Havia algumas coisas que vinham me incomodando ultimamente. A maioria delas envolvia Marie, a garota elfa que havia vindo para a desconhecida terra do Japão.
Os carros passando pelas ruas, os olhares curiosos e a comida—bem, a comida parecia estar tudo bem, mas dizem que um ambiente desconhecido pode causar estresse. Eu temia que ela estivesse se esgotando mentalmente e, um dia, nunca mais quisesse voltar.
Como obviamente eu precisava trabalhar, não podia estar sempre por perto para cuidar dela. Seria bom se ela tivesse uma amiga, mas socializar com os vizinhos viria depois.
— E a Marie é do tipo que guarda tudo para si em vez de reclamar... — murmurei para mim mesmo no banheiro.
Esse provavelmente era o maior problema. Eu não sabia se era algo dos elfos ou não, mas ela podia ser séria demais às vezes. Mesmo que eu perguntasse se algo a estava incomodando, era bem provável que ela não me contasse.
Esse, porém, não era o único problema. Havia uma diferença de aproximadamente meio dia entre o Japão e o mundo dos sonhos. A manhã de lá era a noite daqui, então cerca de doze horas se passavam sempre que dormíamos. Se eu dormisse às 19h, lá seriam 7h da manhã. Isso significava que ficávamos ativos por vinte e quatro horas seguidas. No entanto, nossos mundos pareciam ser independentes um do outro, pois eu me sentia completamente descansado ao acordar.
Ainda assim, me preocupava que esse estilo de vida pudesse estar causando estresse a ela. Para mim, não fazia a menor diferença, já que vivi assim por vinte anos e gostava disso, mas era uma vida completamente nova para ela, e cada dia que passava parecia negar todo o conhecimento que tinha antes, enquanto aprendia mais sobre a civilização moderna.
Por isso, não conseguia evitar ficar cada vez mais preocupado. Eu queria apoiá-la de todas as formas possíveis, é claro; não queria nada mais do que que ela aproveitasse sua vida aqui. Mas, ao mesmo tempo, comecei a perceber outro aspecto desse problema.
— Hmm, acho que no fim das contas, o que eu quero mesmo é que ela passe tempo comigo. Talvez essa seja a parte mais complicada de tudo isso.
Levantei-me e apertei a descarga. A água girou com um barulho de enxágue, e eu suspirei ao sair do banheiro.
— Não é como se eu estivesse interessada em brincar com bonecas nem nada. Já superei esse tipo de coisa há muito tempo.
Ela soltou isso do nada enquanto íamos às compras.
Isso me fez parar para pensar, considerando que ela estava sentada na calçada, olhando fixamente para uma boneca. Normalmente, essa seria uma frase dita por alguém que estivesse passando direto, sem demonstrar o menor interesse.
Era um domingo ensolarado, com nuvens longas que pareciam esticadas pelo vento. Estávamos em um distrito comercial local bem movimentado, mas parecia que o lugar havia ficado mais silencioso comparado a antes. Havia muitas áreas residenciais naquela parte do bairro Koto, e a área central tinha uma longa história, então os prédios mudavam com frequência. Uma loja com as portas fechadas se tornava um condomínio, e uma loja de conveniência surgia ali para atender aos novos clientes da região. Por conta disso, a maior parte da paisagem da minha infância já havia mudado.
Enquanto eu me perdia em recordações, a Srta. Elfa era atraída pela boneca, colocada ali para chamar a atenção dos transeuntes. Ela estava descaradamente encarando-a enquanto continuava a reclamar, agachada bem na frente, sem a menor intenção de sair dali.
Era um dia ventoso para a primavera, e ela parecia um pouco fria com sua roupa: uma camisa de colarinho, saia e meias altas. Mas quando olhei mais de perto para ver o que chamava tanto sua atenção, me deparei com uma boneca surpreendentemente fofa.
— O rosto é meio engraçado. Parece que tá emburrada, e os olhos estão desviando para o lado.
— Hmph. Pode ter te enganado, mas eu não caio tão fácil. Essa aí aprontou alguma coisa. Já vivi cem anos, então sei só de olhar nos olhos dela.
