Capítulo 86 – Lágrimas
No dia seguinte, partimos da capital.
No fim das contas, não conseguimos encontrar o mestre supremo da espada, Nidorg. Como achamos que continuar procurando seria em vão, decidimos desistir e seguir para o próximo destino.
Nosso próximo destino era o Império Ritzken, país vizinho ao Reino de Rastarna.
O Império Ritzken tinha um território menor que o Reino de Rastarna, mas sua força militar era praticamente equivalente. Além disso, a Nyau enfatizou que era um país que investia bastante em pesquisa mágica.
E aparentemente, alguém com o título de Nono Grande Sábio estava no Império Ritzken.
Concluímos que havia uma grande chance de o exército do Rei Demônio — provavelmente liderado por dragões — atacar o Império Ritzken em seguida.
O motivo era simples: a maior cidade próxima à capital do Reino de Rastarna era justamente no Império Ritzken. Então, decidimos ir até lá antes do exército inimigo e unir forças com os soldados do Império para enfrentar as tropas do Rei Demônio.
Depois de nos prepararmos para a viagem, montamos em cavalos e seguimos pela estrada que levava até o Império Ritzken, sem parar.
— Parece que essa vila ainda não foi atacada — comentou Nyau, observando uma vila onde fizemos uma parada.
— Pode ser uma boa ideia passar a noite aqui, já está escurecendo.
— Entendido.
Mesmo querendo chegar logo ao Império Ritzken, já estava próximo do pôr do sol, e continuar viajando seria perigoso. Por isso, decidimos ir até uma taverna para jantar.
— Tá bem barulhento aqui dentro.
No momento em que entramos, percebi que a taverna estava em polvorosa. Todo mundo parecia envolvido em conversas bem sérias.
— Talvez devêssemos ouvir o que estão dizendo.
— É uma boa ideia.
Decidimos nos aproximar das pessoas para saber o que estava acontecendo.
— Aconteceu alguma coisa?
— Vocês são aventureiros?
— Sim, somos sim.
Como estávamos equipados com espadas e cajados, era natural que pensassem isso.
— Nesse caso, sabem de algo sobre o exército do Rei Demônio?
— Sabemos que ele capturou a capital.
— Então é verdade mesmo!
Como esperado, a causa da comoção era relacionada ao exército do Rei Demônio.
— É verdade que o Herói morreu?
— É verdade, sim.
— Droga… Se não tem mais Herói, quem é que vai deter o Rei Demônio?
Um dos aldeões disse isso batendo o punho na mesa.
Depois disso, ouvimos várias histórias dos moradores.
Pelo que parece, alguém conseguiu fugir da capital e espalhou a notícia de que o exército do Rei Demônio tinha capturado a cidade e matado o Herói.
No começo, ninguém acreditou nessa pessoa, mas como ela contava a história com tanto desespero, começou a parecer mais e mais convincente.
O que realmente confirmou tudo foi outra pessoa que entrou na taverna, dizendo que viu o exército do Rei Demônio avançando. Com o depoimento dessas duas pessoas, ficou claro que as informações eram verdadeiras. Por isso, os aldeões estavam discutindo o que fariam a seguir.
— Por enquanto, que tal falarmos com quem fugiu da capital e com a pessoa que viu o exército avançando?
— Acho uma boa ideia.
Com a concordância da Nyau, nos aproximamos dos dois.
— Ei, foi você quem fugiu da capital?
— Sim, fui eu.
A pessoa estava vestida como um soldado, mas coberta de sujeira e ferimentos. Só de olhar dava pra ver o quanto sua fuga tinha sido desesperadora.
— Estamos reunindo informações sobre o Rei Demônio. Se puder, gostaríamos de ouvir sua história.
— E de que adianta juntar informações sobre o Rei Demônio agora?
— Para derrotar um inimigo, o primeiro passo é entender quem ele é, não acha?
Depois que falei isso, o soldado nos olhou com certa desconfiança.
— Vocês parecem ter equipamentos raros. Ou seja, devem ser bem habilidosos, pelo que vejo.
A Nyau até podia parecer só uma garotinha para quem não a conhecia, mas só de olhar pro equipamento dela, dava pra sentir o poder.
— Nesse caso, vou contar o que aconteceu na capital.
O soldado então começou a relatar o ataque do exército do Rei Demônio à capital. No entanto, eu já tinha presenciado tudo em outra linha do tempo, então nada do que ele falou foi exatamente novo pra mim.
— Você por acaso sabe de algo sobre o mestre supremo da espada, Nidorg?
— Sim, provavelmente ele já está morto. Eu vi com meus próprios olhos. O Lorde Nidorg enfrentando os demônios com coragem.
— Entendi…
Parecia mesmo muito provável que o mestre supremo da espada, Nidorg — que ocupava o posto de Mestre — tivesse morrido.
— E ouviu falar de uma garota chamada Agetha?
— …Não, desculpe, nunca ouvi esse nome.
— Entendi. Obrigado por compartilhar isso. Agradeço de verdade.
— Eu que fico feliz se pude ajudar vocês com algo.
— Ah, mais uma coisa. Não é exatamente um agradecimento, mas… posso curar seus ferimentos?
Dizendo isso, a Nyau usou magia de cura para tratar os machucados do soldado.
— Se ficar quieto um pouco, tudo deve se curar.
— Ah… Muito obrigado, senhorita.
Depois de ele agradecer, nos afastamos do local.
As informações que conseguimos foram meio decepcionantes. Serviram apenas pra confirmar que a morte de Nidorg era praticamente certa.
Por ora, decidimos tentar falar com a pessoa que disse ter visto o exército do Rei Demônio avançando.
— Ah, claro, tudo bem!
