Capítulo 113 – Troca de Roupa
Graças à magia de teletransporte da Sábia Nyau, conseguimos voltar em segurança para a vila de Katarov. Tendo derrotado o Lorde Demônio, fomos recebidos e saudados pelos moradores.
Ninguém na vila sabia o que tinha acontecido dentro da masmorra. Eles não estavam cientes dos desaparecimentos nem do surgimento repentino de Agetha. A explicação suave da Sábia Nyau, sem nenhuma acusação, foi fundamental para manter a paz.
Não houve uma celebração pela derrota do Lorde Demônio. Isso porque o protagonista, o Herói Eligion, ainda estava dormindo. Aliás, os moradores foram informados de que Eligion estava descansando devido aos ferimentos de uma intensa batalha contra o Lorde Demônio. Então, planejaram fazer uma comemoração assim que ele acordasse.
— Ei, Kiska. E agora, o que vamos fazer? Depois do jantar, estávamos descansando num quarto cedido pelos moradores. Justo quando eu estava pensando em dormir, Agetha entrou no quarto.
— Bom… Enquanto assentia em resposta à pergunta da Agetha, fiquei pensando. Achei que ao derrotar o Lorde Demônio a gente voltaria pra nossa linha do tempo original, mas não tinha sinal de nada disso. Será que tem algum atraso envolvido?
Por ora, resolvi explicar a situação em detalhes pra Agetha.
— Era isso.
— Hmm, entendi.
Eu já tinha falado sobre a entidade misteriosa chamada Observador. Mas ainda não tinha contado sobre nossas interações.
— Então, por enquanto, quero procurar um jeito de voltar pra era original, daqui a cem anos.
— Acho que não tem necessidade de voltar.
— Hã?
— Ué, porque eu tô aqui, o Kiska tá aqui, e a gente tá super feliz agora. Então acho melhor ficar nessa era.
— É, talvez...
Quando ela disse isso, eu comecei a pensar da mesma forma. Eu não tinha mais família no meu tempo original, então talvez nem tivesse muita razão pra voltar.
A única coisa que me preocupava era a Namia. Se eu não voltasse cem anos no futuro, não daria para testar se o anel da ressurreição que consegui realmente traria a Namia de volta à vida. Eu ainda não tinha certeza se tentar reviver os mortos era mesmo a coisa certa a se fazer. Então, mesmo que eu pudesse voltar, não sabia se realmente tentaria.
— Mas o Observador disse o seguinte: “Se for determinado que o mundo foi salvo, vou forçar seu retorno à linha do tempo original.” Então mesmo que eu queira ficar nessa era, pode ser difícil…
— Pode ser mesmo...
— E quanto à Agetha?
Pensando bem, o que vai acontecer com a Agetha? Ela também pode voltar cem anos no futuro?
Afinal, a Agetha era originalmente dessa era, mas sobreviveu até cem anos depois porque foi selada. Então talvez seja natural que ela permaneça aqui. Nesse caso, a gente pode acabar separado.
— Talvez eu consiga ir também, pra cem anos no futuro.
— Entendo. Isso me alivia.
Mesmo tendo vindo ao passado por causa dela, seria solitário não poder vê-la de novo. Então, me senti aliviado com a resposta da Agetha.
◆
Na manhã seguinte, acordei na cama da hospedaria onde estávamos.
Mesmo após um dia, nada tinha acontecido que indicasse meu retorno à linha do tempo original.
— “Quando o Observador determinar que o mundo foi salvo, vou forçar seu retorno à linha do tempo original.”
Repeti as palavras do Observador.
Pensando bem, embora tenha sido dito que “quando o mundo for salvo”, nunca foi especificado que derrotar o Lorde Demônio seria o suficiente. Isso quer dizer que, mesmo com a derrota dele, o mundo ainda está à beira da destruição?
Se for o caso, parece que vou precisar bolar algum plano.
— Por enquanto, vou falar com a Agetha.
Então, fui até o quarto onde a Agetha estava hospedada.
— Agetha, preciso falar com você sobre uma coisa.
Disse isso enquanto abria a porta.
— Oh!
Ela exclamou.
Pra minha surpresa, ali na minha frente, estava Agetha no meio de uma troca de roupa — ou talvez já tirando tudo —, só de lingerie. Vi várias coisas sem querer, como a calcinha e o decote.
— Foi mal.
Falei rápido enquanto tentava fechar a porta. Devia ter batido antes de abrir.
— Por que tá tentando fechar?
Mesmo assim, por algum motivo, Agetha segurou a porta, impedindo que ela fechasse.
— É que, sabe... não é legal ver alguém se trocando assim.
— Se for o Kiska, tudo bem.
— Não é tão simples assim!
Enquanto dizia isso, forcei a porta pra fechar, mas parecia que a Agetha era muito mais forte, e eu simplesmente não conseguia.
— Eu desisto.
No fim, parei de tentar. Não importava o quanto eu me esforçasse, não dava pra vencer a força dela. Bem apropriado pra uma heroína.
— Pode entrar.
Como mandado, entrei.
— Então, o que você queria conversar...?
Sentando-se na cama, Agetha falou enquanto se ajeitava ao meu lado.
— Ei, por que você ainda tá sem se trocar!?
A Agetha ainda estava só de roupa íntima, o que deixava a situação um tanto constrangedora.
Como ela estava no meio da troca, eu esperava que terminasse logo.
— Hmm, posso me trocar depois. Tô mais interessada no que você quer dizer.
— Normalmente, ninguém gostaria de ser visto assim por outra pessoa.
— Por isso que eu falei antes, se for o Kiska vendo, tudo bem. Ah, entendi. O Kiska deve estar envergonhado de me ver assim. Bom, não tem jeito. O Kiska é um covardão mesmo; até quando eu dei várias indiretas, ele não fez nada.
Me arrepiei inteiro.
Nunca achei que a Agetha fosse tocar nesse assunto. Claramente, ela tava falando da noite em que nos encontramos pela primeira vez na masmorra, quando ela tentou me seduzir e eu rejeitei, levando ela ao suicídio logo depois. Sinceramente, esse evento ainda é um trauma enorme pra mim. E, por causa disso, ainda sinto um desconforto inegável ao redor dela.
— E quando outras mulheres chegam perto, o Kiska cai facinho. O Kiska nem imagina, né? O quanto meu coração ficou ferido...
Pedi desculpas imediatamente.
— Não quero ouvir desculpas.
Respondeu Agetha. Olhando para a expressão dela, parecia que estava à beira de chorar. Apesar de toda a força, ela parecia frágil e quebradiça quando eu não estava por perto.
— Eu te amo, Agetha.
Ao ouvir isso, ela sorriu.
Ainda não tenho certeza se amo mesmo a Agetha ou não. Mas, neste momento, essa parecia ser a resposta certa.
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