Eu estava um pouco cético quanto a isso, mas apenas assenti.
Era uma loja pequena, vendendo artigos variados. Eles nem chegavam perto da variedade de uma loja de departamentos, mas havia um motivo pelo qual ainda conseguiam se manter no mercado.
As pessoas geralmente não reparavam nas placas das lojas enquanto caminhavam. A maioria dos estabelecimentos era escura, e poucos se davam ao trabalho de espiar para ver o que era vendido ali.
Então, como atraíam clientes? Um dos métodos era usar cheiros apetitosos. Estimular o apetite era uma forma eficaz de afrouxar os bolsos das pessoas. Isso funcionava em vários casos, e geralmente era game over se conseguiam fazer Marie parar no caminho.
No caso de uma loja de variedades como essa, colocar um item interessante e chamativo na altura dos olhos era a estratégia ideal. Isso permitia controlar levemente o fluxo de pessoas e, aparentemente, era um jeito eficiente de capturar elfas selvagens pela cidade.
— Por que tá me olhando assim? Só estou tocando para sentir o material. Veja, é tão fofinha e macia que com certeza seria quentinha até nos dias frios.
Ela falou rapidamente, tentando se explicar, mas para mim parecia que estava arranjando desculpas.
Ao apertar a barriga da boneca, um barulho alto e esganiçado soou: “Papyuuu!” Eu não tinha reparado antes, mas parecia haver um botão ali que, ao ser pressionado, fazia a boneca soltar aquele som engraçado.
— AAHH! O-o quê, quema, quemaaa?!
A garota se assustou e quase deixou a boneca cair, mas conseguiu pegá-la no ar no último segundo.
Soltei um suspiro de alívio. Bati palmas, impressionado com sua reação rápida, mas ela me lançou um olhar irritado com seus olhos roxos.
— Ouviu isso? Essa coisinha também tá reclamando de você. Ele tá dizendo: “Kazuhiho, o Dorminhoco, vai congelar sozinho no frio da noite.”
Bem, ultimamente eu vinha me sentindo bem quentinho graças a ela. E, no fim, sempre acabava no outro mundo quando dormia, então o frio nem me incomodava.
Mesmo que esses pensamentos tenham passado pela minha cabeça, o que saiu da minha boca foi bem diferente.
— Tem certeza? Achei que ouvi outra coisa.
Me agachei ao lado dela. Já era primavera, mas o vento ainda estava forte. Quando toquei os dedos dela segurando a boneca, senti que estavam um pouco frios. Virei a boneca para encará-la e comecei a falar com uma voz mais aguda.
— Me leva pra dormir com você, e aí vai poder dormir bem quentinha. Que tal pedir pro Kazuhiho me levar também?
Os olhos da garota se arregalaram, e suas bochechas pareceram corar levemente. Ela já havia caído na armadilha armada pelos donos da loja. Não demorou muito para os cantos de seus lábios se curvarem em um sorriso.
Ela pigarreou e então olhou para a boneca em vez de mim.
— E-eu suponho que sim. Duvido que alguém vá te comprar com essa cara, então não me importo de pedir por você. Mas precisa se comportar enquanto estiver no nosso quarto. Entendeu?
Fiz a boneca acenar com a cabeça, depois a movi para o lado e encarei Marie. Ela fez um biquinho e desviou o olhar, quase me fazendo cair na risada. Ela não percebia, mas estava fazendo exatamente a mesma expressão da boneca.
— E assim, caminhei pelo distrito comercial com Marie enquanto ela continuava brincando com a boneca. Ela ainda fazia a mesma cara emburrada da boneca, e eu estava tendo dificuldades para segurar o riso.
Parecia que Marie gostava de personagens com um pouco de atitude, algo que percebi quando escolhemos livros para ela. Surpreendentemente, parecia que ela mesma nem tinha percebido isso.
— Então, você se importa de me acompanhar para escolher algumas roupas?
— Mas eu não preciso de tantas roupas diferentes. Eu gosto dessas roupas, e o pijama é tão confortável na minha pele. Acho que não vou sair tanto, então ficarei bem com um pouco de cuidado.
