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Chapter 78: Respeito

 Capítulo 78 – Respeito

Morri muitas vezes. Cada vez que morria, o tempo voltava.
A cada volta, o tempo dentro de mim continuava avançando.
Como resultado, o passado em que Namia foi morta e eu fui exilado para as profundezas da masmorra parece uma memória distante. 

No começo, fui movido pela vontade de me vingar dos aldeões que me desprezaram. Depois de conquistar a masmorra com sucesso, consegui uma vingança satisfatória contra os aldeões.

Mas foi frustrante o fato de que a marionetista não pudesse se tornar humana, e foi por isso que tirei minha própria vida. Esse não era o futuro que eu desejava. Então, decidi recomeçar. Busquei uma forma de transformar a marionetista em humana e entrei em contato com Agetha. No entanto, Agetha havia perdido a memória. Assim, para restaurá-la, agimos juntos. Depois de muito esforço, no momento em que derrotamos o chefe da masmorra, outra Agetha — a Agetha Negra — nos atacou.
Após gritar, ela usou o “Reset” para destruir o mundo. Depois disso, por causa da entidade misteriosa conhecida como Observador, fui enviado cem anos antes da destruição do mundo.

Ainda assim, por mais que eu procurasse no mundo de cem anos atrás, não conseguia encontrar Agetha.
Além disso, o mundo ainda seria destruído pela manipulação do “Caotismo” pelo ressuscitado Rei Demônio.
Portanto, cabe a mim impedir a destruição do mundo com minhas próprias mãos, mas...

— Cheguei bem longe, hein...

De repente, me dei conta de que me afastei bastante do objetivo inicial.
Pra ser sincero, quando o Observador me disse para salvar o mundo, não imaginei que seria algo tão complicado.
Achei que, se encontrasse a Agetha, ela poderia salvar o mundo com seus poderes. Mas, quando cheguei cem anos no passado, não fazia ideia de onde ela estava, e precisei enfrentar o Guerreiro Gorgano e a Cavaleira Sagrada Canaria para impedir a ressurreição do Rei Demônio. A situação mudou rápido demais, os motivos se entrelaçaram, e ficou difícil entender tudo.

Não me esqueci da marionetista. Me preocupo com a Agetha e até com a vampira Judite. Talvez Judite consiga se virar sem mim, mas isso não significa que não estou preocupado.
E quanto ao desejo de vingança? Consegui me vingar uma vez, mas essa linha do tempo desapareceu quando voltei da morte.
Se alguém me perguntasse se ainda sinto vontade de me vingar, é difícil responder. Talvez eu não tenha mais aquele desejo ardente de antes. Existem outras coisas que quero realizar além da vingança.
São muitas coisas que desejo conquistar. No entanto, antes de tudo, preciso deter o Rei Demônio Zoga.

— Devo tentar confiar mais no Herói Eligion?

Depois de perceber que não conseguiria derrotar o Guerreiro Gorgano, fui forçado a buscar uma abordagem alternativa.
O Herói Eligion possui poder suficiente para derrotar o Rei Demônio Zoga. Se eu conseguir guiá-lo para que não seja morto pela Cavaleira Sagrada Canaria, mesmo que o Rei Demônio ressuscite, o Herói Eligion poderá derrotá-lo novamente.
Vale a tentativa.

Com essa decisão em mente, corri pela masmorra para alcançar meu objetivo. Adquiri a habilidade “Aprimoramento de Agilidade” e sintetizei habilidades até obter “Habilidades de Ladrão.”
Depois, entrei em contato com o Herói Eligion e o guiei até o local onde o Rei Demônio Zoga estava. Se eu pudesse ver o Herói derrotando o Rei Demônio Zoga, conversaria com ele para executar uma nova estratégia.

— Herói, tem algo que eu gostaria de discutir.

— Kiska, por que essa cara séria?

Eu precisava falar com o Herói Eligion antes que a Cavaleira Sagrada Canaria chegasse. Então, se eu tinha algo a dizer, era agora.

— Bem, há um traidor entre seus companheiros. 

— Hã?

O Herói Eligion inclinou a cabeça ao ouvir minhas palavras.

