Certa noite...
Um jovem da tribo Neko retornou para sua casa subterrânea. Estava tão escuro que nem mesmo a lua podia ser vista, mas para um meio-fera como ele, era como se fosse pleno dia. E, de fato, pendurado em sua cintura, havia um pássaro inteiro. Suas penas já tinham sido arrancadas no momento em que ele o pegou, é claro.
A tribo Neko era incrivelmente fraca como espécie. Não tinham chance contra monstros e evitavam humanos a todo custo. Por isso, faziam caminhos longos e tortuosos, bem longe de casa, antes de finalmente retornarem para sua caverna escondida. Se um predador descobrisse onde viviam, as consequências seriam desastrosas.
— Oh, você voltou. Esse é um belo pássaro que você conseguiu.
Ao entrar na caverna e chegar ao salão, seu avô o recebeu com um sorriso. O garoto riu, feliz com o elogio, enquanto seu avô acariciava sua cabeça.
Suas estruturas ósseas eram muito parecidas com as dos humanos para serem descritas como gatos bípedes, mas, ao mesmo tempo, eram animais demais para serem chamados de humanos com pelos. Agilidade era crucial na caça, então mesmo um adulto tinha o tamanho de uma criança humana.
Eles miaram enquanto esfregavam os rostos um no outro, trocando seus cheiros, e então começaram a preparar o jantar. Valorizavam aquela vida pacífica e sem grandes eventos — algo que sempre lutaram para proteger.
Mas, naquela noite, tudo estava prestes a desmoronar...
Enquanto se sentavam à luz trêmula de lanternas quebradas, após a refeição, o avô tirou uma pedra de sua bolsa. Aquele objeto era a coisa mais extraordinária que ele já tinha visto. A pedra brilhava em cores fascinantes conforme refletia a luz, e o garoto soltou um "uau", maravilhado.
O velho também tinha tomado vinho pela primeira vez em meio ano, então seu humor estava especialmente bom naquela noite.
— Bem, que tal eu contar uma história dos tempos antigos antes de dormirmos? Esta é a nossa história, passada de geração em geração.
O garoto, ainda mastigando um pedaço de carne de pássaro, espiou a mão estendida do avô, seus olhos brilhando ao notar o grande objeto ali. Não era muito bem lapidado para uma joia, mas, dependendo do ângulo, dava para enxergar através dela. Havia algo nitidamente antigo naquilo, exatamente como o avô dissera, e ele não resistiu a tocá-la com sua pequena pata de garras afiadas. No instante em que a tocou, um leve brilho emanou da pedra.
Vendo isso, o humor do avô melhorou ainda mais, e o idoso soltou uma risada cheia de rugas no rosto.
— Ohoho, parece que a pedra gosta de você. Sim, nosso povo já lidou com algo chamado Pedra Mágica no Pico de Ujah. Isso foi há centenas de anos.
— Pedra Mágica... Centenas de anos atrás...?
O garoto percebeu um tom amargo na voz do avô e olhou para cima. Antes de continuar a história, o velho empurrou a Pedra Mágica com sua pata peluda, mudando seu ângulo. Luzes azuladas se espalharam por toda a caverna, como estrelas no céu noturno. A visão inacreditável fez os pelos do garoto se arrepiarem de surpresa. Mas, conforme ele observava maravilhado, sua cauda, que tinha se eriçado, começou a baixar.
— Esta Pedra Mágica é particularmente especial. E, infelizmente, também foi ela que levou nossa vila à ruína...
O garoto se encolheu contra o avô ao ouvir aquelas palavras inquietantes, como sempre fazia quando sentia medo. Seu pequeno coração só começou a se acalmar depois que o velho acariciou sua cabeça.
— Dizem que um monstro despertou por causa dessa descoberta. Nossos ancestrais foram dispersos, expulsos de suas casas, e os humanos tentaram tomar as poucas Pedras Mágicas que ainda restavam.
A verdadeira causa da catástrofe ainda era desconhecida. No entanto, contava-se que os ancestrais haviam encontrado as Pedras Mágicas no subsolo e as levado para casa. Felizmente, o monstro não os perseguia depois que deixavam o Pico de Ujah. Desde então, a tribo Neko passou a viver longe da terra que antes era seu refúgio, passando os dias como se ainda estivessem fugindo de alguma coisa.
O garoto não conseguia tirar a história da cabeça, mesmo depois de se deitar. Seu quarto, feito de grama e pelos bem entrelaçados, aquecia rapidamente assim que ele se enrolava lá dentro. Mas a história que acabara de ouvir ficava repetindo em sua mente.
Por que seu avô ainda guardava aquela Pedra Mágica? E o que exatamente ela era?
Ela irradiava uma luz cheia de vida e parecia pulsar com energia quando ele a tocava. O desejo de tocá-la novamente, junto com a aterrorizante imagem do monstro, o impedia de pegar no sono.
Seus ancestrais haviam enfrentado um destino terrível... Mas esse mesmo destino os aguardava agora. Sobreviventes da tribo Neko costumavam ser alvos. Sua raridade e natureza tímida os tornavam valiosos no mercado de escravos, e alguns deles tinham aptidão para refinar catalisadores mágicos.
E esse garoto, em particular, era bastante talentoso...
A caverna foi imediatamente tomada pelo fogo. Os bandidos haviam rastreado sua localização e armado uma emboscada. A tribo Neko foi forçada a sair com a fumaça e rapidamente capturada. A Pedra Mágica, passada de geração em geração, caiu nas mãos dos invasores, e o idoso avô foi eliminado sem hesitação.
Tudo aconteceu em dez minutos. Nem sequer houve tempo para chorar.
O garoto foi acorrentado, selando o destino de toda a sua tribo...
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