Capítulo 87 – Fofa
Abri os olhos, sentindo a luz do sol entrando pela janela. De repente, percebi algo estranho na altura do meu peito. Quando olhei para baixo, vi que a Nyau estava dormindo em cima de mim, me cobrindo como se fosse um cobertor.
Ontem, a Nyau tinha chorado até dormir, então eu a coloquei na cama antes de deitar. Naquele momento, eu pretendia dormir o mais longe possível dela, mas parece que ela acabou se aproximando enquanto dormíamos.
"Tá quentinha", pensei, enquanto acariciava gentilmente sua cabeça. A temperatura do corpo da Nyau era quente, como a de um bichinho pequeno. Então, puxei ela um pouco mais pra perto, querendo sentir mais desse calorzinho. Agora mesmo, eu achava a Nyau incrivelmente adorável.
Mas, ao mesmo tempo, eu sabia que me apegar demais a ela poderia ser perigoso. Nesta linha do tempo, sem o Herói presente, o mundo provavelmente estava destinado à destruição. Quando eu reiniciasse ao morrer, voltaria no tempo até um ponto antes da morte do Herói Eligion, e qualquer relação que eu tivesse construído com a Nyau também seria apagada. Então, se eu me apegasse demais a ela e depois a perdesse, o choque poderia ser devastador.
Mas, mesmo sabendo disso, eu tinha decidido viver por ela nesta linha do tempo.
— Bom dia — disse Nyau, abrindo os olhos de repente.
— Bom dia. Desculpa se te acordei.
— Não, tudo bem. Eu já estava prestes a acordar mesmo. Mas, hum… O que tá acontecendo aqui? — Nyau perguntou, hesitante.
Entendi a preocupação dela. Na cama, eu estava abraçando a Nyau, e aquilo realmente podia parecer meio suspeito.
— Porque você é fofa — eu disse.
— Porque eu sou fofa, o que você ia fazer…!? — Nyau respondeu.
— Eu ia estender a mão.
— Nyaaaahhhh! — gritou Nyau, se encolhendo rapidamente num canto do quarto.
Eu não tinha realmente a intenção de fazer nada, só queria provocá-la um pouco. Mas ela reagiu muito mais do que eu esperava. Isso até me machucou um pouco.
— Ei, Nyau — chamei.
— V-você vai comer a Nyau…!? — disse ela, em pânico, tremendo no canto.
Quando me aproximei, Nyau começou a tremer ainda mais.
Vendo ela daquele jeito, algo despertou dentro de mim.
Eu queria provocar ela mais.
Desde a primeira vez que a conheci, era assim. Por algum motivo, quando eu olhava pra Nyau, não conseguia resistir à vontade de provocá-la. Deve ser isso que chamam de sadismo.
— Ei, Nyau — continuei.
— S-sim?
— Não foi você que me chamou pra dividir a cama primeiro?
— B-bem, a Nyau só disse que queria dividir o quarto com você porque estava com um pouco de medo…
— Sabia que dividir a cama é praticamente o mesmo que convidar alguém, né?
— É mesmo…? — disse ela, meio perdida.
— A Nyau não é uma elfa e uma mulher adulta?
— É! A Nyau é uma elfa e uma mulher adulta!
— Então, se é adulta, passar por esse tipo de coisa é normal, né?
— N-nya…
Com um barulhinho esquisito, os olhos da Nyau começaram a vagar.
— Isso mesmo! A Nyau é adulta! Então, Kiska, aproveite a Nyau à vontade!
Com uma expressão decidida, ela soltou aquilo.
Foi surpreendentemente fácil fazer ela dizer isso. Isso me fez pensar se ela não seria facilmente enganada por outros caras também, e fiquei meio preocupado. E, além disso, essa escolha de palavras — "aproveite a Nyau" — foi bem incomum.
— O quê, você levou a brincadeira a sério? — falei, rindo.
— Hã…? Era uma brincadeira?
— É, era sim.
