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Chapter 76: Tédio

 Capítulo 76 – Tédio

— Onde estou, isso é...?

Quando abri os olhos, pensei nisso.

Uma cena desconhecida se espalhava diante dos meus olhos.
Dito isso, não havia nada de particularmente marcante nessa cena.
Era apenas um vazio sem fim.
Não havia céu nem chão, e o horizonte, claro, não existia.

Ah... já vi uma cena parecida antes.
Quando a Agetha Negra "resetou" o mundo, parecia que tudo havia perecido. Lembro que falei com uma pessoa que dizia ser uma observadora naquela época, e depois disso, voltei cem anos no passado para salvar o mundo.

Mas dessa vez, a situação é diferente.
Para começo de conversa, por que isso aconteceu?

Ah, certo. Agora lembro, o guerreiro Gorgano estava falando sobre como um selo funcionava.
Provavelmente, fui selado por ele.

Não entendo muito bem o que é um selo, mas a primeira coisa que me vem à mente é a Agetha. Salvei a Agetha quando ela estava selada dentro da Masmorra de Katarov. Não sei se o selo dela e o meu são do mesmo tipo, mas a possibilidade parece bem alta.

Mas por que iriam ter o trabalho de me selar?
Lembro das palavras do guerreiro Gorgano: “Se você é o Apóstolo do Herói, te matar pode trazer mais problemas.”
Pelas palavras dele, parece que ele sabia da minha habilidade de voltar da morte...?
Então, ao invés de me matar, ele escolheu me selar.

De fato, se estou selado, não volto da morte...
Se essa hipótese estiver certa, isso vai ser um baita problema.
No futuro, talvez eu precise tomar alguma providência caso algo aconteça.

No entanto, por mais que eu pense, isso não muda nada.
Por enquanto, preciso descobrir como sair dessa situação.

Pensando nisso, tentei dar um passo, mas percebi.
Eu não conseguia dar nem um passo.

Na verdade, não conseguia nem mover as mãos, falar ou piscar. Não conseguia fazer o menor movimento com o corpo.
Apenas minha consciência permanecia.

O que devo fazer?

No momento em que percebi que não podia fazer nada, a ansiedade tomou conta de mim.
O que eu posso fazer nessa situação?
Tem alguém aqui? Quis gritar, mas nem a boca conseguia mover.

Será que vou ficar preso nesse mundo de nada para sempre?
Foi só então que finalmente senti medo.
A partir de agora, um tédio insuportável vai durar por toda a eternidade.

Será que já faz quanto tempo que fui selado...?
Não há sol nem relógio aqui, então não faço ideia de quanto tempo se passou. Só sei que esse vazio nunca acaba.

Eu não sabia que ser completamente incapaz de fazer qualquer coisa seria tão agonizante.
Ai, que tédio.

No meio do tédio, decidi lembrar de uma história que minha mãe costumava me contar.
É a história do primeiro herói e do Rei Demônio.

Dizem que este mundo foi criado no mesmo momento em que um deus demônio despertou.
O nome desse ser é Deusgoat, o Deus Demônio.

No mundo de Deusgoat, não havia nada além de escuridão. Parecia que a escuridão iria reinar para sempre.

Mas então, um deus visitou este mundo.
Puthos, o Deus Supremo.

Puthos normalmente residia em um mundo de dimensão superior, separado deste aqui. Na verdade, até mesmo Deusgoat era apenas uma criação de Puthos.

Puthos olhou para o mundo vazio e se lamentou, e a partir disso, uma única gota de luz nasceu.
Essa luz iluminou o mundo.

A partir daí, Puthos criou os espíritos do fogo, da água, do vento e da terra, e os fez formar o mundo como conhecemos hoje, com terra, ar e mar.

Por fim, Puthos soprou almas nos seres vivos, incluindo plantas, animais, humanos e elfos, dando origem à vida.

O mundo floresceu graças a isso, mas havia alguém que invejava tudo isso.
Esse alguém era Deusgoat, o Deus Demônio.

Deusgoat começou introduzindo a morte e doenças no mundo. Mesmo assim, o mundo persistiu, então Deusgoat criou monstros e masmorras, tentando provocar a queda da humanidade.

Em resposta, Puthos concedeu habilidades à raça humana.
Graças àqueles que receberam essas habilidades, os monstros foram derrotados, e Deusgoat teve que recorrer ao seu próximo plano.

