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Chapter 100: Morrendo várias vezes

 Capítulo 100 – Morrendo várias vezes

Quando olho pra minha vida, não consigo evitar de pensar — "Que vida miserável eu levei." Por causa do meu cabelo naturalmente prateado, fui constantemente perseguido pelas pessoas da vila. A terra que cultivei foi destruída, jogaram pedras em mim sem motivo, me enganaram nos impostos e me atormentaram de todas as formas possíveis.

Minha mãe morreu de doença, e Namia — a única que algum dia me ajudou — foi assassinada no dia em que prometemos nos casar. Mesmo agora, quando me lembro disso, uma emoção profunda e sombria sobe do fundo do meu coração. Não importa quantas vezes eu mate Darga e os outros aldeões que tiraram a vida de Namia, parece que essa raiva fervente nunca vai desaparecer.

Sim, minha vida sempre foi miserável. Mas, quando penso na coisa mais afortunada que já me aconteceu, chego a uma única conclusão: foi ter recebido a habilidade “Salvar & Resetar” da Agetha.

Sem essa habilidade, eu teria sido devorado por monstros há muito tempo, terminando minha vida miserável. Mas graças a ela, ainda consigo sobreviver. Por isso, Agetha — quem me deu essa habilidade — é como uma salvadora aos meus olhos, uma presença insubstituível, e eu nunca vou conseguir agradecer o suficiente.

— Kiska, responde com sinceridade. Por que você está no mundo de cem anos atrás?

Atualmente, estou sendo imobilizado por essa mesma salvadora. Estou de bruços, sendo usado como degrau, com os pulsos amarrados e uma espada apontada pro meu pescoço.

— Depois que a Agetha fez alguma coisa, fui mandado pra um mundo onde não havia nada.

— Eu não entendo. Olha, o que eu fiz foi apagar o fato de que salvei o mundo. Em outras palavras, eu destruí o mundo. E quando o mundo é destruído, tudo o que sobra é um mundo de absoluto vazio. Em um mundo assim, nenhuma forma de vida deveria existir. Então por que você estava vivendo num lugar assim?

Enquanto Agetha falava, o poder dela aumentava cada vez mais. Eu, ainda imobilizado por ela, sentia um desconforto crescente a cada palavra que saía da sua boca.

— Isso é porque eu sou uma existência removida da causalidade — respondi.

— Quem te disse isso? Quem falou algo assim?

— O Observador. Foi como se apresentou, apareceu bem na minha frente.

— Observador? O que é isso?

— Esse Observador me disse pra ir pro mundo de cem anos atrás.

— Ah, não, eu não quero ouvir mais nada!

Naquele instante, Agetha enlouqueceu. Sangue voava. Parece que ela havia cortado minha garganta.

Acordei e percebi que tinha resetado.

Como antes, eu estava dentro da masmorra.

— Ah… AAAAAAHHHHHHHH!!! — Agetha estava na minha frente, agachada, segurando a cabeça e gritando.

— Ei… Agetha, você tá bem? — perguntei, sem saber o que fazer.

— Quem é o Observador? Como ele era? — Agetha perguntou, parando de gritar.

Hmm… como ele era mesmo? Tentei lembrar com força. Mas era difícil colocar em palavras…

— Não sei direito. Como posso dizer… era meio nebuloso no geral, assimétrico e longe de parecer humano.

— É um deus?

— Não, ele mesmo disse que não era.

— Entendi.

Agetha assentiu e se levantou com dificuldade.

— Então foi esse Observador que te mandou pra essa época.

— Isso mesmo.

— Que incômodo. Uma existência além do conhecimento humano. E você, Kiska, foi completamente iludido pelas palavras dele.

Bom, naquela hora, eu não tinha outra opção. Então, acabei seguindo o que ele disse. E mesmo agora, não acho que tenha sido um erro.

— Sinceramente, isso é um estorvo.

Agetha me lançou um olhar afiado.

— Por causa da existência do Kiska, o mundo nunca vai acabar, não importa quanto tempo passe. Eu quero que esse mundo desapareça agora! Então, morra. Se o Kiska morrer, eu vou morrer junto. E aí, não vai restar ninguém com a habilidade "Salvar & Resetar". E se isso acontecer, ninguém vai mais impedir o fim do mundo.

Enquanto falava, Agetha foi se aproximando de mim.

— Mesmo que você me mande morrer, se eu morrer, vou apenas resetar pra um momento anterior a isso.

Até agora, eu já morri centenas de vezes. E toda vez, eu resetava.

— Ei, não finge que não sabe. Tenho certeza de que você já percebeu que o reset não é forçado. Você pode sair desse jogo quando quiser. Quando você morre, aparece uma tela, né? “Quer tentar de novo? Sim, Não.”

As palavras da Agetha estavam certas.

Sempre que eu morria, aparecia “GAME OVER” e me perguntavam se eu queria tentar de novo.

Eu sempre fiquei com medo de apertar “Não”, então, sem pensar muito, escolhi “Sim” todas as vezes.

— Olha, eu não dei “Salvar & Resetar” só pra você. Dei pra todo mundo que apareceu aqui na Masmorra de Katarov. Mas todos, depois de morrer umas três vezes, desistiram e escolheram o “Não”. Kiska, você é o único que continua escolhendo o “Sim” sem parar, não importa quantas vezes morra.

Agetha já tinha comentado antes que havia dado a habilidade pra outras pessoas. Mas agora entendi. Se você escolhe “Não”, o reset não acontece.

— Então, Kiska, não tem vergonha nenhuma em escolher o “Não”. O que te espera depois de escolher isso é um sono eterno. Não parece uma forma pacífica de partir? Além disso, se você morrer, eu vou junto. Então por favor, morra.

Ela disse isso com um sorriso.

Era um sorriso completamente insano. Os olhos dela não estavam sorrindo nem um pouco.

— Bom, é que…

Quando tentei dizer alguma coisa, tudo ficou vermelho.

No segundo seguinte, minha consciência foi cortada.

— Você não vai morrer tão fácil assim.

Depois de voltar à vida, abri os olhos e vi Agetha parada ali.

— Ei, Agetha—

Minhas palavras foram cortadas porque ela enfiou a espada na minha garganta.

— Kiska, a partir de agora, vou te matar muito, muito, MUITO… tantas vezes que você nem vai conseguir contar. Vou continuar te matando até você gritar que não quer mais morrer. E aí, no fim, quando estiver em total desespero, vai escolher o “Não” e morrer. Até lá, vou te matar muitas vezes.

O som de sangue espirrando preencheu o ar.

Parece que, a partir de agora, eu ia ser morto inúmeras vezes.

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