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Chapter 10 - Vol 1: Histórias Bônus: Rotina Matinal

O sol da manhã brilhava no banheiro enquanto nós dois escovávamos os dentes. Eu era uma cabeça mais alto que a Marie neste mundo, então, naturalmente, ficávamos posicionados com ela na minha frente. Escovar os dentes devia ser um hábito estranho para um elfo, mas ela parecia gostar da pasta com sabor de menta. Eu já estava acostumado a viver sozinho, então ver ela mostrando os dentes enquanto escovava me fez sorrir.

Meu estômago estava cheio depois do café da manhã, e a luz do sol era agradável e quente. O ar tranquilo da manhã também contribuía para que minhas pálpebras ficassem pesadas. Enquanto minha consciência começava a vacilar, ouvi o som de alguém segurando o riso. Quando abri os olhos, vi Marie pigarreando com uma expressão meio aflita. Ela rapidamente terminou de bochechar, então se virou para mim, com o rosto todo vermelho.

— V-Você! Como diabos conseguiu formar uma bolha de sono enquanto escovava os dentes?!

Depois de levar uma bronca, cuspi a pasta de dente e enxaguei a boca com água. Sequei o rosto com uma toalha e me virei para ela.

— O quê? Claro que não. Só fiquei um pouquinho sonolento, só isso. Se eu tivesse dormido de verdade, provavelmente já estaria no mundo dos sonhos.

Marie teve outro ataque de tosse e então me lançou um olhar afiado.

— Muito bem. Se é assim que você quer jogar, vou te dar o troco. É melhor se preparar.

Ah, certo... Mas eu não fazia ideia do que ela queria dizer com isso. Será que ela ia fazer uma bolha sair do nariz também? Não... Não faria isso, faria?

Na manhã seguinte, o clima estava tão agradável quanto antes, e comecei a escovar os dentes como de costume. Marie, por outro lado, parecia estar tramando algo, pois saiu sorrateiramente do banheiro. O que ela estava planejando? Ela realmente estava falando sério sobre o que disse ontem?

Enquanto eu pensava nisso, ela surgiu atrás de mim de repente. Olhei para ela pelo espelho. Seu rosto trazia um sorriso confiante, como se tivesse uma carta na manga. Então, ela levantou o dedo... e apertou o nariz bonito, deixando-o com o formato de um focinho de porco.

— Baaahaha! Era pra isso que era aquela pose confiante? Eu não acredito!

Pegou-me de surpresa, e eu não pude evitar cair na gargalhada. Marie ficou parada ali, o rosto explodindo em vermelho.

— O-O-O que você tá rindo?! Isso é vingança por ontem, entendeu? Você perdeu por rir mais do que eu!

Ela puxava meu casaco desesperadamente, mas, lamento dizer, o olhar lacrimejante de constrangimento dela só aumentava ainda mais o meu riso.

— Você é muito fofa, Marie. Fico feliz de começar meu dia com uma cena tão divertida.

— Nããão! Esqueça o que acabou de ver! Eu nem sabia o que estava fazendo!

A elfa bateu os pés no chão em uma mistura de frustração e vergonha.

Foi um momento bem divertido para mim, mas, desde aquele dia, um pedaço de papel surgiu grudado na parede com os dizeres: "Proibido rir enquanto escova os dentes."

Bochechei a água na pia e pensei comigo mesmo que nunca havia um momento monótono ao lado dela.


É Milho Assado, Srta. Elfa

— Ei, o que eles estão vendendo ali?

Virei quando ela me perguntou e vi um vendedor em uma barraca preparando algo, com uma toalha torcida enrolada na cabeça. A frase "comida antes das flores" veio à mente, mas barracas de comida com cerejeiras em plena floração ao fundo sempre me lembravam dessa época do ano. As pessoas tendiam a se reunir para admirar a beleza do cenário e, então, se tornavam clientes dos vendedores de comida. Expliquei isso à Marie, que riu.

— Acho que, não importa o mundo, todo mundo pensa do mesmo jeito. Eles deviam perceber que é um desperdício comer em vez de aproveitar uma vista tão linda — disse ela, com uma expressão que parecia dizer "Humanos tolos."

As cerejeiras ao nosso redor estavam em plena floração, e o sol da primavera aquecia o ambiente de forma agradável. As palavras de Marie eram bem convincentes, considerando que essa era a época mais encantadora do ano no Japão.

— Isso é verdade. Eu prefiro aproveitar as cerejeiras, que só florescem uma vez por ano, do que comer.

— Exatamente. Como elas só florescem por pouco tempo, então...

Ela interrompeu a frase no meio, provavelmente porque viu a comida. Milhos cozidos, de um amarelo vibrante, estavam sendo assados em uma grelha. Quando eram virados, as marcas de queimado do outro lado ficavam visíveis, o que deve ter sido uma visão estranha para uma garota de outro mundo. Seus pés pararam de se mover logo depois que ela ficou em silêncio.

Molho de soja e mirin foram despejados sobre os milhos, e uma fumaça branca subiu ao ar com um sszzzt! No mesmo instante, um aroma explosivo se espalhou pelo ambiente, cobrindo o milho levemente queimado com aquele perfume inconfundível. A pobre elfa não teve chance de se defender e ficou ali parada, boquiaberta, os cabelos prateados balançando com a brisa.

— Ah!

Não era justo. O saboroso molho de soja, o mirin adocicado e o milho tostado combinavam perfeitamente para atacar qualquer um desprevenido. As pessoas que visitavam aquele lugar não estavam lá para comer, mas o cheiro irresistível fazia com que esquecessem as flores e pensassem apenas em saciar o apetite. Para uma meio-fada como Marie, sem resistência a esse tipo de tentação, era uma armadilha mortal.