Balancei a cabeça. Mesmo que ela não se importasse, eu não podia deixar uma garota jovem como ela viver com apenas uma roupa. No outro mundo, ela passava a maior parte do tempo usando um manto, então provavelmente estava acostumada a se virar com o que tinha. Mas eu sentia que ela tinha algum interesse por roupas. Havia muitos designs bonitos na primavera, e eu me lembrava de vê-la observando os tecidos coloridos nas vitrines das lojas.
— Por que você insiste tanto em ser econômica, Marie? Eu realmente não me importo.
Ela me olhou como se a resposta fosse óbvia.
— Porque eu percebi que você não é rico. Tive a impressão errada quando vi o quão alto era o seu quarto, mas não posso pedir demais se sua renda é tão baixa.
Ah, então era essa a razão dela. Mas se esse fosse o caso... Meus olhos foram em direção à boneca, mas ela rapidamente a escondeu atrás das costas.
Ela sempre gostou de fazer compras. Parecia que ela estava sendo atormentada por todas as tentações ao redor, por mais que tentasse se segurar. Isso só me fez querer resolver seu dilema.
Sim, era melhor lidar com essas coisas o quanto antes. Caso contrário, ela poderia acabar pegando o mau hábito de reprimir tudo.
— Entendi. Então, que tal aprendermos sobre compras hoje?
Ela me olhou com desconfiança.
— Aprender... sobre compras?
Assenti. O problema agora não era apenas ser econômica demais, mas o fato de que ela não entendia sobre dinheiro. Enquanto ela vivesse no Japão, seria útil saber o que era necessário e o que não era.
Chegamos à loja de departamentos, que para nós parecia mais um lugar de aprendizado do que um centro de compras.
Primeiro, em vez de irmos para uma loja de roupas, descemos até o subsolo. Era a primeira vez que ela via uma escada rolante, e ela respirou fundo algumas vezes antes de subir. Depois, grudou em minhas costas e ficou encarando os próprios pés durante todo o trajeto.
— Ela se moveu sozinha, exatamente como você disse! Isso foi divertido! — disse ela com um sorriso ao descer.
Ela ainda segurava a boneca nas mãos, então talvez essa hóspede inesperada estivesse deixando-a mais animada. Parecia que comprá-la havia sido a escolha certa, de certa forma.
— Há muitos tipos de coisas assim neste mundo. Sem elas, prédios maiores seriam muito inconvenientes para andar, e isso afastaria os clientes.
— Entendi. Eu achei este lugar grande demais, mas agora faz sentido. No meu mundo, o distrito comercial onde estávamos antes era o tamanho normal.
Ao explicar essas coisas, o “negócio estranho que se move” virou “um objeto conveniente colocado ali para atrair clientes”. Ela entendia melhor quando eu explicava a lógica por trás do uso, em vez de apenas os detalhes estruturais.
Era domingo, então decidi passar o dia ensinando a ela mais sobre a vida cotidiana e o conhecimento comum deste mundo. Talvez isso ajudasse a aliviar algumas das preocupações que tive pela manhã.
Comecei explicando coisas como portas automáticas, elevadores e banheiros, assim como antes, e a fiz experimentar cada um deles. Os banheiros, em particular, tinham descarga automática e secadores de mãos, coisas boas para ela aprender. Seus olhos estavam arregalados quando voltou, e quando perguntei “Você se surpreendeu?”, ela respondeu “Sim!” e correu até mim. Então, abriu as mãos como se tivesse acabado de ver algo incrível.
— Ele soprou um vento tão forte! E foi como se... minha pele estivesse sendo apertada. A sensação entre meus dedos fez cócegas. Achei que ia gritar!
Ah, então foi esse o “nyaaa!” que ouvi vindo do banheiro feminino...
Pensei comigo mesmo que foi uma boa ideia trazê-la quando não havia ninguém por perto. Tirei um lenço do bolso e limpei o excesso de umidade das mãos dela.
— Esses dispositivos servem para secar a água das mãos. Uma toalha ou algo assim não seria higiênico, já que tantas pessoas a usariam, então temos máquinas que não entram em contato direto com as mãos das pessoas.
