Capítulo 96 — Lâmina Pulsante Estileto
— Ei, Gorgano!! O que tá acontecendo aqui?! É mesmo possível alguém roubar uma espada parasita assim!?
A Cavaleira Sagrada Canaria estava surtando.
— Não… Algo tão absurdo assim…
Até mesmo o Guerreiro Gorgano ficou abalado.
Eles não fazem ideia, então é compreensível que reajam desse jeito. Existe um vínculo especial entre mim e a marionetista, mesmo que ela não se lembre disso. Mesmo que essas memórias não estejam na mente dela, devem estar gravadas na alma.
— Marionetista, vamos com tudo desde o começo.
— Mesmo que diga isso... Eu ainda não entendi direito a habilidade do mestre.
A marionetista falou dentro da minha mente com um tom bem preguiçoso.
— Então só faça o que eu mandar.
— Beleza.
A resposta foi sem entusiasmo, mas tudo bem.
— Espadão Pulsante.
Num piscar de olhos, a marionetista se expandiu e se transformou numa espada gigantesca, maior que eu. Minha intuição estava certa. As habilidades que adquiri com a marionetista antes não foram resetadas. Com isso, posso lutar com força total.
— Espera aí, Mestre. Por acaso você tem alguma habilidade que aplica debuff quando usa espadão?
— Ah, agora que falou, acho que sim. Tenho a ‘Habilidade do Ladrão’.
A ‘Habilidade do Ladrão’ e um espadão não combinam nem um pouco. Como resultado, o ‘Espadão Pulsante’ ficou estranhamente pesado, diferente de quando eu ainda não tinha essa habilidade.
Mesmo com essa desvantagem, o ‘Espadão Pulsante’ era uma arma poderosa, então achei que daria conta. Mas…
— Nesse caso, vou trocar seu equipamento para algo mais adequado para um ladrão.
— O quê?! Você consegue mesmo fazer isso?
— Hehe, não sabia? Eu sou bem talentosa.
— Ah, isso eu sei muito bem!
— Hehe, é mesmo! Então, vamos estrear a nova arma!
No mesmo instante, o nome da nova arma criada pela marionetista veio à minha mente, e eu o pronunciei em voz alta.
— Lâmina Pulsante Estileto.
Imediatamente, o ‘Espadão Pulsante’ se transformou em outra arma. Era feita para ladrões, com uma lâmina mais curta. Assim como o espadão, era negra, mas o cabo tinha uma estrutura parecida com uma mandíbula que envolvia minha mão direita, prendendo-a à arma. Por causa disso, meu braço e a lâmina viraram um só, sem precisar segurar de fato.
— Quer uma explicação sobre a nova arma?
— Seria útil, se puder.
— Ah, que pena, Mestre. Parece que seu inimigo não tá muito disposto a esperar.
De fato, a Cavaleira Sagrada Canaria já estava empunhando uma espada reserva e pronta pra atacar.
— Devolve! Essa espada é minha!
Ela gritou, levantando a espada.
— Nesse caso, vou ter que aprender enquanto luto!
Falei, interceptando o golpe dela com a ‘Lâmina Pulsante Estileto’. Porém, Canaria tinha vantagem na força, e parecia que ia me esmagar. Num instante, vários braços brotaram da ‘Lâmina Pulsante Estileto’ e agarraram a espada da Cavaleira Sagrada Canaria.
Saquei… Essa deve ser a habilidade da ‘Lâmina Pulsante Estileto’. Era bem parecida com a habilidade do ‘Espadão Pulsante’: ‘Função Autônoma’.
Os braços que surgiram da ‘Lâmina Pulsante Estileto’ começaram a me puxar com força. Meu corpo foi levantado no ar e girou verticalmente com a força centrífuga gerada. Graças a isso, meu ataque ficou muito mais poderoso.
— Técnica de Espada Marionete: Corte da Grande Roda!
A armadura que a Cavaleira Sagrada Canaria usava se partiu ao meio, e ela caiu no chão.
— Por quê…? Como você consegue controlar a marionetista melhor do que eu...?
Ela murmurou com frustração.
— Foi mal. A marionetista é minha.
Assim que falei, o corpo dela ficou mole, e ela perdeu a consciência.
— Impressionante, mestre. Não achei que fosse me controlar com tanta habilidade.
— Eu te disse antes. Eu te conheço muito bem.
— Haha, acho que agora vou começar a acreditar um pouco mais nessa sua história de vir do futuro.
— Então você não acreditava nem um pouco até agora?
Enquanto trocávamos essa conversa, virei minha atenção para o outro inimigo.
— Mestre, aquele ali é bem forte.
— É, eu sei.
Dava pra sentir isso na pele. Afinal, já fui morto por aquele cara várias vezes.
