Capítulo 67 — Banquete
Para procurar por Agetha, deixei a vila de Katarov e decidi ir até uma cidade grande para reunir informações. Foi por isso que peguei uma carruagem e fiz toda a viagem.
A capital real, Larna. Como o nome sugere, é a cidade onde Sua Majestade, o Rei do Reino de Rastarna, reside. É a cidade mais próspera do Reino de Rastarna e um ponto central de transporte por onde muitas pessoas passam.
Então, achei que seria o lugar ideal para conseguir informações, mas...
— Essa cidade tá estranha.
Eu nunca tinha saído da vila de Katarov antes. Era a primeira vez que visitava uma cidade tão grande, mas mesmo assim, dava pra perceber que havia algo de errado.
Todo mundo parecia se divertindo horrores. Comer e beber ao ar livre era comum, e algumas pessoas estavam tocando instrumentos e dançando. Parecia um festival animado.
— Ei, camarada! Cê devia comer alguma coisa também!
Alguém falou comigo. Um homem alto e musculoso, ainda maior que eu, jogou o braço no meu ombro como se fosse velho conhecido.
— Obrigado.
Aceitei a comida que ele me entregou, e então ele encheu uma caneca com cerveja pra mim. Depois disso, ele disse "Saúde!" e brindou comigo. As canecas estavam tão cheias que espirraram cerveja pra fora, mas ninguém ligou.
— Uau, isso aqui tá mesmo parecendo uma festa!
O homem disse isso enquanto bebia tudo sem cerimônia.
— Hã... e tão comemorando o quê, exatamente?
— Como assim? Cê não sabe? O herói finalmente derrotou o Rei Demônio. A gente tá comemorando isso.
Ah, entendi. Faz sentido. Comemorar a derrota do Rei Demônio é mais que natural. Mas, com todo mundo nesse clima de festa, talvez seja difícil conseguir qualquer informação.
— Eu vi com meus próprios olhos. A batalha entre o herói e o Rei Demônio.
— O quê você disse!?
Todo mundo ao redor se virou pra mim. Aproveitando a oportunidade, achei que podia relaxar um pouco.
— Afinal, eu fui o guia do herói.
Provavelmente fiz uma cara de quem tava se achando ao dizer isso. Então comecei a descrever a batalha entre o herói e o Rei Demônio como se fosse uma história épica. Quanto mais eu falava, mais pessoas se reuniam em volta, ouvindo atentamente. Quando terminei de contar sobre a vitória do herói, todos aplaudiram, e quem chegou depois pediu pra eu começar de novo. Me empolguei e contei a mesma história várias vezes, mas a cada nova versão, eu melhorava a narrativa, usava gestos, exagerava... deixava tudo mais divertido.
— O Rei Demônio bloqueou com facilidade o golpe final do herói, e parecia que a derrota era certa! Todo mundo tinha perdido a esperança e só restava rezar pros deuses. Mas o herói nunca desistiu. A fé inabalável dele trouxe um milagre!
Quando proclamei isso, aplausos e suspiros surgiram da multidão. Já tinha se formado um público enorme ao meu redor, todos vidrados na minha história. E mais: o pessoal empolgado começou a jogar moedas pra mim. Graças a eles, ganhei uma quantia considerável. Isso tá sendo mais recompensador do que imaginei.
— Ei, tem um mentiroso aqui inventando história sobre o herói! Recebemos uma denúncia!
Vi soldados com armadura se aproximando.
— Ihh... ferrou.
Eu nem achei que tinha feito algo errado, mas ser chamativo demais sempre acaba atraindo atenção indesejada.
— Hã, veja bem, isso não é o que parece...
Tentei me explicar, desesperado por uma desculpa, quando, de repente, ouvi alguém me chamar.
— Não é o Kiska?
Olhei, e vi um rosto conhecido. A soldado que se aproximava era ninguém menos que a Cavaleira Sagrada Canaria.
— O que você tá fazendo num lugar desses?
— Tava espalhando a lenda do herói pra todo mundo.
Sim, era como uma atividade de caridade em nome do herói. Então não deveria ter motivo pra ser repreendido.
— Bem, o fato de você ter presenciado a batalha do herói é verdade. Não parece que esteja espalhando mentiras.
— Então... nesse caso, tá tudo bem eu continuar com isso?
— Isso mesmo. Espalhar a lenda do herói para o povo é benéfico para o reino. Suas atividades estão aprovadas.
— Muito obrigado!
Com isso, minhas atividades receberam reconhecimento oficial do reino. Isso me permitiria expandir ainda mais... Espera aí. Não perca seu foco. Meu objetivo é encontrar Agetha. Não posso me dar ao luxo de perder mais tempo com isso.
— A propósito, o que o Herói Eligion-sama está fazendo atualmente?
Perguntei de maneira casual. Já que a Cavaleira Sagrada Canaria estava ali na capital, imaginei que o Herói Eligion também estivesse de volta.
— Senhora Canaria...?
Mas ela olhava pro horizonte como se nem tivesse ouvido minha pergunta.
— ...Dragões.
E então, num sussurro, murmurou.
Dragões...? Do que ela tá falando...?
