Chapter 64: Vim acertar as contas

Eu estava na sala onde aqueles dez Bugbears Blindados tinham aparecido.
Como eu já tinha algum conhecimento sobre a estrutura da masmorra além desse ponto, avancei sem hesitação. Não havia espaço para confusão enquanto eu seguia rumo ao meu destino.

Nesse momento, ouvi sons de batalha à distância. Parecia que alguém estava lutando contra monstros. Curioso, decidi apressar o passo para ver o que estava acontecendo.

— Ei, Kiska!

— Ah, olá.

Era o Herói Eligion quem estava enfrentando os monstros.

— Não esperava que todos nós fôssemos nos separar assim. Mas, por agora, fico feliz em encontrar você de novo — disse o Herói Eligion.

De fato, ele também parecia ter se separado do resto do grupo por causa da teletransportação.

— E então, o que pretende fazer agora?

— Bom, claro que estou preocupado com todos, mas no momento a prioridade é encontrar o Lorde Demônio. Seria ótimo se você pudesse me guiar.

— Não me importo em guiar você.

Guiar pela masmorra não era um problema. No entanto, a masmorra era vasta e complexa. Sem saber onde o Lorde Demônio poderia estar escondido, a questão era por onde começar a busca.

— Bem, neste andar há três círculos de teletransporte, e cada um deles leva a um local diferente. Seria ótimo saber qual deles nos deixaria mais perto do Lorde Demônio. Se formos verificar todos aleatoriamente, pode levar vários dias.

— Entendo.

Depois de ouvir minha explicação, o Herói Eligion levou a mão ao queixo e começou a refletir.

— Bom, mas não temos outra escolha a não ser explorar a masmorra no nosso próprio ritmo — disse Eligion com uma expressão despreocupada.

— Hã… tem certeza que tá tudo bem em explorar assim, tão de boa? Não existe a chance do Lorde Demônio escapar da masmorra enquanto a gente tá andando por aí? E se a gente demorar demais?

— Essa é uma preocupação tosca — afirmou o Herói Eligion.

Eu não fazia ideia do porquê de tanta confiança.

— Você sabe o que é um Herói?

— Não, não sei.

Mesmo sendo perguntado, nunca tinha realmente parado pra pensar nisso.

— Ouça bem: um Herói é aquele destinado a derrotar o Lorde Demônio.

— Entendi.

— Grave isso. Não importa o quão poderoso o Lorde Demônio seja, mesmo que pareça impossível vencer, o Herói vai derrotá-lo no final. Não é questão de lógica. É porque esse é o destino. Por isso, como Herói, eu vou enfrentar e derrotar o Lorde Demônio aqui nessa masmorra.

As palavras dele não soavam apenas como autoconfiança — era quase como uma fé cega. Como ele podia acreditar com tanta firmeza que um Herói sempre venceria o Lorde Demônio?

— Ainda assim, o que aconteceria se o Herói perdesse pro Lorde Demônio?

— Isso é uma suposição impossível. Mas, no caso extremamente improvável do Lorde Demônio vencer… o mundo seria destruído.

Ao ouvir “o mundo seria destruído”, meu coração acelerou. Eu vim de um mundo cem anos no futuro. Foi para salvar o mundo da destruição que o esperava.

— O objetivo do Lorde Demônio é destruir o mundo?

— Sim, é isso mesmo.

Senti que finalmente tinha entendido o que precisava fazer nessa era. Se eu derrotar o Lorde Demônio, o mundo será salvo.

— Ah, e tem mais um motivo pelo qual dá pra explorar com calma.

— Qual seria?

— Na verdade, houve uma revelação divina.

— Uma revelação divina?

Era uma mensagem dos deuses. Eu já tinha ouvido falar que existiam locais dedicados a receber essas revelações, e de vez em quando os deuses falavam com os sacerdotes que trabalhavam por lá.

— O conteúdo da revelação divina foi: “A Masmorra de Katarov será o campo de batalha final.”

— Entendo.

Pensando bem, isso sempre foi uma questão. Como os heróis sabiam que o Lorde Demônio tinha se refugiado nessa masmorra? Mas, se houve uma revelação divina, isso explicava tudo.

— Enfim, por isso estou pedindo sua ajuda pra me guiar na masmorra.

— Entendido.

A partir daí, seguimos pela masmorra. Debatemos qual dos três círculos de teletransporte usar, mas decidimos começar pelo primeiro, que levava ao andar onde Agetha havia sido selada anteriormente. O motivo da nossa escolha era a chance de encontrarmos Agetha. 

— Mas parece que ela não está aqui, afinal.

Na linha do tempo original, Agetha tinha sido selada neste lugar, mas agora ele estava completamente vazio. Onde será que eu poderia encontrar Agetha? 

— Como assim “ela não está aqui”?

— Ah, é que…

Bem quando eu estava pensando em como responder à pergunta do Herói, alguém — ou algo — apareceu de repente.

— Chegaram bem cedo.

Era uma voz rouca e baixa. No espaço onde antes não havia nada, uma figura se materializou.

— Vim acertar as contas — disse o Herói Eligion, sorrindo.

— Não gosto da sua confiança, Herói — respondeu a figura, com um sorriso torto.

A entidade diante de nós era gigantesca, com um rosto inumano, músculos protuberantes, pele vermelho-escura e uma armadura massiva. Empunhava uma espada maior que ele próprio.

— Então vamos resolver isso agora, Zoga, o Lorde Demônio?

Isso mesmo — a presença diante de nós era, sem dúvidas, o Lorde Demônio.

◆ ◆ ◆