— Cara, isso tá me surpreendendo de verdade. Pra ser honesto, até agora eu não faço a menor ideia do que tá acontecendo.
Disse o Guerreiro Gorgano, me encarando com desconfiança.
— É por isso que eu odeio gente como você. Enquanto a gente luta pra sobreviver, vocês aparecem com milagres como se não fosse nada e pisam na gente como se fôssemos insetos.
Ele murmurou, com ódio nos olhos.
— Cala a boca. Não se faça de vítima. Eu já sofri muito por causa de vocês.
— Ah, é mesmo?
— Então, se quiser desistir e fugir agora, talvez eu te deixe ir, sabia?
— Não se ache tanto, moleque.
Dizendo isso, o Guerreiro Gorgano deu uma ordem à Marionetista da Foice Parasita.
— Azi-Dahaka de Três Mandíbulas Resiliente!
Num instante, a marionetista se transformou numa criatura grotesca com três cabeças.
— Mestre! O que eu faço?!
— Mata ela agora mesmo!
— Matar? Quer dizer que posso comer?
— É, isso mesmo!
— Eu posso comer?! Oba! Já tava ficando com fome, sabia!?
— Tô bem curiosa pra saber o gosto!
A Azi-Dahaka de Três Mandíbulas Resiliente veio avançando enquanto tagarelava, se preparando para me devorar. Era enorme, coberta de escamas duras e cheia de presas afiadas.
— Mestre, acho que vou me mijar de medo.
Numa hora dessas, a marionetista solta algo completamente nada a ver. Você nem tem órgãos para fazer xixi.
— Já que você é uma garota, tenta falar de um jeito mais refinado.
— Oh… você é meio estranho, Mestre. Me chamar de garota assim... normalmente isso soa meio creepy.
— Creepy ou não, eu sei que você é uma garota fofa.
— Mestre, não acho que deva sair falando esse tipo de coisa por aí. É meio nojento.
— Não tô falando por falar, é só a verdade—
— Aaah, não quero ouvir isso. Aposto que você diz as mesmas coisas para outras garotas, né?
No instante seguinte, uma das mandíbulas do Resiliente Azi-Dahaka de Três Mandíbulas avançou em minha direção.
— Cuidado!
Minha Marionetista gritou enquanto eu rolava para escapar do ataque. Se eu tivesse reagido um pouco mais devagar, já estaria morto.
— Eles desviaram?!
— Que diabos você tá fazendo, seu perdedor?!
— Que desajeitado! Que desajeitado!
O Resiliente Azi-Dahaka de Três Mandíbulas continuava conversando tranquilamente durante a batalha.
— Mestre, você não devia se distrair.
— Se pensa isso, então para de puxar conversa comigo.
— Ué, então o que eu faço?
Enquanto esse papo absurdo continuava, eu seguia desviando dos ataques consecutivos do Resiliente Azi-Dahaka de Três Mandíbulas.
Daquele jeito, eu conseguia me esquivar de qualquer ataque combinando minha “habilidade de Ladrão” com a habilidade “Função Autônoma” da “Lâmina Pulsante Stiletto”.
— Mestre, por mais que você continue desviando, não vai conseguir vencer assim...
— Eu sei disso, tá?!
— Nesse caso, por que não tenta atacar?
Não segui o conselho da minha marionetista, mas era verdade que só desviar não me levaria a lugar nenhum. Esperei uma brecha e ataquei o Resiliente Azi-Dahaka de Três Mandíbulas com minha lâmina.
— Mestre, isso é...
— Não tá surtindo efeito nenhum.
Mesmo tendo desferido o golpe com toda minha força, nem um arranhão apareceu. Só pra garantir, tentei atacar várias vezes com a “Lâmina Pulsante Stiletto”.
Mas, por mais que eu golpeasse, o Resiliente Azi-Dahaka de Três Mandíbulas permanecia intocado.
— Ei, Marionetista, o que eu faço?
— Como se eu soubesse a solução!
— Droga, você é inútil quando mais preciso!
— Ah é?! Se vai ficar falando essas coisas, quem sabe eu pare de te ajudar? Que tal, hein?
— Espera, espera! Foi mal! Eu peço desculpas! Por favor, não me abandona! Por favor!
— Hmph, bom, agora já era...
Enquanto conversávamos, eu continuava me esquivando dos ataques vindos de todas as direções do Resiliente Azi-Dahaka de Três Mandíbulas, correndo feito louco. No fim, mesmo depois da conversa com a Marionetista, nenhuma solução parecia surgir.
— Ei, Marionetista Ceifadora! Vai hesitar até quando? Mata logo!
— É que ele fica se mexendo tão agilmente...
— Não quero ouvir desculpas!
— Entendido, Mestre.
— Beleza, só não fica brava.
— Se você ficar com raiva, a felicidade escapa.