— Hmm… quem seria esse traidor?

— É a Cavaleira Sagrada Canaria e o Guerreiro Gorgano. Eles estão conspirando para assassinar você, Herói.

Entreguei a mensagem. Agora, o Herói Eligion ficaria em alerta com eles. Se fosse assim, ele não deveria me matar com facilidade.

Ouvi o som do vento sendo cortado. Sem que eu percebesse, o Herói Eligion já estava com a espada encostada no meu pescoço.

— Ei, como ousa insultar meus companheiros…?

Sua voz não tinha o tom animado de sempre, mas sim um tom profundo e ameaçador.

— Escute, Kiska. Eu não tolero ninguém insultando meus companheiros. Dizer que a Cavaleira Sagrada Canaria vai me trair? Pare de falar besteira. Ela é uma cavaleira que serve no palácio real desde a minha infância. É a pessoa em quem mais confio. Diferente da Canaria, conheci o Guerreiro Gorgano depois de ser escolhido como Herói, mas ele tem lutado ao meu lado esse tempo todo. Como prova disso, conquistou grandes feitos na guerra recente contra o exército do Rei Demônio. Esses dois, traidores? Não aceito isso, nem como piada.

Os olhos do Herói Eligion estavam tomados pela raiva ao falar.

Calma.

Era óbvio que o Herói ficaria furioso assim.

Do ponto de vista dele, eu era apenas alguém que ele conheceu recentemente, sem histórico confiável.

Ele não confiaria em minhas palavras com facilidade.

Mas isso não queria dizer que eu pretendia recuar aqui.

— Herói, eu tenho o poder de ver o futuro.

— Hã?

— Por isso eu sei. Eu consigo ver os dois traindo você. Posso apostar minha vida nessas palavras. Então, se for provado que eles são inocentes, pode me executar sem hesitação.

O Herói Eligion estreitou os olhos levemente diante das minhas palavras.
Eu esperava que ele considerasse que minhas palavras tinham algum valor.

— Por isso, tenho um pedido, Herói. Por favor, fique sempre atento com esses dois. Não sabemos quando podem virar as lâminas contra você.

Depois disso, houve um momento de silêncio.
Parecia que o Herói Eligion estava tentando entender como interpretar o que eu havia dito.

— Você disse que tem o poder de ver o futuro. Pode provar isso aqui e agora?

Eu havia aumentado minha capacidade de persuasão, mesmo tendo mentido sobre ter esse poder, mas não era uma mentira total. Afinal, eu já havia visto muitos futuros.

— Bem, Herói, você já testemunhou meu poder com seus próprios olhos.

— Como assim?

— Veja, fui eu quem guiou você até aqui. Eu sabia onde o Rei Demônio Zoga estava, então pude levá-lo até esse lugar.

Assim que falei isso, não deixei de notar o momento em que os olhos do Herói Eligion se arregalaram.

— Por que eles me trairiam? Digo, os dois.

— Parece que eles fazem parte de um culto chamado “Caotismo.” Acredito que a intenção dessa organização seja tentar matar você, Herói.

Ao ouvir isso, ele murmurou em voz baixa:

— Agora que você mencionou… quem trouxe o Gorgano foi a Canaria.

— Você sabe de mais alguma coisa sobre esse “Caotismo” ou sobre seus objetivos?

— O objetivo da organização é ressuscitar o Rei Demônio e levar o mundo à destruição. A Cavaleira Sagrada Canaria está com um anel que pode ressuscitar o Rei Demônio.

Depois de passar essa informação, houve outro silêncio. Provavelmente ele estava refletindo se devia ou não acreditar em mim.

— Há alguma mentira nas palavras pelas quais você apostou sua vida?

— Não.

— Entendo.

O Herói Eligion assentiu com a cabeça e embainhou a espada que estava apontada para mim, dizendo:

— Não vou confiar completamente em você, mas vou respeitar suas palavras por ter apostado sua vida nelas.

Muito bem.

Por dentro, não pude deixar de sorrir com as palavras do Herói Eligion.

Dessa vez, talvez eu consiga evitar a tragédia.

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