Allusia Sitrus
O Mestre Beryl é realmente forte.
No caminho de volta da taverna, me espreguicei, deixando que o vento fresco da noite aliviasse a temperatura do meu corpo ainda quente. Quando deixei meus pensamentos vagarem, eles naturalmente voltaram aos acontecimentos da tarde.
— Isso foi uma exibição esplêndida, Mestre.
— Aaah, obrigado, Allusia.
A batalha simulada começou de repente por causa das acusações infundadas de Henbrits, mas no fim das contas acabou sendo algo positivo. Afinal, o Mestre Beryl pôde demonstrar sua força para todos. A luta durou dez minutos — dez longos minutos. Depois, me aproximei do Mestre Beryl com uma toalha na mão. Ele estava suando bastante, mas sua respiração estava perfeitamente controlada, e dava pra ver que ainda tinha muita energia de sobra. Em contraste, os ombros de Henbrits subiam e desciam pesadamente.
O combate foi praticamente unilateral. Eu digo “praticamente” porque, embora o Mestre Beryl não tenha levado um único golpe, ele sempre contra-atacava depois de Henbrits. Antes de cada investida, ele parava por um instante para observar e entender perfeitamente a situação. Considerando os pontos fortes do meu mestre, esse estilo de reagir sempre ao oponente não era nenhuma surpresa.
Desde a primeira estocada, passando por cada golpe ao longo dos dez minutos, o Mestre Beryl lidou com tudo com total precisão. Ele fez questão de confirmar visualmente cada movimento do adversário, e sua velocidade de reação e visão cinética estavam muito além das habilidades de um espadachim comum. As outras técnicas dele também eram bem avançadas, mas nesses dois aspectos, meu mestre definitivamente fugia do padrão. Eu era incapaz de reagir de forma tão perfeita e constante quanto ele. Ele simplesmente era um gênio que realizava feitos incríveis com a maior naturalidade. Esse era o grande homem chamado Beryl Gardinant.
— Bom, pelo menos parece que tem algumas coisas que posso ensinar aos cavaleiros. Que alívio.
— Lá vem essa humildade de novo. Todo mundo tem muito a aprender com você, Mestre.
Mas o próprio homem em questão era sempre tão modesto, às vezes parecia até não ter consciência da própria força. Era até cômico alguém com tamanho nível acreditar que era apenas “mediano” como espadachim, mas preferi não apontar isso.
Ele não se gabava da força que tinha, nem bancava o humilde só da boca pra fora. Já tinha feito as pazes com seus próprios limites e agora levava tudo com leveza. Gosto disso nele.
Mesmo agora, ainda havia muito que eu queria aprender com ele. Esse sentimento dentro de mim não mudou desde a infância, quando ele me presenteou com a espada de despedida.
◇
Lembro com clareza daquele dia, anos atrás — parecia ao mesmo tempo um sonho distante e algo que tinha acontecido ontem.
— Allusia, quero te dar isto.
— O que é...?
Estudei esgrima com o Mestre Beryl por quatro anos, e minha força crescia a cada dia, o que nunca deixava de me surpreender. Mesmo assim, eu ainda não conseguia alcançar o auge dele — a lâmina onisciente, movimentos que eliminavam todo desperdício, uma postura que era a própria encarnação da naturalidade. Eu ainda era muito inexperiente para entrar no mesmo patamar do Mestre Beryl.
Apesar de estar certa de que ainda estava longe do nível dele, naquele dia, ele me entregou uma espada de despedida — um presente que simbolizava que eu havia aprendido tudo o que ele tinha a ensinar.
— Você já ficou forte o bastante. Não tenho mais nada pra te ensinar.
— Não pode estar falando sério, Mestre! Ainda tenho tanto pra aprender!
Fiquei genuinamente feliz por ele reconhecer meu progresso. No entanto, se alguém me perguntasse se eu estava satisfeita com minhas habilidades atuais, eu responderia sem hesitar que não. Se o nível de habilidade pudesse ser medido em altura, eu mal chegaria aos tornozelos dele. Como eu poderia ter dominado tudo o que ele tinha a ensinar?
— É claro que cabe a você decidir se quer sair do dojo. Mas, sinceramente, não tenho mais nada pra te ensinar. Espero que entenda isso.
Percebi um leve traço de culpa na voz e na expressão dele, mas também havia sinceridade.
Naquele momento, tive uma revelação. Sim. Muito provavelmente, esse homem não tem consciência da própria força. Tanta humildade se empilhou que ele acabou decidindo, por conta própria, quais eram seus limites. Pode parecer rude dizer isso, mas as habilidades do Mestre Beryl eram destinadas a muito mais do que ser apenas um instrutor num dojo do interior. No entanto, num ambiente tão limitado, ele nunca teve a chance de perceber isso.
— Entendido... É uma honra aceitar.
E assim, deixei o dojo de Beaden, partindo com o objetivo de preparar um palco mais apropriado para o brilho dele.
Naturalmente, meu alvo passou a ser a Ordem de Liberion. Eles eram o maior símbolo da esgrima no país, e até onde eu sabia, esse seria o melhor lugar para o Mestre Beryl brilhar.
— Vamos iniciar o exame prático!
Uma voz severa ecoou pelo salão, vinda de alguém que parecia ser um instrutor da Ordem. Primeiro vinham os duelos simulados entre os candidatos. Depois, os que se destacavam eram escolhidos para enfrentar o próprio instrutor. Era assim que avaliavam nossa habilidade prática.
Na minha opinião, a entrada na ordem foi rápida até demais. Todos os meus oponentes eram lentos demais. O Mestre Beryl é três vezes mais rápido do que qualquer um ali. Até o tal “especialista” que servia como instrutor tinha só metade da velocidade dele. Eu estava tão acostumada aos reflexos relâmpago do Mestre Beryl — sempre reconhecendo a habilidade dele como o auge da esgrima — que aquele teste foi apenas um pequeno obstáculo.
No fim, tirei nota máxima na prova prática e na teórica e me tornei membro da Ordem de Liberion logo após deixar Beaden. Muita coisa aconteceu entre esse dia e minha ascensão ao posto de comandante dos cavaleiros. Como a ordem era uma organização sob controle direto da monarquia, só ter habilidade com a espada não bastava pra subir de cargo. Por sorte, eu tinha uma certa resistência à politicagem graças aos meus pais, que eram comerciantes.
— Hee hee, ele continua o mesmo de sempre.
Me deixei levar pelas lembranças do passado enquanto lia a carta de resposta dele. Mesmo depois de sair de Beaden, eu mandava cartas pro Mestre Beryl com uma certa regularidade. Era mais por vontade pessoal de mantê-lo informado sobre minha situação, mas também pra manter o vínculo entre nós.
Ele sempre respondia. Às vezes eu ficava preocupada que ele me visse como uma mulher pegajosa e vergonhosa, mas pelo tom das cartas, não parecia estar se irritando comigo. Ainda assim, isso era algo que só daria pra saber perguntando diretamente. E pra isso... bem, falta coragem.
A humildade do Mestre Beryl não mudou nem depois da minha formatura. Por outro lado, é exatamente isso que o torna quem ele é. Fechei os olhos e imaginei ele sorrindo, com uma espada nas mãos. Meus dedos naturalmente tocaram a lâmina na minha cintura.
— Finalmente consegui a aprovação, Mestre.
Espere só mais um pouco. Preparei um palco à altura da sua habilidade.
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