— … Você está bem agora?
— Sim. Desculpa, Ed. Obrigada.
Tia fungou e riu, seus olhos vermelhos e inchados. A expressão em seu rosto era dolorosa de ver, mas mesmo assim, ela começou a me contar o restante da história.
— Eu saí de uma sala secreta no castelo de Notland. Os soldados do castelo me capturaram enquanto eu ainda estava desnorteada, e quando finalmente me acalmei, o rei ouviu o que havia acontecido e disse, com uma expressão muito assustadora: ‘Você não voltou. Vou fingir que o grupo do herói foi aniquilado ao cruzar a fronteira demoníaca.’ No começo, eu quase gritei com ele por dizer algo assim, mas quando vi o rosto triste do rei, perdi a vontade de fazer isso.
— Entendo. … Bem, sim. Consigo ver como isso seria uma decisão razoável.
A última ação de Alexis foi egoísta e errada. Se o Herói Alexis ainda estivesse vivo, ele poderia ter reunido novos companheiros, reformado o grupo do herói e partido novamente para derrotar o Rei Demônio.
No entanto, pelo bem do seu próprio orgulho, Alexis salvou Tia. Foi uma escolha que ninguém com poder deveria ter que fazer—ele colocou na balança o futuro do mundo, a vida de seus amigos e o seu próprio orgulho… e escolheu este último.
Mas… como alguém poderia negar o desejo de ajudar outra pessoa, mesmo ao custo da própria vida? Eu nunca conseguiria ridicularizar Alexis como um idiota egoísta por ter feito a pior escolha como herói e, ao mesmo tempo, agido mais como um herói do que qualquer um.
Entretanto, isso era porque eu tinha trabalhado com Alexis por um tempo… Mas o mundo não era tão compreensivo. Alexis fez uma escolha tola, e Tia foi salva em seu lugar. Havia muitas pessoas que a atacariam com palavras cheias de justiça e retidão, dizendo: "Teria sido melhor se você tivesse morrido." E, acima de tudo, a própria Tia sentia um forte remorso.
Se ele tivesse anunciado a sobrevivência de Tia, teria que lidar com o ódio tanto dele próprio quanto dos outros. Além disso, Tia, por quem Alexis arriscou sua vida para proteger, poderia ter tirado a própria vida. Com isso em mente, a decisão do rei foi muito apropriada.
— Hmm? Então você vive sozinha nesse lugar isolado…?
— Sim. Para esconder minha sobrevivência do mundo. Principalmente porque sou uma elfa. Cinco ou dez anos não mudam em nada a minha aparência, então a única coisa que eu poderia fazer era me esconder em um lugar completamente inóspito. Nem pude participar das três expedições…
— Expedições?
— Hã? Você não sabe? Para resgatar Alexis, as nações aliadas, lideradas por Nortland, enviaram um exército ao Reino Demoníaco. No entanto, eles não conseguiram romper a barreira nem uma vez e, pelo contrário, a batalha contra o exército do Rei Demônio piorou devido ao desgaste das tropas… Mas isso já faz tempo. Onde diabos você estava que nem ficou sabendo disso?
— N-Não, não! Bem, veja bem… era um lugar ainda mais isolado do que aqui, ou melhor, um interior tão remoto que não se recebe nenhuma informação…
— O que é isso?! Fufu… Haha, já conversei com você por tanto tempo que fiquei um pouco cansada.
— Desculpe por te forçar a lembrar dessa história dolorosa.
— Tudo bem. Eu queria conversar com você também. … Aliás, depois de todo esse tempo, como você chegou até aqui? Tem pouquíssimas pessoas que sabem onde eu estou, sabia?
— Ehh!? Não, na verdade, sabe, eu consegui um tipo de ferramenta mágica que me ajuda a encontrar pessoas. Então tentei procurar pelo Alexis e os outros, mas… não houve resposta deles…
— Então… Alexis e os outros estão realmente mortos, afinal.