— RRRROOOOOOOAAAARRRR!
Um rugido ensurdecedor, como um terremoto, ecoou no ar. Me virei imediatamente.
— Hã...?
O que vi me deixou sem palavras.
Um dragão.
Dragões são considerados as criaturas mais temidas entre todos os monstros. Eles têm nível de ameaça S, e derrotar um é algo extremamente difícil. E ali estava ele, a criatura lendária: um dragão.
Se fosse só um no céu, eu talvez não ficasse tão surpreso. É raro, mas não impossível, um dragão aparecer numa cidade.
Mas não era só um.
Quantos havia, então? Perdi a conta.
Havia tantos dragões que cobriam o sol, enchendo o céu por completo. Momentos antes o clima estava limpo, mas agora, com a chegada da horda de dragões, o céu ficou completamente encoberto.
— Ei, o que é aquilo!?
— Os dragões estão atacando em grupo!
Vozes em pânico ecoavam pelos moradores.
Dragões são conhecidos por seu orgulho e normalmente agem sozinhos. Mas agora, parecia que tinham formado um exército.
— Canaria?
Chamei por ela no impulso. Ela era uma Cavaleira Sagrada, membro da Guarda Real. Eu esperava que ela tivesse algum plano de fuga.
— Hã? Ela não tá aqui.
Olhei pro lugar onde ela estava segundos atrás, mas ela havia sumido.
— Rápido, precisamos fugir!
— Ei, não empurra!
— Eu que digo isso, não me empurra!
— Mamãe! Onde você tá!?
O clima festivo da cidade virou puro caos. Todos corriam para escapar do ataque dos dragões. A multidão apavorada se empurrava, causando tumulto e pequenas brigas.
Um a um, os dragões começaram a pousar no chão. Cada pouso fazia a terra tremer, prédios desabarem e pessoas serem esmagadas. Conforme mais dragões aterrissavam, mais vidas eram perdidas.
Um deles cuspiu chamas negras, queimando tudo e todos. Outro usou as garras pra agarrar e devorar quem tentava escapar. Pessoas estavam sendo massacradas por toda parte.
Gritos e lamentos de desespero vinham de todas as direções. Alguns tentavam lutar de volta, mas todos tinham o mesmo destino cruel.
Os portões da cidade estavam bloqueados por dragões, que devoravam qualquer um que tentasse fugir. Vi pessoas sendo mortas bem na minha frente... mais uma vez.
A cidade, antes cheia de vida, agora era um campo de batalha. Não, era mais como um local de execução. As pessoas estavam sendo mortas impiedosamente, sem nenhuma chance de resistência.
Squish, squish, squish, squish — o som de corpos sendo esmagados formava um ritmo macabro. Antes que eu percebesse, uma montanha de corpos sem vida havia se formado.
— Ah... Aah...
No meio de tudo isso, eu só conseguia me encolher. Nada que eu fizesse agora mudaria aquela situação. A violência diante dos meus olhos era simplesmente demais.
O mundo estava caminhando para a destruição. Eu tinha vindo de cem anos no futuro pra mudar isso, mesmo sem entender direito o que isso significava. Mas foi isso que o Observador me disse, e por isso fui enviado de volta. Talvez fosse por isso que eu nunca tinha compreendido de verdade o peso da destruição do mundo.
Mas agora... agora estava tudo claro.
— Será que eu consigo mesmo mudar isso...? Como? Como eu, sozinho, poderia mudar esse futuro?
— É impossível.
Concluí que esse era um problema grande demais pra mim. E naquele instante, ouvi meu coração se partir.
— É impossível... impossível! Impossível...!
Gritando de desespero, saí correndo como um louco. Se os dragões fossem me matar ali mesmo, que fosse. Eu até preferia isso!
Correndo sem rumo, acabei trombando com alguém. De início, achei que tinha batido numa pilastra ou algo assim. O impacto foi sólido, pesado como uma pedra gigante. Mas olhando melhor, vi um rosto... e lábios se movendo.
— De fato, parece que tudo está indo conforme o esperado.
— Hã...?
O que tá acontecendo? Por que o Rei Demônio Zoga, que deveria estar morto, tá parado bem na minha frente?
Sim, o que eu achei que era uma pilastra... era o próprio Rei Demônio Zoga.
— Por que você tá aqui...?
Perguntei, ainda confuso.
— Hmm?
O Rei Demônio se virou, mas nem ligou pra mim. Era como se eu fosse apenas uma formiga. Ele levantou a espada enorme, pronto pra esmagar a formiga com ela.
— Aaah!
Tentei me proteger com o braço, mas a espada cortou tanto meu braço quanto meu corpo.
Quando voltei a mim... já estava morto.
◆
— Hah.
Despertei com um suspiro. Onde estou? Que lugar é esse? Antes de tudo, precisava entender onde estava. Olhando ao redor, vi paredes irregulares e sombrias.
Eu estava dentro da “Masmorra de Katarov.”
Ah, agora lembrei. Logo depois de pisar no círculo de teleporte com os heróis… acabei sozinho dentro da masmorra.
Parece que esse é o ponto onde eu volto à vida.
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