Capítulo 82 – Banquete
— Sério mesmo...
Até o exato momento em que entrei no calabouço em segurança, após mais uma ressurreição, eu ainda estava em choque.
Nunca imaginei que o Herói Eligion seria morto pela Cavaleira Sagrada Canaria.
Eu jamais teria previsto algo assim.
— Mesmo assim... esse método não deve estar errado.
Não acho que contar com o Herói Eligion seja o caminho errado.
Dessa vez falhou, mas se repetirmos várias vezes, eventualmente deve surgir um futuro em que o Herói Eligion vença.
Então, vamos tentar esse mesmo método mais uma vez.
◆
— E aí, eu agi como se estivesse refazendo a linha do tempo anterior.
— Não, não, não...
Bem na minha frente, lá estava ele: o insano Herói Eligion.
Algum tempo depois, Eligion foi morto pelas mãos da Cavaleira Sagrada Canaria.
Ah... também não funcionou dessa vez.
Com esse resultado, cortei minha própria garganta com uma espada.
◆
Depois de buscar um jeito de contar com Eligion, essa já era a terceira tentativa.
De algum modo, eu me esforçava para fazer com que as palavras "Vila Luna", a origem da loucura de Eligion, saíssem da boca da Cavaleira Sagrada Canaria.
— Ei, não atrapalha.
Como fui dominado pelo guerreiro Gorgano, não consegui fazer nada.
No fim, mais uma vez, Eligion enlouqueceu e foi morto.
Também não deu certo dessa vez.
◆
Quarta tentativa.
Decidi contar ao Herói Eligion com antecedência que a Cavaleira Sagrada Canaria era da Vila Luna. Imaginei que, se ele soubesse antes, o choque na hora da revelação seria menor.
Então, depois de dizer que Canaria e o guerreiro Gorgano eram traidores dentro do calabouço, também mencionei a Vila Luna.
— Kiska-kun, se você disser mais do que isso, eu vou ficar irritado.
No momento em que mencionei a Vila Luna, Eligion fez uma cara visivelmente desagradada.
— Mas, por favor, não se esqueça. A Cavaleira Sagrada Canaria é da Vila Luna, e é por isso que ela guarda rancor de você, Herói!
— Cale a boca!
Tum, levei um soco com força total no abdômen.
Gemendo de dor, continuei observando Eligion.
— Escuta, se você repetir isso de novo, não serei tão bonzinho da próxima vez.
Depois disso, Eligion passou a me tratar com frieza.
Nas linhas do tempo anteriores, ele me dava permissão para entrar no quarto e fazer a guarda enquanto dormia, mas dessa vez, nem deixou eu me aproximar da porta.
Pelo visto, para Eligion, a palavra “Vila Luna” era um verdadeiro tabu.
No fim, assim como antes, Eligion foi morto pela Cavaleira Sagrada Canaria.
◆
Quinta tentativa: sem sucesso.
Sexta tentativa: sem sucesso.
Oitava tentativa: sem sucesso.
Nona tentativa: sem sucesso.
Décima tentativa: sem sucesso.
…
Trigésima tentativa: também sem sucesso.
◆
Trigésima primeira tentativa.
"Se não der certo dessa vez, vou desistir", pensei enquanto voltava da morte, andando mais uma vez pelos corredores do calabouço.
Não importa quantas vezes eu tentasse, Eligion sempre era morto pelas mãos de Canaria.
Se não funcionar dessa vez, vou tentar pensar em outra abordagem.
Com essa decisão, voltei até onde Eligion estava.
A partir dali, a linha do tempo se manteve igual.
Informei Eligion de que Canaria e Gorgano eram traidores.
— Não confio completamente em você, mas vou respeitar suas palavras sobre 'arriscar a própria vida'. — essa frase eu já tinha escutado várias vezes.
— Obrigado. — respondi, inclinando a cabeça.
Depois, usamos a magia de teletransporte da maga Nyau para sair do calabouço.