Eventos não observados não podem ser confirmados. Tia nunca viu Alexis ou Gonzo morrerem, pois foi forçadamente transferida enquanto Alexis ainda estava vivo.
Mas agora, eu tinha vindo visitá-la em seu esconderijo, que ninguém deveria conhecer, e disse a ela que a bússola não reagiu. Isso significava que minhas ações haviam confirmado a morte deles.
— Droga… Eu… me sinto mal agora.
— Está tudo bem. Na verdade, me sinto até um pouco aliviada. Bem, eu já sabia que ambos tinham morrido naquela época. Então acho que agora eu só tenho que…
<<Guuuuuuuuuuuuu…>>
Tia estava prestes a dizer algo, mas suas palavras foram interrompidas pelo som alto de seu estômago roncando. Instantaneamente, seu rosto ficou levemente vermelho até a ponta de suas orelhas pontudas.
— Ha, haha… isso é, veja bem, um engano, tá? Só um errinho…
— Ei, ei. E então? Quer comer alguma coisa?
— Eh? Você vai cozinhar pra mim?
— Bom, sim. Tenho vários ingredientes comigo, então, desde que não seja nada absurdo, dá pra fazer.
— Oh, é mesmo? Hmm, mas sabe…
— Hmm? O que foi? Não precisa ficar tímida, tá?
— Não, é só que ultimamente não tenho tido muito apetite, então só consigo comer coisas leves, tipo sopas.
— O quê? E ainda faz seu estômago roncar assim?
— Ed, seu idiota!
Tia se inclinou levemente para frente e beliscou a ponta do meu nariz com os dedos. Que violência atroz! Mas não vou ceder tão fácil, viu?
— Que sorriso é esse?! Você está aprontando, Ed… Ah, já sei! Aquele ensopado que você fez pra mim algumas vezes antes! Pode fazer de novo?
— Ensopado? Sim, claro.
— Isso! Então, por favor.
— Sim, senhorita. Aguarde um momento, Ojou-sama.
— Umu! Boa sorte!
Tia sorriu feliz para mim enquanto eu me levantava e fazia uma reverência elegante. No fundo, tenho certeza de que ela ainda não estava completamente tranquila, mas o fato de estar agindo de forma mais animada, mesmo que fosse só de aparência, já era um bom sinal.
— Bem, se é assim, é melhor eu começar.
Fui até a cozinha, enfiei minha mão na caixa do Estrangeiro e comecei a pegar os ingredientes que havia guardado lá dentro. Vamos ver… Se for para um ensopado, precisaremos de leite, manteiga, farinha…
— Ei, ei, Ed? Suas mãos parecem estar desaparecendo, ou é coisa da minha cabeça?
— Hahaha, do que você tá falando, Tia? Como um braço humano poderia desaparecer?
— Claro que não! Mas ele fica sumindo e reaparecendo de vez em quando, e os ingredientes continuam surgindo do nada.
— Bem, eu estou cozinhando, então preciso de ingredientes. Ou o quê? Quer que eu cozinhe o ar?
— Não, não é isso! Mas esse não é o ponto!
— Hahhahahhaha!
— Mou~!
Eu comecei a rir, e nem consegui ouvir direito os resmungos de Tia atrás de mim. Pois é, agora eu era um mago dedicado à culinária. Nem pensei que explicar isso daria trabalho demais, ou que ela esqueceria se eu a alimentasse bem e depois deixasse tirar um cochilo.
Agora, vamos tirar esse leite da…
“GYAOOOOOOOON!”
— Hã!?
De repente, senti uma vibração vinda de fora da casa, como se algo grande e pesado tivesse caído. Um instante depois, um grito agudo e feroz ecoou.
“GYAOOOOOOO!”
— Mas que diabos!? Ah, ei, Tia!
Segui Tia para fora da casa o mais rápido que pude. E lá estava…
— Um dragão!?
“GYAOOOOOOO!”
Não havia dúvidas. Aquela criatura, com seu corpo coberto por escamas vermelhas e um rugido feroz, era nada menos que o rei das feras demoníacas—um dragão.
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