— Higiênico... Eu vi tantos cartazes no Japão falando sobre lavar as mãos e enxaguar a boca. Por quê?
Essa era uma pergunta um pouco complicada. Provavelmente era melhor responder com calma na próxima vez que fôssemos à biblioteca ou algo assim.
Chegamos ao subsolo, então decidi mostrar a ela a seção de alimentos. No entanto, não estávamos lá para comprar nada, só para olhar.
— Ah! Aqui embaixo é tão iluminado! Frutas e vegetais... Eles vendem comida aqui?
— Isso mesmo. Muitas pessoas fazem compras nesses lugares; eles são essenciais para o nosso dia a dia. Os alimentos mais saborosos e raros costumam ser mais caros.
Cogumelos matsutake eram uma exceção, mas... bem, acho que isso era questão de gosto. Eu mesmo nunca tinha comido matsutake direito.
Foi ali que decidi ensinar a ela sobre o dinheiro que eu usava no dia a dia. Contei meu salário aproximado e quanto dele era gasto com comida. Depois, subtraí os custos médios de alimentação entre nós dois da minha renda.
— Existe outro custo de vida chamado “despesas com aquecimento e iluminação”. Luz, água e até gás contribuem para esse custo.
Parece que ela não tinha noção de que tudo custava tanto dinheiro.
Pensando bem, uma vez que os sistemas de água e esgoto eram estabelecidos na Idade Média, eles geralmente eram deixados como estavam. Talvez cobrassem impostos para manutenção, mas só isso.
De qualquer forma, subtraí esses custos do meu salário, junto com minha conta de telefone, despesas com manutenção do carro e impostos.
— Eles cobram dinheiro até pela água tirada da natureza? Isso é absurdo. Ninguém fica bravo com isso?
— Hmm, não sei como era antigamente, mas a água no Japão é muito bem tratada. Acho que não há muitos países onde você pode beber água limpa diretamente da torneira.
— O quê?! E-Então o que essas pessoas fazem quando querem água?
— Elas compram em lojas. Sai mais caro assim, é claro.
Ela piscou.
Havia também os custos de construção e manutenção de represas para levar água a cada residência, mas decidi contar isso a ela na próxima vez que fôssemos à biblioteca. Ela era muito melhor do que eu quando se tratava de memorização e cálculo, então a explicação rápida que dei enquanto subíamos a escada rolante já foi suficiente para ela entender.
Enquanto brincava com sua boneca com as duas mãos, parecia que estava processando a informação que eu acabara de lhe passar. Respondi algumas perguntas e, por fim, disse o que vinha querendo dizer.
— E o que sobra é o dinheiro que posso gastar no mês. Mas, claro, preciso guardar uma parte disso.
— Hmm, então é assim que funciona. Estou surpresa que existam tantos detalhes na administração do dinheiro... Mas sinto que agora entendi.
Perguntei o que ela queria dizer, e ela respondeu:
— O estilo de vida das pessoas é gerenciado pelos seus ganhos e despesas. Isso pode não soar muito agradável, mas vendo todas essas instalações como parte do seu dia a dia aqui, parece funcionar muito bem.
Parecia que ela estava entendendo muito bem. Um assalariado comum como eu não conseguia compreender toda a economia japonesa, mas eu tinha certeza de que mesmo aqueles que a gerenciavam só tinham uma visão geral e vaga do sistema.
— Então, chegamos ao nosso destino: a área de roupas. Agora que você aprendeu sobre dinheiro, vamos dar uma olhada nas lojas daqui.
— Hehe, isso está ficando divertido. Você é bom ensinando. Acho que você seria um professor excelente.
Hã, sério?
Parecia um elogio, então a agradeci.
A área de roupas tinha várias seções, como luxo e não luxo, além de divisões por faixa etária. Havia muitas lojas caras, mas Marie fez um "X" com os dedos e disse coisas como:
— Os relógios expostos nessa seção são muito caros.
Porém, diferente de antes, ela chegou a essa conclusão depois de discutirmos sobre os meus fundos disponíveis.
— É assim que se administra dinheiro. Acho que é mais importante pensar no que você vai ou não comprar, em vez de simplesmente decidir não comprar nada.
