Chapter 85: Determinação

— Un, nya...

De repente, a maga Nyau, deitada na cama, abriu os olhos com uma voz fraca.

— Finalmente você acordou.

— Ah... Onde estou? Que lugar é esse?

— É uma estalagem na capital. O segundo andar desabou, mas o térreo ainda estava de pé, então me aproveitei disso e trouxe você pra cá.

— Você me carregou até aqui, não foi? Obrigada.

Sim. Depois que a Nyau desmaiou, não dava pra simplesmente deixar ela lá. Então procurei um lugar onde ela pudesse descansar e a trouxe até aqui.

— Ah, e achei que talvez você estivesse com fome, então consegui alguma comida. Quer comer?

— Eu agradeceria muito. E se tiver um pouco de água, também seria ótimo.

Ah, isso eu consigo rapidinho, já que deve ter um poço por perto.

Depois de dar água pra ela, Nyau e eu comemos juntos. Foi uma refeição simples, feita com o que restava de um prédio atacado.

— Ei, Nyau. O que você pretende fazer agora?

Perguntei isso enquanto a gente comia.

— Bem...

Nyau assentiu com um semblante meio pesado.

— Acho que devíamos começar procurando o mestre supremo da espada, que tá nessa capital.

Existe a possibilidade de que ele esteja morto, mas também há uma boa chance de ainda estar vivo. Então, primeiro, devíamos procurar o mestre supremo da espada e decidir o que fazer depois de encontrá-lo.

Pensei nisso e falei, mas Nyau ficou em silêncio, sem dizer uma palavra.

Achei estranho e fiquei observando Nyau por um tempo. Aí, ela abriu a boca e disse uma coisa:

— Me desculpa...

Depois disso, ela começou a falar com sinceridade:

— Antes de vir pra capital, eu tava tão determinada a derrotar o Lorde Demônio. Me sinto muito mal por isso, mas... por mais que eu me esforce, acho que é difícil virar esse jogo agora. Acho que já é impossível pra mim. Então, me desculpa. A culpa é toda minha...

— Mas se conseguirmos nos unir ao mestre supremo da espada, ainda há chance de derrotar o Lorde Demônio.

— Eu acredito que o mestre supremo da espada provavelmente está morto.

— Por que você acha isso?

Perguntei, e Nyau estendeu o dedo indicador, mostrando a tela de status.

— É porque a Nyau foi promovida ao Rank 10 dos Mestres.

De fato, na tela de status que a Nyau mostrou, estavam lá as palavras “Mestre” e o número “10”.

Originalmente, o rank dela era abaixo do rank Diamante, que por sua vez é abaixo do rank Mestre. O rank Mestre é um título especial que só os 10 melhores alcançam. O fato de a Nyau ter sido promovida pra esse nível indica, em outras palavras, que uma das posições entre os 10 grandes espadachins ficou vaga. Por isso ela acha que o antigo mestre supremo da espada de rank 10 pode ter morrido.

— Talvez... o mestre supremo ainda esteja vivo. Além disso, tem também o Grande Sábio, né?

Só porque a Nyau virou uma Mestre, não dá pra dizer com certeza que o mestre supremo morreu. É possível que outros Mestres tenham morrido. E quando o herói Eligion morreu, pode ter surgido uma vaga, o que explicaria a promoção da Nyau.

Tentei passar essa ideia, mas...

— Pode ser verdade...

Nyau apenas assentiu com uma expressão triste.

Ah, entendi. O motivo dela estar assim não é só por ter virado Mestre. Isso foi só o gatilho. O problema real é mais profundo.

Talvez o espírito dela só tenha sido quebrado.

E claro, não dá pra culpar. Depois de ver a cidade destruída e enfrentar os exércitos do Lorde Demônio, talvez não tenha sobrado ninguém que ainda lute com esperança.

Talvez, nessa linha do tempo, realmente seja impossível.

Se a Nyau, que era nossa única esperança, está nesse estado, então provavelmente não dá pra derrotar o Lorde Demônio.

Talvez seja hora de desistir e reiniciar de novo.

— Me desculpa...

— Por que você tá se desculpando, Kiska-san?

— Se eu fosse mais forte, talvez a Nyau não tivesse passado por isso.

— N-Não... Por favor, não se desculpe. A culpa é toda da Nyau...

Enquanto dizia isso, as lágrimas começaram a se formar nos olhos dela.

Por mais que eu negasse e dissesse que não era verdade, provavelmente não ia alcançar o coração dela. Então, tudo que eu podia fazer era ficar em silêncio.

◆

— Uhm, Kiska-san, posso te pedir uma coisa...?

Depois de procurar pela cidade e não encontrar o mestre supremo da espada Nidorg, acabamos decidindo passar mais uma noite na estalagem.

E quando nos deitamos pra descansar, Nyau falou:

— Kiska-san... Eu, uhm, queria dormir segurando sua mão. Pode ser?

— Hã, bom...

Dormir de mãos dadas não era grande coisa, mas pra isso, teríamos que dividir a mesma cama.

— Acho que seria difícil segurar sua mão sem dividir a cama.

Quando eu disse isso, Nyau só abaixou a cabeça em silêncio.

De certo modo, foi até triste de ver.

A Nyau que eu conheci no começo não era assim. Ela era animada, confiante e cheia de atitude. Mas agora, tinha escondido completamente tudo isso.

A Nyau de agora só carregava melancolia.

— Vem, deita aqui.

Não consegui recusar o pedido dela, então a guiei até a minha cama.

Ela era tão baixinha que, mesmo na cama de solteiro, não ficou apertado.

— Só de mãos dadas, tá bom?

— Obrigada.

Ela entrelaçou os dedos com um sorriso tímido.

Ao ver aquele jeito meigo da Nyau, não consegui evitar de pensar que ela parecia um gatinho. Fofa como um filhote, despertava meu instinto de proteger.

— Uhm, Kiska-san, você é muito gentil.

— ...Não acho que seja.

Eu não lembrava de ter feito nada de mais pela Nyau.

— Não é verdade. O Kiska-san é gentil e muito confiável.

— É mesmo...

— Sim. Uhm... Mesmo eu tendo dito aquilo antes, quero tentar um pouco mais. Quero lutar de novo pra derrotar o Lorde Demônio.

Achei que o espírito da Nyau já estivesse completamente quebrado, mas ela era bem mais forte do que imaginei.

— Então... eu ficaria feliz se o Kiska-san não me abandonasse.

— Se eu puder fazer algo, eu vou ajudar.

— Obrigada...!

Ela agradeceu com lágrimas nos cantos dos olhos.

Mesmo sem eu ter feito nada que merecesse agradecimento.

Achei que a Nyau já tivesse desistido, e por isso pensei em abandonar essa linha do tempo e voltar no tempo.

Mas talvez... talvez ainda valha a pena apostar nela mais um pouco.

Só o poder da Nyau pode não ser o suficiente pra salvar o mundo.

Mas eu queria ver como ela viveria a vida dela nessa linha do tempo.

E, ao passar mais tempo aqui, talvez eu encontre pistas sobre a Agetha.

Com essa determinação no coração, fechei os olhos e adormeci.