Capítulo 80 – Escolta
Quando entrei na sala, a Cavaleira Sagrada Canaria e o Herói Eligion já estavam discutindo alguma coisa. O assunto parecia estar relacionado aos preparativos da viagem para a capital real no dia seguinte. Ao que tudo indicava, a alegação da Cavaleira Sagrada Canaria — de que tinha algo para discutir com Sua Alteza fora da sala — não era totalmente mentira.
No meio disso tudo, eu observava o comportamento dos dois com certo desconforto. Não seria surpresa se a Cavaleira Sagrada Canaria decidisse atacar a qualquer momento. Por isso, eu estava prestando atenção em cada mínimo movimento dela, em busca de qualquer ação suspeita.
Até agora, não havia sinal de nada suspeito.
— Terminei — disse a Cavaleira Sagrada Canaria, encerrando a conversa sem que eu percebesse.
— Agora é a vez da Kiska — disse o Herói Eligion, olhando pra mim.
Pensando bem, eu tinha dito que tinha algo a tratar quando entrei na sala. Ou seja, precisava mesmo falar alguma coisa.
— Eu vim aqui porque queria proteger o Herói-sama. Não posso garantir que não haja possibilidade de alguém tentar atacar o Herói-sama enquanto ele dorme.
— Realmente, foi imprudente dormir sozinho neste quarto.
O Herói Eligion assentiu com a cabeça, concordando.
— Sua Alteza! Se for sobre proteção, por favor, me deixe assumir essa função! Ou será que Sua Alteza pretende confiar mais numa aventureira de origem desconhecida do que em mim?
A Cavaleira Sagrada Canaria ergueu a voz em protesto.
É verdade que ela é, sem dúvida, mais confiável do que eu. No entanto, se ela assumisse o papel de guarda, todo o meu plano iria por água abaixo.
— Entendo. Nesse caso, vocês duas podem cooperar para me proteger. Com duas pessoas, podem se revezar no sono. Sim, essa é a forma mais eficiente.
O Herói Eligion chegou a essa conclusão.
Pelo visto, a Cavaleira Sagrada Canaria e eu seríamos responsáveis por protegê-lo.
◆
No fim das contas, o Herói Eligion foi dormir como de costume. A Cavaleira Sagrada Canaria e eu, encarregadas de protegê-lo, sentamos em cadeiras e ficamos monitorando a situação.
Como não trocamos uma palavra sequer, foi um momento de puro silêncio. Eu ficava me perguntando se ela pretendia assassiná-lo enquanto ele dormia, ou se o assassinato seria amanhã e isso aqui era só uma espera. Como não dava pra saber as reais intenções dela, eu precisava ficar alerta e preparado para qualquer coisa. Mas, pra ser sincero, isso era exaustivo demais.
Com o tempo, fui ficando cada vez mais cansado. Por causa disso, o sono começou a bater. Mas eu não podia me dar ao luxo de dormir. Esfreguei os olhos e olhei para a Cavaleira Sagrada Canaria. Como será que ela estava? Estava sonolenta como eu?
Pensando nisso, virei na direção dela. Ué? Sério mesmo? Eu duvidei dos meus olhos. Mas chequei de novo, e era real.
O motivo da minha surpresa era que a Cavaleira Sagrada Canaria estava dormindo na cadeira, e até roncando baixinho.
Sério isso? Alguém que se propôs a proteger simplesmente largar o posto pra dormir? Bom, o Herói Eligion falou sobre fazer turnos… será que ela tava testando isso? Mesmo assim, não custava avisar, né? Parecia até que ela tinha certeza de que o Herói não seria atacado essa noite, o que deixava suspeita a atitude de vir protegê-lo no quarto.
Pensando nisso, o cansaço me atingiu de vez, e eu também comecei a ficar com sono.
◆
Ouvi um barulho alto.
Na mesma hora, acordei.
Pelo visto, eu tinha pegado no sono. Fiquei envergonhado com isso, mas o mais importante era verificar a segurança do Herói Eligion e as ações da Cavaleira Sagrada Canaria.
Pareciam estar bem. O Herói Eligion dormia na cama, e a Cavaleira Sagrada Canaria ainda estava cochilando na cadeira.
Então… de onde veio aquele barulho?
— Ei.
De repente, alguém falou atrás de mim, e um arrepio percorreu minha espinha.
— Como está se sentindo?
Quem falou foi o Guerreiro Gorgano.
Aparentemente, o barulho que eu tinha escutado antes foi ele entrando na sala. Achei que a porta estivesse trancada, mas ele conseguiu arrombar de alguma forma.
— O que você quer?
— Só queria bater um papo.
— Sobre o quê?
— Não é o tipo de conversa que devemos ter aqui. Saia da sala por um momento.
— Não tenho intenção de sair deste lugar.
— Hmph, entendo. — Ele resmungou com irritação e continuou:
— Canaria, mudança de planos! Vamos partir direto pro ataque!
Assim que o Guerreiro Gorgano gritou isso, ele ativou a foice parasita Marionetista.
Tentei interceptar com minha Espada Ardente, mas não consegui parar o impacto, e meu corpo foi lançado contra a parede.
Mas havia algo ainda mais preocupante. Logo após o grito do Guerreiro Gorgano, a Cavaleira Sagrada Canaria, que parecia estar dormindo, saltou de repente e brandiu a espada na direção do Herói Eligion.
— Ei, a gente tá em perigo real aqui!
Gritei, em pânico. Normalmente, eu usaria linguagem formal com o Herói, mas em uma situação de emergência, isso não importava.
— Tch, errei.
Murmurou a Cavaleira Sagrada Canaria. Ela estava com a espada pronta pra cravar na cama, mirando diretamente na cabeça do Herói Eligion.
— Canaria, o que significa isso? Por favor, explique-se. Pode estar havendo um grande mal-entendido aqui.
Mesmo com uma espada apontada pra ele, o Herói Eligion respondeu com um sorriso calmo e confiante. Em contraste, a Cavaleira Sagrada Canaria falou:
— Sem negociações!
Ela brandiu a espada com força. Do ponto de vista dela, um simples movimento poderia decapitar o herói. Parecia que ele seria morto com certeza. Pelo menos, era o que eu achava.
— Gahh!
O grunhido veio da Cavaleira Sagrada Canaria. Seu corpo foi lançado com força contra a parede.
— Você me subestimou demais.
Disse o herói ao pegar sua espada. Ele ainda estava vivo.
Comentários Box