Por exemplo, se eu realmente amasse aquele relógio de antes, poderia comprá-lo fazendo um orçamento e economizando por alguns meses. Era algo alcançável, desde que eu decidisse o que queria ou não queria.
— Entendi. Então é preciso escolher apenas o que é necessário, sem desperdiçar dinheiro — disse ela, acenando com a mão da boneca.
Estava tudo bem; aquela boneca não contava como desperdício. Ela tinha um papel importante: entreter a Srta. Elfa de agora em diante.
De qualquer forma, consegui ensinar a ela sobre compras, um conhecimento necessário para viver no Japão. Enquanto Marie escolhia roupas, parecia que começava a entender e aceitar o Japão um pouco mais do que antes.
Entramos em um café para descansar. Diante dela estava a visão incomum de um café, e ao lado dela estavam suas sacolas de compras.
Eu estava colocando açúcar e leite na xícara dela quando senti um toque no dorso da minha mão. Olhei para cima e vi a elfa, com as orelhas escondidas sob um gorro de tricô, sorrindo para mim.
— Obrigada por comprar roupas tão maravilhosas para mim. Aquele vestido com rendas deve ser útil quando a estação mudar. E foi tão barato!
Passamos um bom tempo na área de roupas escolhendo juntos o que precisávamos. Os funcionários da loja vieram nos ajudar, o que nos pegou de surpresa. A aparição de uma garota fofa como Marie era um evento especial para eles, e eles escolheram várias roupas que ficariam bem nela sem nos pressionar a comprar nada. Eles até responderam às perguntas dela sobre as estações do Japão e quando cada peça de roupa poderia ser usada, o que achei muito útil.
— Sem problemas. Fico feliz que conseguimos comprar algumas roupas de primavera para você. Afinal, no começo você dizia que não precisava de mais roupas.
— Era natural, já que eu não entendia a situação. Eu não me importaria se você fosse rico... Bem, provavelmente ainda me importaria.
Ela tinha razão. Eu também não ficaria confortável pedindo a alguém que comprasse um monte de coisas para mim sem saber o valor delas. Nesse sentido, fiquei feliz que ela agora tinha uma visão completa e conseguia escolher o que precisávamos.
Enquanto eu pensava nisso, algo pequeno surgiu por debaixo da mesa. Seus lábios estavam projetados para a frente, e seus olhos desviavam para o lado. Então, com uma voz aguda, falou comigo.
— Olá, Kazuhiho. Obrigada por me ensinar tantas coisas hoje.
— Hehe, de nada. Espero que tenha sido útil.
— Claro! Foi muito divertido, e Marie adora suas roupas novas. Além disso, ela parece estar gostando da vida aqui no Japão. Sabe, você é meio avoado, mas consegue ser bem maduro quando precisa.
Queria que ela parasse, porque ver Marie projetando os lábios enquanto fazia ventriloquismo quase me fez cuspir o café de tanto rir. Ela já era fofa demais para lidar.
Enquanto eu ria sozinho, a boneca começou a dar tapinhas na minha cabeça. Levantei as mãos em rendição, e os lábios dela se curvaram em um sorriso. Ver um sorriso daqueles me fez sentir o coração se aquecer. Emoções felizes pareciam fluir dela para mim através dos olhos. Não consegui evitar encarar, apesar da minha idade.
Para ser sincero, ela me pegou de jeito. Não percebia o quão forte era seu impacto, e eu fingia não ser afetado, mas só estava conseguindo me segurar porque tinha vinte e cinco anos.
Limpando a garganta, cutuquei a boneca fofinha com o dedo.
— Você realmente gosta muito dele, não é?
— Sim, eu amo ele. É um pirralho tão adorável que não consigo tirar os olhos dele.
Foi uma resposta tão sincera que nós dois caímos na risada de repente. Já fazia um tempo desde que eu sentia uma alegria tão genuína. Tudo isso só por sair para comprar roupas com ela... O tempo que eu passava com ela nos meus dias de folga era realmente especial.
Já estava escuro quando saímos, então decidimos pegar o caminho mais longo de volta para casa.
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