Chapter 110: Hipótese

— Por enquanto, conseguimos eliminar os dois seguidores do “Caosismo”.

Com isso, deveríamos conseguir impedir a ressurreição do Lorde Demônio.

— Ei, Agetha. O que você tá fazendo?

Notei Agetha mexendo no corpo da Cavaleira Sagrada Canaria, caída no chão. Observei curiosa, sem saber o que ela pretendia.

— Achei.

Dizendo isso, Agetha ergueu um anel adornado com uma joia enorme.

— Um anel necessário pra reviver o Lorde Demônio. Pensei em pegar só por precaução, mas... o que fazemos com isso?

Mesmo se ela perguntasse, eu não fazia ideia. Um anel capaz de reviver o Lorde Demônio parece algo poderoso, mas os detalhes ainda são um mistério. Será que só funciona com o Lorde Demônio? Ou dá pra reviver outras pessoas também? Pode ter um custo absurdo pra usar, e pra ser sincero, nem sei como esse negócio funciona.

— Aqui?... Kiska.

Agetha me olha com uma expressão inocente.

— Bom, se você tá oferecendo, acho que aceito.

Assenti, meio sem pensar muito. Agetha então me entregou o anel.

Recebi, mas não consigo pensar em nenhum uso imediato pra ele. Será que dá pra vender? Uma ideia meio vulgar me passa pela cabeça.

Não, espera.

Será que com esse anel... eu conseguiria trazer a Namia de volta?

No instante em que essa possibilidade me ocorre, um arrepio percorre minha espinha e meu coração dispara.

Calma. É melhor não criar expectativa. Se eu esperar demais e não der certo, a decepção vai me quebrar. A ideia de alguém voltar à vida é boa demais pra ser verdade.

Então, deixa isso pra lá por enquanto. Só vou guardar o anel no bolso ou algo assim. Quando voltarmos ao tempo original, posso pensar melhor sobre isso.

— Se derrotarmos o Lorde Demônio Zoga, tudo vai se resolver?

— É.

Com o chamado de Agetha, seguimos em direção ao local onde está o Lorde Demônio.

Enquanto o Guerreiro Gorgano e a Cavaleira Sagrada Canaria estiverem fora de cena, o Lorde Demônio Zoga não poderá ser ressuscitado. Então, podemos enfrentá-lo com confiança.

Se conseguirmos derrotar o Zoga, podemos impedir a destruição do mundo. Esse deve ser o fim da minha missão.

Pensando nisso... parece meio anticlimático. Quando eu estava sozinho, tudo era tão difícil, mas desde que a Agetha apareceu, as coisas têm se resolvido de forma surpreendentemente tranquila.

Pensando bem, tem uma coisa que andava me incomodando.

— Ei, Agetha.

— O que foi, Kiska?

— Eu tava pensando... por que o pessoal do Caosismo deixou o Lorde Demônio ser morto uma vez? Tipo, se o plano deles era reviver o Lorde Demônio e matar o herói, não seria mais fácil se eles tivessem cooperado com o Lorde Demônio desde o início, pra matar o herói juntos? Em vez de trair ele depois da ressurreição?

— Ah, bom…

Enquanto respondia, Agetha olhou de relance para expressão do Assassino Noct.

— Noct, pode ir na frente.

Obedecendo a ordem da Agetha, Noct assentiu e seguiu em passo acelerado.

— Prefiro não falar de coisas relacionadas ao herói perto de outras pessoas, se possível.

Agetha esperou até que Noct estivesse a uma boa distância.

— Isso é só uma suposição minha, mas acho que o pessoal do Caosismo deixou o Zoga ser morto de propósito pelas mãos do Herói Eligion. Era algo que eles queriam evitar até o último segundo.

— É mesmo...!?

— Eles não entendem exatamente o poder do herói. Bom, eu mesma não entendo totalmente o meu. Quando Kiska morre, o tempo volta. Antes de passar esse poder pro Kiska, quando eu morria, o tempo também reiniciava. Provavelmente, eles não têm noção disso.

— Bom, não é como se desse pra um terceiro notar que, quando eu morro, o tempo retrocede.

— Frustrados por não conseguirem matar o herói de jeito nenhum, acabaram tomando uma medida extrema.

Fiquei curioso sobre qual seria essa medida extrema e esperei Agetha continuar.

— Eles me selaram.

Agetha disse isso com um tom carregado de ressentimento.

— Se não dá pra matar, então sele. Foi uma jogada inteligente. No começo, até eu achei que não teria como sair dessa.

— E o que você fez?

— Digamos que o poder do herói despertou? No fim das contas, eu ganhei a habilidade de transferir esse poder pra alguém distante. Nem sei direito como isso aconteceu, pra ser honesta.

De fato, eu recebi o poder do herói transferido pela Agetha. O Herói Eligion, que tá sendo carregado inconsciente pelo Assassino Noct, também recebeu esse poder.

— Eles entraram em pânico porque o poder do herói ficou ainda mais imprevisível. Então, tomaram uma atitude. Essa atitude foi o Herói Eligion. Eles transferiram meu selo para Espada Sagrada Hagentia e entregaram a espada ao Eligion, permitindo que ele usasse o poder do herói.

— Por que eles fariam algo assim?

— Provavelmente, ao passar o poder do herói para uma pessoa específica, esperavam conseguir controlá-lo. Depois, armaram um plano para matar o Eligion.

E então voltamos à pergunta inicial: por que o pessoal do Caosismo só tentou matar o Eligion depois da morte do Lorde Demônio?

— O Eligion, mesmo sendo um herói “falso”, ainda tinha o poder de herói. Então, derrotá-lo pelos métodos convencionais era impossível.

Com certeza, o Eligion podia evitar a derrota simplesmente repetindo o tempo várias vezes.

— Acho que eles formularam uma hipótese assim: “O poder do herói existe pra derrotar o Lorde Demônio. Então, se o herói derrotar o Lorde Demônio, o poder do herói não vai se manifestar depois.”

Faz sentido. Vendo por esse ângulo, a lógica deles tem fundamento.

— Por causa dessas circunstâncias, o Eligion foi morto...

— Hmm, vai saber?

Agetha inclinou a cabeça.

— Ah, qual é. A gente sabe, né? As condições para que o poder do herói não se manifeste.

— Ah, é.

O poder do herói não é automático; depende da vontade de quem o possui. É como a minha habilidade de “Salvar & Reiniciar”. Se, por algum motivo, o Eligion decidir desistir de lutar, ele vai morrer. E isso pode acontecer por vários motivos, como ser traído por alguém em quem confiava.

— Provavelmente eles não sabem que o poder do herói depende da vontade. Então, estão testando várias formas de matar ele.

Entendi. Então, eles criaram essa hipótese de que o Eligion só pode ser morto depois que o Lorde Demônio for derrotado.

— Bom, isso tudo é só especulação minha.

— Não, obrigado. Foi uma teoria bem interessante.

— Hehe, ouvir isso do Kiska me deixa feliz.

Agetha riu e se agarrou no meu braço.

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