Capítulo 47 – Uma forma cruel de morrer
— P-pare, por favoooooorrrr!
— Aaaahhhhhh, o que é issooooo!!
O “Predador Impiedoso” estendeu apêndices parecidos com tentáculos, agarrando os aldeões um por um e os lançando dentro da própria boca.
Conforme os aldeões eram devorados, ele os mastigava com um som molhado e repugnante, esmagando-os com suas mandíbulas poderosas.
— Marionetista, tenho alguns assuntos pra resolver, então vou nessa. Pode se divertir à vontade.
— Entendido, Mestre!
Os aldeões estavam completamente focados no “Predador Impiedoso” e não prestaram nenhuma atenção em mim. Aproveitando a distração, me afastei para encontrar meus alvos.
Minha fiel Espada Parasitária Marionetista havia se transformado no “Predador Impiedoso”, então empunhava agora minha recém-adquirida “Espada Flamejante”.
Havia certas pessoas que eu precisava fazer se arrepender profundamente de seus atos.
Primeiro, Darga, o filho do chefe da vila, o principal responsável pela morte da Namia. Ele merecia o castigo mais severo.
Depois, Rizlut, o chefe da vila, que liderou a acusação falsa contra mim pelos crimes de Darga.
E os quatro homens que sempre andavam com Darga. Eles estavam na casa da Namia naquele dia, e mesmo estando presentes na cena, deram falso testemunho dizendo que eu havia cometido o crime.
Também tinha o juiz que me condenou ao exílio, mas lidar com ele podia esperar um pouco.
De qualquer forma, eu precisava capturar essas pessoas antes que tentassem fugir.
— Ei, parece que monstros apareceram na vila!
— Que tipo de monstros apareceram?
— Nunca vi monstros assim.
— O quê? Sério!?
— O que os aventureiros estão fazendo? Rápido, eliminem eles!
— Onde está a guilda? Reúnam os aventureiros!
A vila estava um caos.
Todos estavam em pânico: alguns prontos para lutar, outros tentando fugir, e outros ainda chamando por ajuda. As reações variavam.
Os tais “monstros” provavelmente eram o “Predador Impiedoso”.
Apesar de ele não ser de fato um monstro, sua aparência facilmente enganaria qualquer um.
Agora… onde eles poderiam estar?
— Encontrei ele.
Murmurei ao avistar um dos meus alvos.
— Faz tempo, hein.
Cumprimentei ele.
Na verdade, só fazia uma semana desde que eu voltara daquele lugar depois de ser banido para a masmorra, mas, por ter morrido e renascido centenas de vezes, parecia que eu não via aquele rosto há muitos anos.
— Por que o Kiska tá aqui…?
A pessoa me olhou, visivelmente confusa e surpresa.
— Agora me diz… por que será, Darga?
— D-de qualquer forma, não tenho tempo pra lidar com você agora! Monstros apareceram na vila! Tô ocupado demais lidando com isso! Sai da minha frente!
— Ei, Darga, e se eu te dissesse que a culpa dos monstros terem aparecido na vila é minha?
— Hã? Não tô entendendo o que você tá falando—
Darga não conseguiu terminar a frase.
Não deixei ele terminar.
— Darga, deixa eu te contar uma coisa porque parece que você não entendeu ainda. Eu posso te matar quando eu quiser.
Dizendo isso, empunhei minha espada.
Enterrei a lâmina no braço esquerdo de Darga e cortei fundo.
A “Espada Flamejante” tinha uma lâmina em brasa, que ao cortar, cauterizava com o calor e parava o sangramento. Era uma arma feita mais pra tortura do que pra matar.
— AARGHHHHHH!!
Gritando de dor, Darga se contorcia no chão.
— Não brinca comigo!!
Mesmo com a dor, Darga ainda parecia ter um pouco de arrogância e tentou se impor.
— Sim, aconteceu alguma coisa!? Lorde Darga!
— Que barulheira é essa!?
Notei que alguns homens, percebendo a confusão, estavam correndo até nós. Entre eles, um dos que invadiram a casa da Namia naquele dia. Pareciam preparados pra enfrentar monstros — todos estavam armados.
— Ei, vocês aí, matem esse cara de cabelo prateado!
Darga deu a ordem.
No mesmo instante, todos empunharam suas armas com força e vieram pra cima de mim.
No passado, eu estaria indefeso e provavelmente acabaria espancado. Mas agora, com as habilidades que possuo…
— Fracos… venham todos de uma vez.
— Não se ache demais!!
Usei “Provocação” pra atrair os ataques e, então, desviei e contra-ataquei.
— AGHHH!
Um dos homens caiu ali mesmo.
Continuei derrubando um por um com minha espada.
— Q-que tipo de movimentos são esses!?
— Não dá, não conseguimos nem encostar nele!
— P-por favor, pare!
— AAGHH!
Se eu sobrevivi àquela masmorra infernal, lidar com esses caras era brincadeira de criança. Eu podia derrotá-los até de olhos fechados.
— Darga, vou repetir: pense bem sobre por que estou aqui.
Dizendo isso, pisei em um dos homens caídos. Todos os atacantes já estavam neutralizados.
— E-eu nunca imaginei que você voltaria daquela masmorra…
Finalmente, parecia que ele tinha entendido. Demorou, hein. Lento como sempre.
— Ei, Darga. Sabe o que eu pensava enquanto enfrentava aquela masmorra?
— D-do que você tá falando…
— Eu pensava em como me vingar de você. Passava os dias imaginando qual seria a morte mais horrível que eu poderia te dar. Se seria espancamento, decapitação, empalamento, afogamento, queimadura, chicoteamento, esfolamento, arrancar olhos, cortar dedos, fome, doença venérea, sufocamento, enterro vivo, mutilação genital, envenenamento, confinamento ou esfaqueamento. Eu pensava nisso o tempo todo.
Falei isso tudo de uma vez só, e com cada palavra, o rosto de Darga se contorcia mais de medo.
— Ei, mestre, posso comer esses caras também?
Percebi de repente que a Marionetista estava se aproximando. Provavelmente tinha vindo até aqui enquanto devorava os aldeões.
Por “esses caras”, ela queria dizer os homens que me atacaram e foram derrotados.
— Qualquer um, menos esse aí.
Apontei para Darga enquanto dava permissão.
— Entendido!
A Marionetista respondeu com empolgação e usou seus tentáculos pra devorar os homens, um por um.
— Parem!!
— Uwaaaaah!!
— Não, por favor! Nãããããão!!
— Me solta, me solta, me soltaaaa!!
Todos lutavam desesperadamente, mas a resistência era inútil. Um por um, eram esmagados pelas mandíbulas poderosas da Marionetista.
— V-você que invocou esse monstro…?
Darga perguntou com uma expressão de total desespero.
— Sim, fui eu mesmo.
Afirmei sem hesitar.
Na mesma hora, um cheiro desagradável chegou ao meu nariz. Ah… esse cara se mijou de medo.
— Fica tranquilo. Você não vai morrer tão fácil quanto eles.
— Me ajuda! Eu errei! Eu me arrependo! Me desculpa, me desculpa, por favor, me ajuda!
De repente, Darga começou a pedir desculpas como um desesperado, implorando pela vida.
Vendo aquilo, senti uma decepção enorme no fundo da alma. Que verme patético. Se vai ser vilão, que ao menos aja como um.
Pedir desculpas assim só fazia parecer que eu é que era o errado aqui.
Então, com um suspiro de desgosto, eu disse:
— Com isso… não tem chance de eu te perdoar.
Comentários Box