E assim seguiam os papos casuais entre o guerreiro Gorgano e a Marionetista Ceifadora no meio da batalha. Ouvindo aquilo, uma ideia me veio à mente — algo que talvez pudesse mudar a situação.
— Marionetista da Espada... como eu não pensei nisso antes?
— Hmm? O que foi, Mestre? Você tá falando todo dramático...
— Se nossos ataques não funcionam, por que não miramos no dono?
— Ah, é mesmo. Pensando assim, faz todo sentido.
Se os ataques não funcionam no Resiliente Azi-Dahaka de Três Mandíbulas, então eu deveria mirar no guerreiro Gorgano, que o controla. É uma ideia até bem óbvia.
A distância até onde Gorgano estava era grande, e o Resiliente Azi-Dahaka de Três Mandíbulas era um obstáculo. Alcançá-lo parecia mais difícil do que parecia.
— Certo então, vamos nessa. Turno da Marionetista da Espada.
— Agora é pra valer!
Com essas palavras, disparei em velocidade máxima. Continuei me esquivando dos ataques incessantes do Resiliente Azi-Dahaka de Três Mandíbulas, que vinham de cima um após o outro.
Bem na hora em que estava prestes a alcançar meu alvo, as mandíbulas poderosas do Resiliente Azi-Dahaka de Três Mandíbulas avançaram com tudo. Escapei por pouco e então cravei a “Lâmina Pulsante Stiletto” na lateral da criatura.
Não foi pra atacar — cravei para usar a habilidade “Função Autônoma” e me impulsionar com mais força.
Parece que a intenção foi entendida, pois a “Lâmina Pulsante Stiletto” brotou vários braços e me empurrou com força ao se agarrar ao lado do Resiliente Azi-Dahaka de Três Mandíbulas.
Como resultado, meu corpo foi lançado em linha reta em direção ao local onde Gorgano me esperava.
— Droga! Não me subestime!
Gorgano avançou com um machado na mão. Recebi o golpe com o fio da “Lâmina Pulsante Stiletto” e, para desviar da força dele, girei verticalmente no mesmo lugar. Então, aproveitando o giro, contra-ataquei.
O som do sangue espirrando ecoou.
Era o som do meu golpe atingindo o guerreiro Gorgano.
— Eu tô um passo à frente.
— Droga...
Gorgano caiu exausto no chão, me encarando com ódio.
Parecia que ele não tinha mais vontade de lutar, nem mostrava sinais de se levantar.
Sincronizado com o estado de Gorgano, o “Resiliente Azi-Dahaka de Três Mandíbulas” parou de se mover e voltou ao seu papel original de Marionetista Ceifador Parasitário.
Será que finalmente venci?
O que me vem à mente são as memórias amargas do sofrimento que passei nas mãos do guerreiro Gorgano.
Finalmente consegui derrotá-lo. Pensando bem, é um sentimento profundo.
— Eu devo aceitar isso? Por que eu tenho que perder pra um moleque como você? A gente tava tão perto, nosso plano tava quase funcionando... E ainda assim, por que eu tenho que perder pra um aventureiro que nem é herói? Isso é ridículo! Eu devo aceitar isso?!
Gorgano gritou.
Parece que ele ainda tinha energia pra berrar, mas estava completamente furioso. Era como o uivo de um cachorro derrotado.
— Não consegue aceitar, né? Nesse caso, acho que tá na hora de mostrar minha carta na manga que ainda não usei. Não acha, Marionetista?
— Carta na manga? Não faço ideia do que tá falando.
— Isso aqui. “Predador Impiedoso.”
A terceira forma do Marionetista da Espada Parasitário: o “Predador Impiedoso.”
— O que é isso...?
Até Gorgano ficou em choque com o “Predador Impiedoso” e ficou sem palavras.
— Bom apetite!
Então, o “Predador Impiedoso” esticou alegremente seus tentáculos e começou a puxar o corpo de Gorgano em direção à sua boca.
— P-pare! Desculpa! A culpa foi minha! Por favor, para—!
Agora era tarde demais pra se arrepender.
Com um som grotesco, o “Predador Impiedoso” devorou Gorgano impiedosamente.
— Mestre, posso comer esse também?
— Pode sim.
Além disso, a Santa Cavaleira Canaria, que estava inconsciente, também foi devorada. Eu esperava que, ao consumir os dois, a Marionetista se tornasse ainda mais humana... mas não pareceu haver nenhuma mudança significativa.
Por agora, consegui derrotar o Guerreiro Gorgano e a Santa Cavaleira Canaria, mas a batalha ainda não tinha terminado.
— Marionetista, vamos logo.
Quero acreditar que Nyau ainda está lutando contra o Lorde Demônio Zoga. Por isso, eu precisava ir até ela o quanto antes.
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