— Hm, Marie... Você pode comer enquanto admira as flores, se quiser, viu?

Minhas palavras não pareciam alcançá-la, pois seus olhos roxos estavam fixos no molho de soja se infiltrando no milho grelhado. Então, ela engoliu em seco, alto o bastante para eu ouvir.

— Ah, hã... Me desculpa, você disse alguma coisa?

— ...Isso se chama milho assado. Dizem que comê-lo enquanto aprecia as cerejeiras torna a experiência ainda melhor. Quer experimentar?

— Ohh, sim! Que ótima ideia! Acho que essa é uma excelente oportunidade para aprender mais sobre a cultura japonesa!

Isso foi bem mais entusiasmo do que eu esperava. O vendedor e eu quase rimos ao vê-la esperando com tanta ansiedade enquanto eu pagava pelo milho.

Assim que pegamos a comida e seguimos para um banco, ela me perguntou animada:

— Como se come isso? Por onde começo?

O brilho nos olhos dela ao dar a primeira mordida... Era como se a garota não tivesse a menor intenção de me deixar apreciar as cerejeiras em paz.

Enquanto mastigava, seus olhos se arregalaram e ela soltou um Mmmfff! de satisfação, balançando os pés como uma criança empolgada. Bem, pelo menos senti que o dinheiro gasto valeu muito a pena.

— Nossa, se eu ficar muito tempo neste país, com certeza vou engordar!

E, dizendo isso, ela deu mais uma mordida generosa no milho assado.

Foi assim que entendi o verdadeiro significado de "comida antes das flores". Olhei para o céu azul e para as cerejeiras em flor, enquanto ao meu lado ouvia um animado:

— Mmm! Delicioooso!

— Você gosta de chutoro, Srta. Elfa?

Olhando ao redor, eu estava em um restaurante aconchegante e bem iluminado, com frutos do mar girando em uma esteira rolante.

Marie tinha uma expressão de espanto enquanto movia a cabeça de um lado para o outro, então murmurou:

— Eu... não esperava esse tipo de "rotação".

— O que quer dizer? Aqui, vou pedir alguns peixes que recomendo.

Como havia prometido no outro dia, trouxe a Srta. Elfa para um sushi bar giratório para que ela pudesse aproveitar. Ela parecia um pouco inquieta sentada no balcão, mas eu tinha certeza de que se acostumaria assim que começássemos a comer. Não demorou para o sushiman trazer nossos pedidos.

— Aqui está o seu chutoro! Aproveitem.

Marie havia começado a aprender japonês há pouco tempo, mas sorri ao vê-la se esforçar para dizer um “obrigado.” O chef também sorriu satisfeito e nos disse:

— Sintam-se à vontade para pedir mais.

Mas a elfa parecia um tanto desanimada.

— Ainda estou nervosa com a ideia de comer peixe cru. Posso acabar pegando uma intoxicação alimentar...

— Apenas experimente. Confie em mim — eu disse, e ela assentiu hesitante.

Ela teve um pouco de dificuldade com os hashis, mas conseguiu mergulhar o chutoro no shoyu e levá-lo à boca.

Esse é um prato bastante popular no Japão, chamado “atum médio gorduroso.” Como o nome sugere, a carne gordurosa derretia na boca com apenas uma mordida leve. O peixe tinha uma textura sedosa, e não havia dúvidas de que se tratava de um atum fresco e da estação. Era repleto de óleos de alta qualidade e completamente livre de odores desagradáveis. À medida que se desfazia na boca, misturava-se ao arroz e sua doçura natural dominava as papilas gustativas.

A elfa ficou radiante. Sua expressão preocupada de antes desapareceu por completo, e agora ela aproveitava o sabor de olhos bem fechados.

— Mmm! Está derretendo na minha boca... Aaah! Como é que se chama mesmo? "Chutoro"? Certo, vou me lembrar disso!

Seus olhos brilhavam como se tivesse acabado de fazer uma grande descoberta, o que, por algum motivo, me deixou feliz. Parecia causar o mesmo efeito nas pessoas ao nosso redor, que nos observavam com sorrisos no rosto. Mesmo falando élfico, eles pareciam entender sua empolgação apenas pelas expressões faciais.

Uma funcionária que nos observava também sorriu e comentou:

— O otoro de hoje também está delicioso. Depende do gosto de cada um, mas ele é um nível acima do chutoro.

Marie inclinou a cabeça de lado, então traduzi para ela, e seus olhos se arregalaram.

— Uhm, e-eu gostaria de um desses, por favor!

Ela levantou o dedo indicador, o que fez com que eu e todos ao redor sorrissem com aquela cena adorável.

Quando o otoro chegou, seus olhos roxos brilharam ainda mais.

— Não acredito que existe algo ainda melhor que o chutoro... Bem, lá vou eu...

Ela colocou a peça de sushi na boca. Estava manejando os hashis melhor do que antes, e eu imaginei que seu progresso se devia à presença de uma comida tão saborosa. Então, de repente, ela parou de mastigar.

O atum gorduroso e marmorizado derretia na boca no instante em que se começava a comer, e conforme se desmanchava, enchia o paladar com umami. O frescor do peixe percorreu o corpo da elfa em um arrepio involuntário.

Vendo isso, comentei:

— Sabe, ainda existe um nível acima desse, chamado kama toro.

Ela sacudiu a cabeça de um lado para o outro, como se dissesse “Não, não, não! Me desculpe, mas isso seria demais para uma elfa como eu!”

Por algum motivo, a cena foi hilária, e eu tive muita dificuldade em conter o riso que ameaçava escapar.

No caminho de volta para casa, ouvi a palavra “sushi” mais vezes do que poderia contar...


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