Entre no Discord e faça parte da comunidade!

Chapter 29: É uma iguaria.

 Capítulo 29 – É uma iguaria.

Desde que me tornei discípulo da vampira Judite, minha vida tomou um rumo bem estranho.

Ela criou vários esconderijos dentro da masmorra e, dependendo do humor do dia, escolhia em qual deles dormir. No entanto, cada esconderijo tinha apenas uma cama, então dormíamos separados em esconderijos diferentes.

Quanto aos hábitos alimentares dela, sendo uma vampira, ela preferia sangue. Mas não precisava ser necessariamente sangue humano; aparentemente, ela conseguia apreciar sangue de monstro do mesmo jeito. Então, depois de caçar monstros, ela drenava o sangue deles e bebia.

— Pronto, o sangue está pronto.

Desde que virei discípulo dela, meu trabalho passou a ser fornecer sangue de monstro. Eu cuidadosamente espremia a carne para tirar o sangue, colocava numa xícara de chá e oferecia a ela.

— Poxa, você sempre tem esse trabalho todo...

Na primeira vez que vi, percebi que o que havia na xícara dela não era chá, e sim sangue. Pelo visto, Judite tinha uma preferência por beber sangue em xícaras de chá.

— É uma iguaria, de verdade.

Foi o que ela disse, e, segurando a alça da xícara, a esvaziou de uma vez. Seu rosto mostrava uma expressão de satisfação. Sinceramente, eu nunca tive vontade de beber sangue, mas ela fazia parecer uma delícia.

— Kiska, o jantar de hoje tá pronto?

— Acabei de grelhar um pouco de carne de monstro.

A vampira Judite aparentemente consegue manter a saúde só bebendo sangue. No entanto, quando não faz uma refeição de verdade, ela sente fome.

— É um bife feito com carne de monstro.

— Parece igual ao que comemos ontem.

— Fazer o quê, né? Estamos ficando sem temperos. De qualquer jeito, acaba sempre ficando igual.

Na masmorra, carne de monstro não era um problema, mas a falta de temperos era. Por isso, a comida era sempre bem simples: grelhava-se a carne, colocava um pouco de pimenta e pronto. Usávamos pedras mágicas — que podiam ser obtidas facilmente dos monstros — como combustível pro fogo.

— Ah, também derrotei uma Dríade de Árvore Rastejante hoje, então tem salada.

— Eca, não posso dizer que gosto de saladas feitas com Dríades de Árvore Rastejante.

— É necessário; você precisa comer vegetais pra evitar desnutrição.

— Mas eu sou uma vampira. Nutrição não importa pra mim.

— Bom, nesse caso, eu como sozinho.

Na verdade, parecia que vampiros não tinham problemas nutricionais enquanto bebessem sangue. Porém, para um humano como eu, comer vegetais era essencial. No ambiente fechado da masmorra, a dieta acabava sendo sempre baseada em carne de monstro. A solução pra isso era a Dríade de Árvore Rastejante, a salvadora que trazia um pouco de variedade.

As Dríades de Árvore Rastejante tinham muitas folhas nos galhos, o que fornecia as vitaminas essenciais que minha dieta normalmente não incluía. Mas essas folhas eram extremamente amargas e desagradáveis. De vez em quando, encontrávamos uma que dava frutos. Se achássemos uma dessas, isso acabava em disputa com a Judite. Já tive uma experiência horrível por causa disso.

— Não tem um gosto bom mesmo, né?

— É por causa da falta de temperos...

Se tivéssemos um pouco de queijo ou molho de tomate, nossa culinária poderia ser bem mais variada.

— Se pudéssemos sair da masmorra, talvez conseguíssemos os temperos que faltam.

Judite já tinha comentado que não saía da masmorra havia quase 50 anos. Por causa disso, os móveis dos esconderijos tinham sido adquiridos há 50 anos e estavam meio detonados.

— Mesmo assim, sair da masmorra, do jeito que está, é bem complicado.

— Antigamente, a Judite-sama podia entrar e sair da masmorra, né?

— Sim, é verdade. Dentro da masmorra você nunca vê o sol, e o ambiente úmido é ideal pra vampiros.

— Mas por que você não pode sair da masmorra agora?

— Alguém destruiu o círculo de teleporte.

— Um círculo de teleporte...

De repente, o círculo de teleporte que tinha sido a razão de eu vir parar nesta masmorra me veio à mente. O círculo conectava o lado de fora à masmorra inteira, mas era um caminho de mão única — você não podia usá-lo para sair.

— Havia um círculo de teleporte secreto que me permitia ir e vir livremente entre o interior e o exterior da masmorra. Eu usava ele pra sair quando queria.

— Tinha algo assim?

— Sim, era um círculo secreto que só eu conhecia. Mas, há 50 anos, alguém o destruiu. Por causa disso, acabei presa dentro da masmorra desse jeito.

— É realmente tão difícil assim derrotar o chefe da masmorra e sair?

— Sim. Eu não consigo derrotá-lo sozinha.

Então, nem mesmo uma vampira como a Judite consegue vencer esse monstro. Fico imaginando que tipo de criatura ele é...

— Você tem alguma ideia de quem pode ter destruído o círculo de teleporte?

— Não... não tenho a menor ideia.

Judite murmurou com um tom resignado. Alguém havia destruído o círculo de teleporte. Qual teria sido o motivo?

— Não, na verdade, talvez eu tenha uma pista — disse ela, como se estivesse se lembrando de algo.

— Suspeito que tenha sido a pessoa que selou Agetha nesta masmorra. Para garantir que ela não conseguisse escapar, destruíram o círculo de teleporte só por precaução.

Assim que o nome Agetha saiu da boca dela, meu coração começou a bater mais rápido.

— A senhora conhece a Agetha, Judite-sama?

— …Na verdade, estou surpresa que você saiba quem é Agetha. Os feitos dela são bem antigos.

Ela me olhou com uma expressão curiosa.

— Ouvi alguns rumores. Dizem que uma garota foi selada nessa masmorra.

— Bom, ela é realmente uma figura notável.

— É mesmo...?

— Sim, ela é a heroína que derrotou o Rei Demônio.

Ao ouvir essas palavras, fiquei chocado. A história do Rei Demônio sendo derrotado por uma heroína mais de cem anos atrás é um conhecimento comum entre os humanos. Mas... nunca ouvi falar de uma heroína chamada Agetha. Na história que conheço, quem derrotou o Rei Demônio foi um herói chamado Eligion. E não sou só eu — o nome Eligion é famoso entre todos os humanos desse mundo.

— Kiska, aconteceu alguma coisa?

— Não, é só que... a história que eu conheço é diferente. No meu país, dizem que o Rei Demônio foi derrotado por um herói chamado Eligion.

— Eligion? Nunca ouvi esse nome... Bom, dizem que houve vários heróis, então talvez ele tenha sido um deles.

— A propósito, por que a Agetha está selada nesta masmorra?

Era algo que eu já vinha me perguntando há um tempo. Por que ela foi selada aqui?

— Isso eu não sei direito. Mas acho que deve ter sido por conta de conflitos entre humanos, e ela acabou sendo selada por algum motivo.

Bom, Judite é uma vampira afastada do mundo humano, então faz sentido ela não saber os detalhes.

— Mas tenho um conselho pra te dar. Por favor, nunca tente romper o selo dela. Nem consigo imaginar o que poderia acontecer.

Eu não fazia ideia do motivo pelo qual a vampira Judite dizia aquilo.

— Entendido. Não farei nada pra libertá-la.

Assenti com a cabeça.


Chaper List:

Comentários Box