Esse plano envolvia uma invasão por um Rei Demônio e seus subordinados demoníacos.
O surgimento repentino do Rei Demônio colocou a raça humana em perigo.

Quando parecia que tudo estava perdido, um salvador apareceu.
Esse salvador era ninguém menos que o primeiro herói.

O herói é um ser abençoado pelo Deus Supremo, Puthos, e com esse poder, ele derrotou o Rei Demônio.

No entanto, o Deus Demônio, Deusgoat, não desistiu.
Vez após vez, um novo Rei Demônio surgia neste mundo, e um novo herói aparecia para derrotá-lo.

Dessa forma, desde os tempos antigos até hoje, a batalha entre Rei Demônio e herói continua.

Essa é a história que ouvi da minha mãe.
Parece que existem mais histórias sobre os feitos do primeiro herói, mas isso foi tudo que minha mãe me contou. Então, não sei exatamente que feitos o herói realizou.

Enquanto me perdia nesses pensamentos, um tempo se passou.
Neste mundo vazio, pensar é a única coisa que mantém minha mente sã.

Quanto tempo será que se passou desde que fui selado...?
Tédio.
É um tédio tão grande que parece que minha mente vai quebrar.

Não tem nada? Nada para ocupar minha mente?
Ah, já sei, vou fazer umas contas.

Cresci como fazendeiro e não recebi educação formal, mas minha mãe me ensinou o básico de leitura e matemática.

Lembro que 1 mais 1 é 2.
2 mais 2 é 4.
4 mais 4 é 8.
8 mais 8 é 16.
16 mais 16 é 32.
32 mais 32 é 64.
64 mais 64 é... 128.
128 mais 128 é, hum... 256.
256 mais 256 é 512.
512 mais 512 é 1024.
1024 mais 1024 é 2048.
213901312 mais 213901312 é 427802624.

Ah, quantos números ainda vou ter que contar até ser libertado dessa tortura?

Quanto tempo já se passou desde que fui selado?
Sinto como se estivesse aguentando um tempo interminável, impossível de calcular. Não me surpreenderia se já tivesse se passado mais de cem anos.

Sempre que olho, só vejo escuridão à minha frente.
Não sinto fome, nem sono.
É apenas um tempo eterno e entediante.

Tédio extremo é uma tortura.
Ai, que tédio.

Queria poder morrer.
Se eu morresse, finalmente poderia descansar em paz.
Como isso seria maravilhoso.

Então, eu quero morrer.
Quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer...
Por favor, alguém, me mate...!

... Ah, tem luz.
Não houve nenhum aviso.
Aconteceu justo quando achei que ia passar mais um dia tedioso.

Bem diante de mim, apareceu uma luz.
Luz, seguida de um som como vidro se quebrando, alguns segundos depois.
Foi a primeira mudança nesse mundo de nada.

Quando percebi, a cena diante dos meus olhos se despedaçou, como se eu estivesse quebrando uma casca.

— Oh, finalmente consegui romper a barreira do selo — disse uma voz conhecida.

O ar do mundo exterior, há tanto tempo perdido, envolveu meu corpo inteiro.

— Judite...

Sim, quem estava diante de mim era a vampira Judite.
Percebi que foi ela quem me salvou da barreira.

Lágrimas brotaram dos meus olhos ao perceber isso.
Lágrimas de alegria.
Ela me salvou do desespero.

— Me perdoe por já pedir isso logo depois de quebrar o selo, mas você se importaria de morrer? Sua presença aqui está sendo bem inconveniente — ouvi ela dizer.

No momento em que sua voz chegou até mim, ouvi o som de sangue espirrando.
Parece que estava prestes a ser morto por ela.

Talvez ela não tenha quebrado o selo para me salvar, mas apenas para se livrar de mim, já que eu era um empecilho enquanto ela tomava a masmorra como lar.

No entanto, isso não muda o fato de que ela me salvou.
Afinal, se eu morrer, posso recomeçar.

Não poder morrer era muito mais doloroso.

— Obrigado, Judite. Eu te amo.

Então, expressei minha gratidão.
Ela provavelmente faria uma cara bem desagradável, mas antes que eu pudesse ver, minha consciência se apagou.

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