Então, uma celebração foi realizada na Vila Katarov, bem parecida com as comemorações de vitória que eu já havia vivenciado muitas vezes antes.
— Ei, Kiska, tá se divertindo? — Eligion me perguntou durante o banquete.
A partir dali, fiquei trocando conversa fiada com ele.
Não mencionei nada sobre a Vila Luna. Trazer esse assunto só iria enfurecê-lo.
— Kiska, você ainda parece meio pra baixo. — disse Eligion de repente, no meio do banquete.
Pra baixo... É. Repetir os mesmos eventos várias vezes talvez tenha me deixado meio neurótico.
— Acho que bebi um pouco demais.
— Bom, talvez você devesse descansar um pouco, então?
— Me desculpa, vou fazer isso.
— Não precisa se preocupar com isso.
Com a gentileza de Eligion, me levantei para procurar um lugar tranquilo.
Se eu continuasse ali, provavelmente seria abordado pelo guerreiro Gorgano, e só de pensar nisso já me desanimava.
Por que eu tinha que conversar com inimigos com quem logo mais eu estaria lutando até a morte?
Então, decidi descansar em algum lugar onde ninguém me encontrasse.
Afinal, a luta só começaria ao anoitecer, então não teria problema matar o tempo até lá.
— Aqui deve ser seguro, eu acho... — murmurei, ao chegar num beco isolado, longe da festa.
Aqui, ninguém devia me encontrar.
Pensando nisso, sentei no chão.
— Ei, por que você sentou do meu lado desse jeito?
— Hã?
Olhei na direção da voz e vi Nyau, a elfa maga, sentada no chão. Ela era tão pequena que eu nem tinha notado sua presença até então.
— Na verdade, você que acabou sentando onde eu já tava sentada.
— Não, nada disso! Você escolheu sentar exatamente onde a Nyau tava!
— ...Nem percebi você aí, de tão pequena que é.
— Pe... pequena! Você me chamou de pequena! Fuee~
Pelo jeito, aquilo ia virar uma barulheira, então tapei a boca da Nyau pra ela parar de falar.
Ela parecia querer dizer algo, mas depois de segurá-la um pouco, acabou desistindo e ficou quieta.
— Finalmente, silêncio — disse eu, soltando minha mão.
— Com a boca tampada assim, achei que não ia conseguir respirar e ia morrer — respondeu Nyau.
— Mentira. Você podia respirar pelo nariz.
Conversamos enquanto eu encostava na parede, só esperando aquele banquete acabar logo.
— Por que você veio pra cá? A festa ainda tá rolando — Nyau perguntou.
— Me cansei de conversar com as pessoas. Por isso vim pra cá.
— Entendi. Mas e você? Por que veio?
Pensando bem, nunca tinha visto a Nyau no banquete nas outras linhas do tempo.
Fiquei surpreso por ela estar escondida ali.
— Eu não sou boa com esse tipo de reunião.
— Por quê?
— Tá todo mundo bebendo, né? Eu também queria beber...
— Não, bebida não é coisa pra criança.
— Argh! É exatamente por isso que eu não gosto! Todo mundo me trata como se eu fosse uma criança!
Enquanto dizia isso, os olhos de Nyau se enchiam de lágrimas.
Provavelmente ela nem percebia que era justamente por ter esse tipo de reação que todos a tratavam como criança.
— Foi mal. Toma, prova isso aqui — falei, meio incomodado com as lágrimas, enquanto oferecia a ela um copo com o álcool da jarra que eu tinha levado pra mim.
Nyau pegou o copo e deu um gole.
— Isso tem um gosto horrível!
Foi só o comentário rápido dela.
Na minha cabeça, pensei que ela ainda era bem criança, mas preferi não dizer nada em voz alta. Quis ser gentil.
— Por que você tá rindo da Nyau? — ela me acusou.
Aí percebi que tinha começado a rir.
Fazia muito tempo que eu não ria assim.
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