Capítulo 66 – Desfecho
— Você me derrotou...
Enquanto o Senhor dos Demônios Zoga caía, sua voz era apenas um sussurro fraco em meio ao som do próprio sangue espirrando.
— Parece que conseguimos salvar o mundo.
Em contraste, o Herói exibia um rosto repleto de satisfação.
— Parabéns.
— Não precisa de tanta formalidade. Ah, e aliás, obrigado, Kiska. Graças à sua orientação, consegui derrotar o Senhor dos Demônios.
— Não, foi tudo esforço do Herói. Eu não fiz nada.
As palavras que saíram da minha boca soaram um tanto mecânicas.
O Herói havia derrotado o Senhor dos Demônios.
Isso era motivo de comemoração.
Mas, por que será? Eu não conseguia engolir a sensação de desconforto presa na garganta.
Afinal, Agetha continuava desaparecida, e eu nunca consegui encontrá-la.
Ainda assim, o fato era que a maior ameaça de destruição do mundo, o Senhor dos Demônios, havia sido derrotada.
O mundo foi salvo, e isso era inegável.
◆
Depois que o herói derrotou o Senhor dos Demônios, os outros membros do grupo chegaram um por um.
— Alteza! Peço perdão por não estar ao seu lado num momento tão crucial — disse a primeira a aparecer, a Cavaleira Sagrada Canaria.
Algumas horas depois…
— Ei! Era aqui que você estava se escondendo? Finalmente te achei!
— Ufa, nos encontramos! Achei que ia morrer!
— …
O anão Gorgano, a elfa Nyau e um homem encapuzado chegaram juntos.
Nyau parecia exausta e mal conseguia se manter em pé. Pelo visto, eles haviam sido transportados para lugares diferentes, mas conseguiram se reunir enquanto exploravam a masmorra.
Ao saberem da derrota do Senhor dos Demônios, todos ficaram surpresos e encheram o Herói Eligion de elogios.
— Certo, agora estamos todos aqui — declarou o Herói Eligion.
Sendo sincero, considerando a complexidade da Masmorra de Katarov, era quase um milagre terem conseguido se reencontrar assim.
— Então, vamos terminar de explorar a masmorra pra sair daqui? — alguém perguntou.
Hero Eligion respondeu:
— Não, tenho um plano melhor.
Com um joinha, ele continuou.
— Hehe, vocês deviam agradecer à maga genial Nyau! — proclamou Nyau com orgulho.
— Irritante...
— Waaaah, essa pessoa falou algo maldoso sobre a Nyau!?
Parece que soltei essas palavras duras sem perceber.
— Ei, não chora por causa disso!
— Hahaha, não dá pra não ficar impressionado com a maga genial, né?
A Cavaleira Sagrada Canaria o repreendeu, enquanto o anão Gorgano caiu na gargalhada. Em contraste, Nyau choramingava.
— Desculpa aí, Kiska. Quando ela fica de mau humor, é um saco… então uma desculpa cairia bem — sussurrou Hero Eligion pra mim.
— Nesse caso…
Assenti com a cabeça e me virei pra Nyau para me desculpar.
— Hm… desculpa.
— Da próxima vez que alguém zombar da Nyau, eu não vou perdoar!
— Tá bom, vou lembrar disso.
— Vou te perdoar. A Nyau é gentil, afinal!
Apesar da aparência jovial, o tom condescendente dela me irritava, mas decidi engolir o orgulho. Seria problemático se ela voltasse a ficar de mau humor.
— Então, Nyau, o que você pode fazer?
— Hehe, prepare-se pra se impressionar!
Com essas palavras, ela ergueu um cajado do tamanho dela.
— Em nome da Nyau, eu ordeno. Do caos nasce a ordem. A ausência de bem e mal. Um brilho além da terra. O mundo ainda não está satisfeito. O desejo repousa no embrião. Tudo eventualmente vira pó. Eu ordeno. Magia de transferência, primeiro passo, retorno, Regreso.
Num instante, um enorme círculo mágico surgiu ao redor de Nyau.
Quando percebemos que era um círculo de transferência, já estávamos fora da masmorra.
— Magia de transferência…
Já tinha ouvido falar disso antes. Existe um tipo de magia que permite se mover instantaneamente para um local distante. Mas pouquíssimos magos conseguem usá-la. Talvez essa garotinha, Nyau, fosse uma maga ainda mais incrível do que eu imaginava.
— Hehehe, e aí!? Agora entende como a Nyau é sensacional?
Ela estava ao meu lado, empinando o peito com um olhar triunfante.
Bom, é difícil segurar a irritação mesmo sentindo um certo respeito. Por ora… será que beliscar a bochecha dela resolve?
— Nyaaaaaa! Por que você beliscou a bochecha da Nyau!?
Nyau gritou e tentou chamar atenção das pessoas ao redor pra ajudá-la, mas ninguém deu bola.
A irritação superava a admiração. Em todo caso, eu precisava ficar de olho nela.
— Uau! O herói derrotou o Senhor dos Demônios!
— Aquele é o corpo do Senhor dos Demônios?
— Uooooou! É o herói!
Assim que saímos da masmorra, fomos rapidamente cercados pelos aldeões eufóricos. Eles notaram o corpo do Senhor dos Demônios ali do nosso lado. Pelo visto, usamos o círculo de transferência para trazer o corpo dele junto. Era natural que, ao verem isso, as pessoas entendessem que éramos o grupo do herói que havia derrotado o vilão.
E assim, fomos calorosamente recebidos pelos aldeões entusiasmados.
◆
— Já vai partir?
Depois, uma festa de celebração pela derrota do Senhor dos Demônios começou na vila. Em meio à música e à bebida, eu me preparava para partir. De repente, fui abordado pelo Herói Eligion.
— Sim, tem algo que preciso fazer.
— Entendo. Sou grato a você. Então, se tiver qualquer problema, não hesite em contar comigo.
— Não posso incomodar o Herói-sama com meus problemas.
Recusei gentilmente. Não dava pra depender do príncipe deste país, ainda mais sendo filho de um fazendeiro.
— Compreendo. Espero que tenha sucesso na sua missão.
A expressão levemente triste de Eligion… deve ter sido só imaginação minha. De qualquer forma, com essas palavras, deixei a vila de Katarov.
Eu tinha apenas um objetivo em mente: encontrar Agetha.
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