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Chapter 94: Duas pessoas no caminho

 Capítulo 94 – Duas pessoas no caminho


Ponto de Vista da Kiska

Continuei correndo sem parar.
Corri e corri até perder o fôlego. Quanto mais eu corria, mais meu corpo gritava em protesto. Mesmo assim, não parei. Queria ver a Nyau de novo. Se eu morresse, o mundo provavelmente voltaria no tempo. 

O ponto exato para onde o tempo retrocederia era incerto, mas considerando os padrões anteriores, havia uma grande chance de voltar até quando o Herói Eligion ainda estava vivo dentro da masmorra. Se isso acontecesse, minha relação com a Nyau seria resetada. Talvez eu tivesse a chance de construir algo parecido com ela de novo, mas achava mais provável que isso não acontecesse.

Afinal, depois de salvar o mundo da destruição iminente, eu teria que voltar para o mundo cem anos no futuro. Nesse ponto, estaríamos separados.
Lembrei do tempo com a Vampira Judite.
No fim, também não consegui me aprofundar no relacionamento com ela.
Então era só nessa linha do tempo em específico.
A Nyau, que dizia me amar, existia apenas nesse momento.
Se era assim, eu queria viver por ela.
Queria vê-la de novo e dizer que também a amava.
Mesmo agora, a Nyau estava lutando contra o Lorde Demônio Zoga.
Não sabia por quanto tempo ela conseguiria resistir.
Por causa da minha demora, era bem possível que ela já tivesse sido morta.
Então, eu precisava me apressar.
Tinha que chegar até ela o mais rápido possível — até um segundo podia fazer diferença.

— Ora, ora, te encontrei, camarada.

— Foi arremessado bem longe, hein?

Na minha frente estavam duas figuras. O Guerreiro Gorgano e a Cavaleira Sagrada Canaria. Os dois traidores.

— Por quê…?

Surpreso, murmurei em descrença.

— Por quê? Bom, porque deixar você solto é problemático — disse Gorgano.

— É a vontade do senhor. Capturar você — completou Canaria.

— Por isso estávamos te procurando, até mesmo entre as forças do Lorde Demônio.

Por que esses caras estavam no meu caminho logo agora?

— Saiam da minha frente.

Justo quando cada segundo importava, eles vinham me atrapalhar?

— Canaria, não o mate.

— Entendido. Só precisamos capturá-lo, sem matar.

Canaria assentiu, brandiu sua espada marionete parasita e avançou em minha direção. Interceptei o ataque com minha própria espada e contra-ataquei.

Já havia enfrentado a Canaria inúmeras vezes em diferentes linhas do tempo. Essa experiência estava gravada na minha carne e fluía por todo meu corpo.
Então, ela não era uma oponente impossível de derrotar. Com isso em mente, lutei com ela num duelo de espadas.

Se conseguisse um bom golpe nesse começo, talvez pudesse vencê-la—

— Não se distraia.

Ao mesmo tempo que ouvi a voz por trás, senti o impacto nas minhas costas.

— Gaah!

Gemei, tossindo sangue. Droga, ele estava bem atrás de mim.
Sim, havia uma boa chance de eu vencer a Canaria sozinho. Mas se Gorgano também viesse, não tinha como ganhar.

— O quê… Você ainda está de pé?

Ouvi o suspiro do Guerreiro Gorgano.

— Saiam da minha frente.

— Hã?

— Eu tenho um lugar pra onde preciso ir, com urgência. Então, por favor, não interfiram.

Fiz um apelo desesperado.

— Como diabos a gente ia saber da sua situação? Não podemos deixar você seguir adiante — disse Gorgano com um sorriso nojento no rosto.

Bom, isso era verdade. Eu sabia muito bem que eles não eram do tipo que escutava a razão.

— Nesse caso, vou ter que matar vocês aqui mesmo.

Eu não queria mais me arrepender das minhas decisões.
Então, o que devia fazer era claro—.

Ponto de Vista do Gorgano

— Hmph, tá se achando demais, hein?

A Cavaleira Sagrada Canaria bufou, irritada com a confiança do Kiska.

— Não baixe demais a guarda — avisei, vendo o quanto ela estava despreocupada.

— Sim, entendi — respondeu Canaria.

Kiska não devia ser subestimado.
Se você o subestimasse e entrasse em combate, sua vida podia acabar a qualquer momento.

No começo, quando encontrei o Kiska na Vila Katarov, achei que ele era só um jovem comum, como qualquer outro. Tinha ouvido que era um aventureiro habilidoso, mas ele não emanava nenhuma aura de força.
Então, parecia apenas um jovem que não exigia atenção especial.
Essa foi minha avaliação inicial.