Assim que confirmei, Nyau congelou no lugar e ficou sem se mover por um tempo. De repente, soltou um barulho esquisito — "hanyanyanya" — e ficou completamente vermelha.
Parece que finalmente percebeu que tinha sido enganada.
— Kiska, você é tão maldoso! Muito maldoso!
Depois disso, levei vários socos da Nyau por um tempo.
◆
Depois de nos prepararmos, partimos em direção ao Império Ritzken a cavalo, como planejado.
— Tá desconfortável pra você?
— Não, tá tranquilo!
— Que bom.
Acontece que outros aldeões, percebendo o movimento do exército do Lorde Demônio, também estavam tentando evacuar usando cavalos, então houve uma corrida pra consegui-los. A gente esperava conseguir dois cavalos, mas no fim só conseguimos um. Como resultado, Nyau e eu acabamos indo juntos, eu na frente e ela atrás.
— Ei, Kiska!
— O que foi?
— Sobre o que você disse mais cedo…
Ela provavelmente tava falando da brincadeira que eu fiz de manhã.
— Já pedi desculpa por isso, não pedi?
— Não, não é sobre isso… Eu queria saber se você tava brincando quando disse que eu era fofa…
Ah, entendi. Era isso que tava incomodando ela.
— Não, eu falei sério.
— …Entendi. Então quer dizer que você acha a Nyau fofa, né?
— É, acho sim.
Depois disso, a Nyau soltou uma risadinha meio estranha.
Eu não conseguia ver bem a expressão dela nessa posição de montaria, mas só de imaginar, já dava pra sentir que ela devia estar com uma cara bem convencida.
— A Nyau não gostava muito da própria aparência…
— É mesmo?
Aquilo me surpreendeu. Afinal, eu achava ela fofa até mesmo pelos padrões gerais. O que será que fazia ela não gostar?
— É, sim. Elfos são uma raça imortal, e normalmente param de crescer com cerca de vinte anos, não mudando muito depois disso. Mas a Nyau, diferente dos outros, parou de crescer com essa aparência jovem demais.
— Entendi…
— Então a Nyau era considerada uma anomalia entre os elfos e não conseguia se encaixar com os outros.
Ouvir sobre o passado dela me fez lembrar do meu.
Eu também fui perseguido na Vila Katarov por causa do meu cabelo prateado.
— Me desculpa por isso.
— Por que você tá pedindo desculpa?
— Porque eu te provoquei dizendo que você parecia uma criança. Eu não sabia que você se importava tanto com a aparência.
— Não é que eu me importe tanto assim… Mas se você quiser pedir desculpas, a Nyau aceita.
— Obrigado por isso.
Enquanto conversávamos, seguimos cavalgando.
Ainda ia demorar um pouco até chegarmos ao Império Ritzken.
Foi então que a Nyau, que estava sentada atrás de mim, mudou de posição de propósito, se encostando nas minhas costas, bem colada.
Por causa disso, o calor do corpo dela se espalhou pelas minhas costas.
Bem, o busto dela era bem modesto, então não dava pra sentir tanto assim. Que pena…
— A Nyau ficou muito feliz quando você disse que ela era fofa. Por causa disso, ela começou a gostar um pouquinho da própria aparência.
— Entendi.
Eu tinha dito “fofa” meio que no automático, mas ela parecia realmente feliz com aquilo, o que foi uma surpresa boa.
— Você é realmente muito fofa.
— Waaah! Que foi isso do nada!?
— Só falei o que pensei.
— Não é que a Nyau se importe, mas seria bom se você não dissesse essas coisas tão do nada…
— Fofa, fofa, fofa, fofa, fofa, fofa.
— Nyaaahh! Você quer matar a Nyau de vergonha com tanto elogio!?
— Ei, para de se mexer! Vai cair!
A gente continuou brincando assim enquanto seguia viagem rumo ao Império Ritzken.
Eu sabia que nosso tempo juntos daquele jeito era limitado. Assim que chegássemos, teríamos que enfrentar o exército do Lorde Demônio.
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