Capítulo 89 — O Grande Sábio
— Por aqui. O Grande Sábio Aglupus está esperando.
A pessoa que nos guiava até a imensa porta falou isso enquanto tentava abri-la. Olhei de relance para a Nyau ao meu lado — ela parecia bem nervosa.
Do outro lado daquela porta, aparentemente, estava o Grande Sábio Aglupus. Fico imaginando que tipo de pessoa ele é.
— Seja bem-vinda, Sábia Nyau.
Uma voz rouca soou de dentro.
— Faz tempo, Grande Sábio Aglupus.
Nyau respondeu com uma reverência.
Ah, então esse é o Grande Sábio Aglupus. Para falar a verdade, sua aparência estava bem longe do que se espera de alguém com esse título. Cabelos longos desgrenhados, olheiras profundas, barba por fazer, bochechas pálidas e parecia estar à beira da morte de tão magro.
As roupas também eram bem simples, o oposto do que se esperaria do líder de uma nação. Mas o trono onde ele estava sentado era absurdamente luxuoso, reluzente em dourado, o que criava um contraste bem esquisito.
— Não precisa me chamar de "Grande Sábio". Você também foi promovida a Mestre, não foi? Então somos iguais.
— Não, a Nyau ainda é uma novata. Por favor, me permita manter essa formalidade.
— Hmph, tudo bem. Sábia Nyau, vamos conversar em particular. Me acompanhe até a sala de recepção.
O Grande Sábio Aglupus se levantou e pareceu se dirigir para a tal sala.
— H-Hum, com licença!
Mas Nyau levantou a voz e o interrompeu.
— Grande Sábio Aglupus, eu tenho um pedido. Quero que ele participe da conversa também.
Ela apontou pra mim.
— Hã?
O Grande Sábio me olhou com uma cara nada contente.
Não esperava ser o centro das atenções, então fiquei meio desconfortável.
— Prazer, me chamo Kiska — me apresentei.
— Sábia Nyau, quem é esse rapaz?
— Ele foi a peça-chave no incidente recente na Vila Katarov.
— Ele é confiável?
— É a pessoa em quem mais confio.
— Entendo… Mas ainda assim, não vejo razão pra ele estar nessa conversa.
Aglupus tinha um ponto. Comparado a eles, eu era só um aventureiro qualquer. Nem eu entendia o motivo da insistência da Nyau.
— É uma intuição da Nyau. Eu acredito que o Kiska tem valor nesta conversa.
Ela disse isso com firmeza, como se não tivesse dúvidas. Eu, sinceramente, achei que ela tava me superestimando.
— Hmph…
Aglupus assentiu com a cabeça e então me lançou um olhar afiado, daqueles que te analisam da cabeça aos pés.
— Não entendo qual o valor desse rapaz, mas permitirei que participe, baseado na palavra da Sábia Nyau.
Ao que tudo indicava, eu podia ficar.
◆
— Com licença, vou deixá-los agora.
O criado colocou algumas xícaras com bebidas na mesa da sala de recepção e saiu.
Aglupus estava sentado do outro lado da mesa, e Nyau, ao meu lado.
— Não sou de enrolar, então vou direto ao ponto. O Herói está morto, certo?
— Sim. O Herói Eligion faleceu.
Nyau respondeu com um olhar abatido.
— Entendo. Mas tem algo estranho nisso. Por que meu ranking não subiu?
O Grande Sábio Aglupus mostrou a própria tela de status. Estava escrito "Mestre", com a classificação de número 9.
De fato, se o Eligion — que era o número 7 — morreu, fazia sentido o ranking do Aglupus subir.
— Nem a Nyau sabe explicar isso.
— Bom, tudo bem. Mesmo que o Herói esteja vivo, se ele não aparecer, é como se tivesse morrido.
Depois disso, Aglupus e Nyau começaram a trocar as informações que tinham: o que aconteceu em Katarov, a traição da Cavaleira Sagrada Canaria e do Guerreiro Gorgano, a morte do Herói Eligion, a queda da capital para o exército do Lorde Demônio, e o avanço iminente das tropas inimigas rumo à capital do Império Ritzken, Larrichmond.
Havia uma chance enorme de a guerra começar já no dia seguinte.
— O fato de os dragões terem se aliado ao Lorde Demônio é bem estranho. Normalmente, dragões são criaturas solitárias, que não se submetem a ninguém. Até na “Batalha de Arianne”, o Lorde Demônio não usou dragões.
Me lembrei dessa batalha. Foi um grande confronto entre o exército do Herói e o do Lorde Demônio — e o Herói saiu vitorioso.
— Mas nossos batedores descobriram algo curioso. Parece que há um homem no exército do Lorde Demônio capaz de comandar dragões.
— Um homem que comanda dragões…?
— Isso. Um sujeito enigmático. Quando ele levanta a voz, vários dragões aparecem ao redor. Chamam ele de “Rei dos Dragões”.
— Rei dos Dragões…
Um homem que controla dragões com facilidade. Faz sentido chamarem ele assim.
— Ao que tudo indica, havia um pacto secreto entre esse Rei dos Dragões e o Lorde Demônio. Se conseguissem matar o Herói, o Rei dos Dragões se tornaria subordinado do Lorde Demônio.
Então é por isso que o Lorde Demônio comanda dragões agora. A conversa com o Grande Sábio seguiu tentando definir como enfrentar esse novo inimigo.
O destino do Império Ritzken dependia muito das ações da Sábia Nyau e do próprio Grande Sábio Aglupus.
— Mesmo assim, perder o Herói foi um golpe duro.
— Foi culpa minha… Me desculpe.
Nyau abaixou a cabeça, visivelmente abalada.
— Mas será que… a presença do Herói é realmente indispensável pra derrotar o Lorde Demônio?
Interrompi, falando pela primeira vez. Queria mudar de assunto antes que começassem a pressionar ainda mais a Nyau.
— Sim. O Herói carrega a bênção do Deus Supremo, Puthos.
Essa era uma lenda tão famosa que até eu conhecia.
— Dizem que a bênção garante vitória em qualquer situação. Não sabemos se é verdade, mas só a presença do Herói já traz segurança.
Vitória garantida… Fiquei pensando se minha habilidade, “Salvar & Reiniciar”, também não era uma forma de bênção divina. Mas mesmo com ela, já houve vezes em que perdi. Então, talvez fosse algo diferente.
— Hum, posso fazer uma pergunta ao Grande Sábio Aglupus?
— Pode. Diga.
— O senhor já ouviu falar de alguém chamado Agetha?
— Agetha? Nunca ouvi esse nome. Essa pessoa é importante?
— É uma amiga muito querida. Estou procurando por ela, mas não faço ideia de onde possa estar — Nyau respondeu.
— Entendo. Espero que a encontre.
Mesmo alguém tão influente quanto Aglupus não conhecia a Agetha. Onde será que ela está?
— Notícias urgentes!
De repente, alguém irrompeu pela porta da sala.
A porta foi escancarada com violência, e a voz da pessoa estava carregada de urgência.
— As tropas do Lorde Demônio invadiram nosso território!
Ao que tudo indicava, a batalha já havia começado.
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