Capítulo 42 — Devo alimentar você com os aldeões também?
Depois de deixar a Agetha para trás, fui até o esconderijo no calabouço para descansar um pouco.
Tive o cuidado de verificar se a vampira Judite não estava usando o lugar e então entrei.
— Mestre, qual é o plano a partir de agora?
Enquanto eu me sentava, o marionetista puxou conversa.
— Bem...
Assenti com a cabeça e fiquei ali, viajando nos pensamentos.
Tô exausto... Nem quero pensar em nada, de tão cansado que tô.
— Primeiro, precisamos encontrar uma forma de sair desse calabouço. E também temos que pensar num jeito de você virar humano.
— Oh, você vai mesmo pensar numa forma de eu virar humano?
— Claro.
Pra ser honesto, não faço ideia de por que o marionetista simplesmente desistiu de me devorar.
Mas uma coisa é certa: a situação atual até que não tá ruim. E, pra garantir que ele não mude de ideia, eu preciso continuar demonstrando que tô disposto a cooperar.
— Você tem alguma ideia de como virar humano que não envolva comer humanos?
— Hmmm, na verdade, não.
— Entendo...
Queria que ao menos existisse alguma pista, mesmo que fosse mínima.
Então comecei a pensar.
Fui manipulado por essa espada parasita, o marionetista, por bastante tempo. Por isso, se houver alguma dica, talvez esteja em algum lugar dessa experiência...
— Ei, marionetista, você já parasitou muitas pessoas antes, né?
— É, isso mesmo.
— Pode me dizer como era a sensação quando fazia isso?
— Bom, não me importo.
Ele respondeu, concordando sem hesitar.
— Eu consigo controlar mais ou menos livremente a pessoa que possuo...
O que ele contou era parecido com o que aconteceu quando ele me possuiu numa linha do tempo diferente.
Mas tinha um motivo específico pra eu ter pedido esse relato.
— Então, quando você mata monstros, cresce de tamanho e a influência sobre a pessoa possuída aumenta, certo?
— Sim, é isso mesmo.
— Isso significa que dá pra interpretar que, quanto mais monstros você mata, mais perto você chega de se tornar humano?
Em uma linha do tempo diferente, quando ele me possuía, lembro que cada vez que eu matava um monstro, ele crescia, até que eventualmente fui consumido por ele.
Por isso pensei que matar mais monstros talvez o deixasse mais próximo de ser humano.
— Bom, isso é impossível.
— Por que tem tanta certeza assim?
Fiquei frustrado com a resposta rápida do marionetista.
Eu tinha pensado bastante nisso, afinal.
— Quanto mais eu mato monstros, mais eu cresço. Cresço o suficiente pra engolir um ser humano.
De fato, agora que ele falou assim, até que faz sentido.
Quando ele me possuía, quanto mais monstros eu matava, mais ele crescia, e acabou me devorando. Mas isso não quer dizer que ele próprio estava mais perto de virar humano.
Até hoje, controlando o marionetista, percebo que dar a ele os pontos de habilidade obtidos ao derrotar monstros faz com que ele cresça, evoluindo de uma espada curta pra uma espada larga no nível 3, e depois se transformando numa criatura enorme conhecida como o “Predador Impiedoso”.
Em ambos os casos, ele só cresce — sem dar nenhum sinal de estar ficando mais humano.
— Nesse caso... devo alimentar você com os aldeões também?
— O que você quer dizer com “os aldeões”?
Diante da pergunta, decidi explicar.
Contei como fui perseguido pelos aldeões por causa do meu cabelo prateado, e como eles mataram a pessoa que eu amava, me culpando pelo crime e me banindo pra esse calabouço.
— Hmm, Mestre, você passou por bastante coisa, hein.
— É. Eu quero tanto me vingar que mataria os aldeões. Então tudo bem comer eles.
— Entendi. Nesse caso, aceitarei com prazer e comerei os aldeões.
— Oh, obrigado.
— Primeiro, vamos focar em sair desse calabouço.
— …Certo.
Depois dessa conversa, fui dormir, me preparando para o amanhã.
A sensação foi de finalmente ter conseguido dormir bem depois de muito tempo.
◆
No dia seguinte, deixei o esconderijo.
Meu destino era a parte mais profunda do calabouço, a sala do chefe.
Já tinha subido de nível o suficiente depois de derrotar a Armadura Viva Dourada.
Então, devia estar pronto pra enfrentar o chefe.
Por isso, fui até a sala onde o chefe estava, com a intenção de escapar do calabouço.
— Ué, pensei que o Marionetista da Espada Parasita não estivesse no lugar de sempre. Que diabos tá acontecendo aqui?
Depois de derrotar o subchefe, o Grifo gigante, ela estava ali.
Nada mais, nada menos do que a própria vampira Judite.
◆
Comentários Box