser sentida devido ao efeito da habilidade de banimento [Invisível], que continuava ativada.
Ah, que decepção! Rapidamente desativei minha habilidade..., mas esse não era o ponto.
— Ed! Ed! Por quê? Como!? Como você acabou... quero dizer, você está mesmo vivo?
— Calma! Calma! Primeiro de tudo, me solta... O que você quer dizer com "eu estou vivo"?
Tia me perguntou com os olhos cheios de lágrimas enquanto eu rapidamente me afastava dela.
— Porque depois que você saiu do grupo, ninguém ouviu falar de você voltando para lugar nenhum... Eu achei que você estivesse morto...
— Ah, entendi. Não, está tudo bem. Eu não voltei para a cidade imediatamente, sabe? Não ia pegar bem ter sido expulso do grupo do herói, então mudei meu nome e outras coisas para viver em segredo...
Desviando sutilmente o olhar, comecei a contar a história falsa que acabei de inventar. Na realidade, eu tinha apenas sido enviado de volta ao mundo branco, mas não podia explicar isso. Uma verdade inacreditável sempre perde para uma mentira convincente.
— Ah, entendi... Que bom, estou muito feliz...
Ah, eu não fiz nada de errado, mas por que me sinto tão culpado? É isso mesmo? Deveria xingar Deus por não me dizer se eu podia falar sobre as [Habilidades de Banimento] ou não com antecedência?
— Ah, sim. Aqui, um presente para você.
Tentando distrair Tia de seu choro, estendi a cesta de vime que segurava. Então Tia olhou para cima, pegou o conteúdo e inclinou a cabeça.
— São frutas de Oren? Fico lisonjeada, mas não temos um banho para lavá-las nesta casa.
— Um banho? Não, elas já estão descascadas e prontas para comer...
— Você está comendo frutas de Oren!? Elas são tão azedas. Tão azedas que fazem sua boca se contorcer assim!
Então, a boca de Tia se contraiu e seu rosto ficou tenso. Apesar de ser bem mais velha do que eu, a expressão dela era tão fofa...? Será que agora temos mais ou menos a mesma idade? Bem, não parecia nem um pouco.
— É por isso que geralmente as lavamos no banho, entendeu? Elas ficam com um cheiro tão bom e fazem a pele brilhar! Você tem certeza de que quer comer...?
— Não, não, não, essa aqui não é azeda. Experimente e veja se gosta.
— Ehhh~, ... bem, se insiste, vou dar uma mordida...
Ela pegou um punhado de frutas de Oren da cesta, descascou e colocou na boca. Então mastigou com cautela...
— O quê!?
— Hein, o quê!?
Quando seu rosto se contraiu, rapidamente descasquei um monte de frutas de Oren e comi. Claro, se ficassem maduras demais a ponto de criar sementes, ficariam azedas, mas... Isso deveria estar doce. ... Hm?
— O quê? Está simplesmente doce.
— Fufu~! Haha, te enganei!
— O quê!?
Tia riu ao ver minha expressão confusa. O olhar de satisfação no rosto dela era indescritivelmente irritante..., mas depois de 100 anos como adulto, eu não ficaria bravo com algo assim.
— Hahaha, Tia. Isso foi um pouco imaturo, não acha?
Mesmo se minhas têmporas tremessem, eu não ficaria bravo. Mesmo se alguém me cutucasse na bochecha, eu não ficaria bravo...
— O que foi isso!?
— Fufu, eu não me importo com isso. Eu costumava brincar assim com você o tempo todo, não?
— Acho que eu era quem sempre era enganado.
— Sério? Achei que eu estava sendo fofa.
— Como assim!? Você estava brincando com um adolescente ingênuo. O quanto eu...
— O quanto o quê?
— ....................... N-nada.
Tia era, por falta de uma palavra melhor, uma mulher muito próxima... Eu não tinha experiência com mulheres na época, então o contato casual e frequente com ela me deixava perturbado por dentro.
Mas Tia me tratava como uma criança, ou no máximo como um irmão mais novo, e eu fazia o meu melhor para me controlar e não "interpretar errado" as coisas. Ainda bem que Alexis, que era muito bonito, estava comigo, pois eu tinha certeza de que ela nunca se apaixonaria por mim.
— Você não mudou nada. Continua sendo a mesma mulher que me expulsou do grupo do herói.
— Isso...
Eu disse sarcasticamente, e a expressão de Tia nublou instantaneamente. Ops, acho que voltei a agir como uma criança. Isso não foi uma resposta madura.
— Não, desculpa. Não é que eu guarde rancor de você, Tia. Na época, eu era um peso para o grupo do herói, e parte do problema foi... culpa minha também.
— ........................... Me desculpe.
A história que se desenrolaria a seguir era uma lembrança dolorosa, mas eu precisava saber. O que aconteceu com o grupo depois que saí? Como Alexis morreu?
Quando perguntei baixinho, Tia fez uma careta de dor e virou o rosto. Ninguém gostaria de lembrar como foi ver seus amigos morrerem… muito menos quando foram os únicos a sobreviver.
Mas eu queria saber. Fui membro do grupo do herói, mesmo que por pouco tempo, e tinha o direito e o dever de saber o que aconteceu. Mas…
— Ainda é difícil para você? Não precisa falar agora...
— Não, não, não. Eu vou contar agora… Se eu não falar agora, tenho certeza de que vou me arrepender. Mas esse lugar está meio bagunçado, então podemos ir para outro cômodo? Posso preparar um chá e… bem, também gostaria de trocar de roupa.
— A-ah. Tem razão.
Desde que acordou, Tia estava vestindo um pijama rosa brilhante. O tecido parecia fino demais para esse quarto, mas considerando sua habilidade como usuária de espíritos, era natural que tivesse esse nível de sofisticação.
— Vou te esperar na outra sala.
— Un. Vou assim que terminar de me trocar.
Ao sair do quarto, sentei-me em uma das quatro mesas quadradas. Depois de alguns momentos de espera, Tia apareceu, vestindo sua habitual roupa de viagem verde-musgo.
Seus longos cabelos, parecidos com as bagas de Oren que acabamos de comer, não eram tão deslumbrantes quanto o ouro, mas transmitiam uma sensação acolhedora. Já seu corpo esguio, com seus 1,60m de altura… parecia mais magro do que antes? Acho que ela estava mais magra, mas não sou idiota o suficiente para perguntar a uma mulher sobre sua forma física.
— Pronto. Vou preparar o chá, pode esperar só mais um pouco?
— Claro!
— O que foi isso? Fufu~
Tia riu levemente da minha resposta exagerada e do gesto de bater no peito. Novamente, em poucos instantes, um conjunto de porcelana branca já estava sobre a mesa, e o aroma de chá recém-preparado se espalhava no ar.
— Hã? Esse chá é de...?
— Oh, você lembra? Muito bem, muito bem.
— Mmm.
Era o mesmo chá que Tia me serviu da primeira vez. Lancei um olhar frustrado para ela, que apenas se inclinou e deu um leve tapinha na minha cabeça. Em seguida, ela voltou a se sentar, tomou um gole do chá fumegante e soltou um pequeno suspiro.
— Bem, eu vou contar. Vou contar o que aconteceu conosco depois que você desapareceu…
Uma velha história com um final ruim, que não trouxe benefícios para ninguém. As palavras de Tia ecoaram suavemente pelo ar frio da sala, tão diferente do calor da palma de sua mão.
Comentários Box