Quando perguntei, o aldeão começou a contar animadamente sobre o que tinha visto. Segundo ele, o exército do Rei Demônio estava marchando mais ao sul pela estrada, e ele tinha fugido para essa vila para não ser visto.
E aparentemente, o exército do Rei Demônio era composto por mais de mil dragões e dezenas de milhares de demônios.
— Obrigado por compartilhar sua história.
— Ah, não foi nada!
— Tem mais uma coisa que eu queria perguntar: você já ouviu falar de uma garota chamada Agetha?
— Hm...? Não, nunca ouvi falar. Desculpa não poder ajudar.
Como esperado, essa pessoa também não sabia nada sobre a Agetha.
Depois disso, comemos na taverna e então seguimos para a estalagem.
— Nyau, o que vamos fazer sobre o quarto? Quartos separados ou…
— E-eu quero dividir o quarto!
A preferência da Nyau fez com que acabássemos dormindo no mesmo quarto.
— Parece que só tem uma cama aqui.
Observando o quarto, comentei isso. Deveria ter conferido quantas camas tinha antes.
— Vamos ter que dividir a cama de novo.
Nyau disse isso meio envergonhada.
Como já tínhamos dormido na mesma cama na noite anterior, eu não tinha mais nenhuma hesitação quanto a isso.
— Em vez disso, vamos conversar sobre os planos pra amanhã.
— S-sim!
Com isso, sentamos na cama e começamos a discutir o plano para o dia seguinte.
— O fato do exército do Lorde Demônio ter sido visto ao sul daqui sugere que eles provavelmente vão passar pela cidade de Natos antes de seguir para o Império Ritzken.
A cidade de Natos é uma das que fazem parte do Reino de Rastarna e só fica atrás da capital em termos de prosperidade. O exército do Lorde Demônio provavelmente pretende atacar Natos pra conseguir suprimentos antes de marchar até Ritzken.
— Do jeito que está, se a gente sair de manhã, deve dar pra chegar em Ritzken antes do exército do Lorde Demônio.
Levando em conta o tamanho do exército inimigo e a probabilidade deles passarem por Natos, parecia que a gente realmente conseguiria chegar em Ritzken primeiro.
— Uhm... Será que a gente não devia ajudar as pessoas que moram em Natos?
Foi só quando a Nyau falou isso que percebi que nem tinha cogitado ajudar os moradores de Natos. Eu simplesmente tinha decidido deixá-los por conta própria.
Apesar de ter razões pra isso — como a maior chance de sucesso indo direto pra Ritzken e a possibilidade de que já fosse tarde demais pra ajudar Natos — eu deveria, pelo menos, ter considerado a opção de ir até lá.
— Desculpa! A Nyau não devia ter dito isso, né?
Nyau abaixou a cabeça na mesma hora e pediu desculpas.
— Não, é só que...
Eu não sabia o que dizer e fiquei em silêncio. Nyau não tinha motivo nenhum pra se desculpar. Se alguém errou aqui, fui eu.
— Desculpa. A culpa é minha. Eu devia ter pensado mais nas pessoas de Natos.
— Não é culpa sua, Kiska.
— Não, é totalmente minha culpa. Eu acho que os sentimentos da Nyau são o que mais importa. Se a Nyau quiser ajudar o pessoal de Natos, eu apoio e vou fazer de tudo pra ajudar.
Na batalha que estava por vir contra o exército do Lorde Demônio, quem ia lutar era a Nyau, não eu. Eu só podia ajudá-la o máximo que conseguisse. Por isso, priorizar os sentimentos dela era o mais importante. Era meu dever criar as melhores condições pra ela.
— Eu quero seguir o que o Kiska decidir.
— Não, isso não faz sentido. Eu quero respeitar os sentimentos da Nyau.
— Mas tem um motivo pra irmos pro Império Ritzken em vez de Natos.
— É, isso é verdade...
Assenti com a cabeça e comecei a explicar por que eu achava melhor irmos direto para o Império Ritzken. Havia uma razão estratégica pra isso.
Em Natos, não havia uma força militar significativa, e se fôssemos pra lá, provavelmente a cidade cairia rapidamente, o que representava um risco enorme. Faria mais sentido irmos direto para Ritzken, unir forças com o exército de lá e nos prepararmos pra uma defesa conjunta. Além disso, mesmo se corrêssemos pra Natos agora, já poderia ser tarde demais.
— Entendi. Então... me desculpa, mas eu não quero ir pra Natos. A Nyau acha que devemos ir pro Império Ritzken.
Depois de ouvir a explicação, Nyau pareceu aceitar e fez seu pedido. Mas por trás daquela expressão, eu consegui ver uma tristeza profunda.
Ah, o que foi que eu fiz? Percebi que tinha deixado a decisão de abandonar Natos nas mãos da Nyau, e isso só causou sofrimento a ela. Mesmo com a intenção de fazer o melhor pra ela, acabei piorando as coisas.
Pensando bem, eu deveria ter decidido ir direto pra Ritzken desde o começo. Deveria ter assumido o peso de abandonar Natos sozinho, sem jogar essa escolha nas costas da Nyau.
— Desculpa, Nyau.
Sentindo remorso, não consegui evitar dizer isso.
— P-por que você tá pedindo desculpa, Kiska?
Enquanto falava, lágrimas começaram a brotar nos olhos da Nyau.
— Ué... que estranho. Por que... por que eu tô chorando...?
Enquanto dizia isso, Nyau esfregava os olhos desesperadamente, tentando conter as lágrimas. Eu só conseguia sentir pena dela. Sem perceber, abracei a Nyau com força, querendo fazer alguma coisa pra confortá-la.
Daquele momento em diante, Nyau começou a chorar nos meus braços. Ela tinha um coração puro e gentil que me deixava completamente encantado.
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