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Chapter 95: Mundo Profundo

 Capítulo 95 – Mundo Profundo

A marionetista à minha frente tinha uma forma em que o lado direito era o de uma garota, enquanto o lado esquerdo assumia uma aparência monstruosa.
Essa era, sim, a forma final da marionetista que devorou muitos moradores da Vila Katarov.

Ao ver essa forma, lágrimas brotaram dos meus olhos sem aviso.
Tive um flashback.
A lembrança do seu suicídio.

—Você me despertou, jovenzinho?

—Sim, fui eu.

—Hmm, entendo. E o que o traz a um lugar como este?

—Quero que me empreste seu poder.

Falei diretamente o meu desejo.
Se eu pudesse contar com o poder da marionetista, talvez conseguisse superar os desafios diante de mim.

—Ahahaha, você diz umas coisas bem interessantes, não é?

A marionetista abriu a boca e debochou abertamente.

—Escute, meu mestre é uma mulher chamada Canaria. À primeira vista, pode parecer uma mulher sem graça, mas se você a conhecer melhor, vai ver que é até uma figura curiosa. Na verdade, acabei gostando dela, por isso empresto meu poder a ela. Mas pelo que estou vendo, você parece ser um inimigo da Canaria. Francamente, parece meio incômodo trair a minha própria mestra, não acha?

Bom, isso é verdade. Eu não achava que a marionetista fosse exatamente leal, mas também não era do tipo que trai sem motivo.

Mesmo assim, eu não estava disposto a desistir. Afinal, eu a conhecia melhor do que qualquer um.

—Ei, não é o seu sonho se tornar humana?

Eu me lembrava. Ela falava com frequência sobre querer se tornar humana.

—…Como você sabe disso? Não me lembro de ter dito isso.

—Disse, sim.

—Você é bem bom em mentir na cara dura, hein.

—Não é mentira. Afinal… no futuro, daqui a cem anos, eu sou seu mestre.

—Do que você está falando?

A marionetista franziu a testa. Bom, é natural desconfiar quando alguém solta algo assim do nada.

—Então está dizendo que veio do futuro?

—Isso mesmo.

—Se está só tentando me zoar, saiba que isso é bem desagradável. Ou você tem algum tipo de prova?

—Mesmo que eu tivesse uma prova, você, como marionetista, saberia reconhecê-la? Por exemplo, essa sua forma aqui não te diz nada?

Apontei para ela enquanto dizia isso. Quando a encontrei pela primeira vez no Mundo Profundo, sua forma era mais embaçada, menos definida. Mas agora, mesmo com metade do corpo monstruoso, ela parecia notavelmente próxima de um ser humano. Eu mesmo não entendia direito o porquê, mas talvez ela soubesse.

—…De fato, observei alguns fenômenos altamente inexplicáveis na linha do tempo. Também suspeitei que essa forma tivesse relação com esses eventos. Mas está dizendo que foi você o causador?

—Não, eu não sou a causa.

Presumo que a causa a que a marionetista se referia fosse a Agetha.

—Mas tenho alguém em mente como causador.

—Entendo. Bom, entendi seu ponto.

—Você acredita em mim?

—Não acredito de forma absoluta. Mas talvez eu deixe espaço para considerar.

—Então, vai me emprestar seu poder?

—Essa sua conclusão é bem ingênua. Mesmo que você realmente seja meu mestre no futuro, não vejo razão alguma para te obedecer agora.

Disse ela com um sorriso de canto. De fato, havia verdade em suas palavras. Só porque eu era o mestre no futuro, não significava que ela tinha obrigação de me ajudar agora.

—Se entendeu isso, então desapareça daqui.

Disse a marionetista, me empurrando para longe. Ah… não deu certo…
Eu não tinha mais argumentos convincentes para persuadi-la. Então, insistir parecia inútil. Eu tinha esperanças de superar essa situação contando com o poder dela, mas essa possibilidade foi cortada.

—…?

—Por que está chorando?

Só percebi quando ela apontou. Pelo visto, eu estava chorando. Mas por quê? Ah, entendi.

—Desculpa por não ter conseguido te tornar humana…

Ainda me lembrava vividamente. Do momento em que ela disse que era diferente… e tirou a própria vida. Fico pensando o que eu poderia ter feito para salvá-la. Tenho pensado nisso todos os dias, me arrependendo desde então.

—Eu sempre falho. E mesmo não conseguindo fazer nada sozinho, você sempre esteve lá, me ajudando a chegar até aqui. Mas no fim, não consegui realizar seu desejo.

—…?

—E além disso, eu tinha decidido que iria te tornar humana, mas olha o que aconteceu… me distraí com outras coisas e acabei não fazendo nada por você. Mas um dia… pode levar tempo, mas eu prometo que vou te tornar humana. Me espera até lá. Por favor…

Achei que tinha dito tudo que queria. Não consegui o poder da marionetista, mas consegui transmitir meus sentimentos. Pode não ser o desfecho ideal, mas foi o melhor que pude fazer.

—Então… como eu saio desse outro mundo?

Achei que já era hora de partir, então perguntei. Pensando bem, eu já tinha entrado nesse mundo profundo várias vezes, mas não fazia ideia de como sair.

—Ah, tá bom, entendi!

De repente, a marionetista levantou a voz.

—Entendi, entendi. É só te ajudar, né? Pensando bem, nem gosto tanto assim da Canaria, e ajudar você pode ser mais vantajoso. Então, vou te ajudar.

—…Hã?

Fiquei confuso, sem entender direito o que ela queria dizer.

—Disse que vou te emprestar meu poder!

—Sério?

—Eu falei, não falei? Vai querer que eu repita quantas vezes?

—Obrigado…

—O que é esse agradecimento aí? Tipo, se eu disse que vou te emprestar meu poder, queria que você, sei lá, chorasse de alegria ou algo assim.

Ah, é. Talvez pela falta de noção da realidade da situação, agradeci meio confuso, e deve ter soado indiferente.

Agora entendi. A marionetista vai me emprestar o poder dela. Pensando bem, isso me deixa realmente feliz…

—Uoooooou! Obrigadooo! Eu gosto muito de você!!

—Ei, pera aí! Não é porque eu disse isso que você pode sair me abraçando assim!

Ela disse, me dando um soco de leve. É, acho que exagerei um pouco.

—Ahm… valeu. Obrigado por acreditar na minha história.

—Não é como se eu tivesse acreditado na sua história.

—Sério? Então por quê?

—Ahm… é só que… ter você como meu mestre não me parece tão ruim assim.

Pude ver o rosto dela, meio envergonhado.

—Mas em troca de te ajudar, cumpra a sua promessa.

—Tá certo, entendi. Vou te transformar em humana, com certeza.

—É uma promessa.

No momento em que a marionetista assentiu, a luz atravessou a escuridão do mundo profundo. E, como uma casca se rompendo, a cena diante de mim se despedaçou.

Quando recobrei a consciência, estava de volta ao mundo exterior.

—Ei, por que está segurando isso…?

À minha frente, a Cavaleira Sagrada Canaria parecia confusa.
Ah, é mesmo. Ela realmente cumpriu a promessa.
Em minha mão, eu segurava a Espada Parasita Marionetista.

—Me desculpe, Canaria. A marionetista agora é minha.

Sim. A partir daqui, é a minha vez de contra-atacar.


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