No entanto, a Foice Marionete Parasita, que eu tanto usava, disse algo sobre o Kiska: “Ele tem um cheiro estranho.”

A Foice Marionete Parasita foi criada pelo “Mestre do Caos” para ser uma arma contra o Herói.

Era inacreditável, mas o Herói parecia ter uma habilidade misteriosa que alterava a causalidade para garantir sua vitória.

O que exatamente significava alterar a causalidade, eu não sabia. Mas tinha uma noção de que esse poder equivalia quase à invulnerabilidade.

A Foice Marionete Parasita, criada para confrontar esse Herói invencível, parecia capaz de perceber essas alterações, embora de forma vaga.

Essa mesma Foice classificou o Kiska como “perigoso.”
Ou seja, isso implicava que ele tinha o poder de mudar a causalidade, como o Herói.

Isso não fazia sentido. Só existia um Herói neste mundo, Eligion. Foi assim que o “Mestre do Caos” definiu. Eu não fazia ideia de por que Kiska tinha esse poder. Mas o Herói distorcia a causalidade só por estar vivo.

Por isso, ele não devia ser morto.
Essa era a ordem do “Mestre do Caos.”

— Que ordem absurda...

Dei uma risada irônica.

Será que o “Mestre do Caos” sabia o quão difícil era derrotar alguém sem matá-lo?

— Então morre logo!

Ao dizer isso, balancei a Foice Marionete Parasita.

— Gaah!

Gemendo, Kiska foi arremessado para trás.
Quantas vezes ele já tinha passado por esse tipo de tormento?

— E aí, ainda quer lutar? Por que não desiste logo?

— Cala a boca…

À nossa frente estava Kiska, todo arrebentado, mas ainda tentando se levantar.
Já tínhamos causado dor mais do que suficiente.
Na real, se levantar de novo devia ser quase impossível, mas ele ainda insistia em lutar.

— Gorgano, você disse que não era pra matar, né?

— É, isso mesmo.

— Nesse caso, deixa comigo.

Dizendo isso, a Cavaleira Sagrada Canaria se aproximou com sua espada marionete parasita em mãos. Então, com um som seco, cravou a ponta da espada no braço direito do Kiska.

— Ugh, isso parece doer...

Arrepiei involuntariamente. Mesmo assim, a Canaria continuou a enfiar a espada várias vezes no corpo do Kiska.

— Morre! Morre! Morre! Morre!

Ela gritava enquanto fazia isso.

Antes que percebêssemos, Kiska desabou, completamente imóvel.

— Ei, Canaria! Para!

Segurei a Canaria com força antes que fosse tarde. Seria péssimo se ele morresse.
Kiska estava sangrando muito, não se mexia, e não seria surpresa se estivesse morto. Por isso, tive que agir rápido e impedi-la.

Justo quando pensei nisso…

Kiska cambaleou e se levantou. Ah, ele ainda está vivo — pensei por um momento, sentindo certo alívio.

— Devolve. Isso é meu.

Com a voz fraca, Kiska murmurou essas palavras. O sentido daquilo era um completo mistério. O que ele queria de volta, afinal?

No segundo seguinte, algo completamente sem sentido aconteceu.
Kiska avançou. De boca aberta. E bem à frente dele estava a espada marionete parasita que a Canaria segurava.

Era como se ele estivesse tentando devorar a espada, o que era bizarro.
O que ele estava tentando fazer? Roubar a espada parasita? Isso era possível?

Ah, me lembrei que, ao usar a Foice Marionete Parasita, era preciso colocá-la na boca e absorvê-la no corpo. Mas nunca ouvi falar de alguém conseguir roubar a arma parasita de outro.
Mesmo assim, tive um mau pressentimento e tentei impedi-lo.
Mas já era tarde — a espada marionete parasita já havia sido incorporada ao corpo do Kiska.

Ponto de Vista da Kiska

Acho que foi uma aposta arriscada.
Diferente de cem anos no futuro, nessa época, eu ainda não tinha encontrado a espada marionete parasita.
Mesmo assim, achei que essa era a única maneira de sair daquela situação.

Quando abri os olhos, me vi em outra dimensão.
Um espaço alternativo com chamas espalhadas pela escuridão.
O Mundo Profundo.
Lembro que a marionete chamou esse lugar por esse nome.

— Você me despertou, jovenzinho?

Diante de mim estava a marionete.

◆ ◆ ◆


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