Capítulo 115 – Explicação
— Certo, mas quem é você? — perguntou o Herói Eligion, que estava sentado de frente para a Agetha. Ele foi direto ao ponto. Ah, e só pra constar, já tínhamos terminado o café da manhã e limpado a mesa. Só estavam presentes eu, Agetha, o Herói Eligion e a Sábia Nyau para essa conversa importante.
— Eu sou a verdadeira heroína — respondeu Agetha, sem rodeios. Fiquei apreensivo, me perguntando se a atitude rude dela ia soar desrespeitosa pro Herói Eligion.
— Eu achava que eu era o herói — retrucou ele.
— Você é um herói falso, criado por uma organização chamada Caosismo — explicou Agetha. Ela contou como tinha sido selada junto da Espada Sagrada Hagentia, e que o Eligion, ao portar essa espada, acabou recebendo as qualificações de herói.
— Você tem alguma prova de que é a verdadeira heroína?
— Eu derrotei o Rei Demônio. Acho que isso já é motivo suficiente.
Ela disse isso, e Eligion ficou pensativo por alguns segundos antes de responder:
— De fato... parece que eu sou um herói falso.
— Você acreditou mesmo na nossa história?
Eu não esperava que ele fosse confiar tão fácil assim e acabei perguntando por impulso.
— Bom, é. Se pensar com objetividade, parece que eu não sou um herói — disse Eligion, enquanto exibia sua tela de status. — Olha o que aconteceu hoje de manhã.
A tela que ele mostrou indicava que ele estava no Rank Platina. Me lembrei de que o Herói Eligion era o sétimo colocado entre os Mestres.
— Será que a Agetha-san virou uma Mestra?
— Sim, isso mesmo. Atualmente, estou no rank Mestre.
— Eu só tinha esse título porque a Agetha-san tava selada dentro da espada. Perdê-la significa que provavelmente perdi também as qualificações de Mestre.
Entendi... então dá pra deduzir essas coisas com base na mudança de rank.
— Heroína Agetha, reconheço que você é a verdadeira heroína. Mas tem uma coisa que não entendo. Por que você matou a Cavaleira Sagrada Canaria?
A expressão do Eligion ficou séria ao dizer isso. Era uma pergunta que precisava ser feita. Afinal, a Canaria era uma subordinada leal e querida por ele. O fato dela ter sido morta devia ser difícil de aceitar.
— Ela era uma traidora. Estava tramando a ressurreição do Rei Demônio. Por isso, não podíamos deixar ela viva.
— Você tem alguma prova de que ela era traidora?
Diante da pergunta do Eligion, Agetha olhou pra mim e disse:
— Kiska.
— Deixa que eu mostro isso.
Logo entendi o que ela queria dizer.
— Este anel foi usado pra ressuscitar o Rei Demônio, e a Cavaleira Sagrada Canaria estava com ele.
Enquanto dizia isso, tirei o anel do bolso.
— De fato, à primeira vista parece ser um anel especial... mas também pode ser só uma bugiganga que vocês inventaram, não é?
É, o que o Eligion disse faz sentido.
Mas eu tinha mais uma carta na manga pra convencer ele de que a Canaria realmente era uma traidora.
— Herói Eligion-sama.
— Kiska-kun, eu não sou mais um herói.
É verdade...
— Eligion-sama.
Corrigi meu modo de me referir a ele. Como ele é o primeiro príncipe, esse é o jeito mais adequado de chamá-lo.
— Você conhece o nome “Vila Luna”?
Assim que eu disse isso, o corpo do Eligion se enrijeceu.
— A Cavaleira Sagrada Canaria parece ser uma sobrevivente da Vila Luna. Por isso, ela nutria um forte desejo de vingança contra o senhor.
— Isso é absurdo...
Eligion se levantou bruscamente e bateu na mesa. A Sábia Nyau, que estava ao lado dele, murmurou preocupada:
— Tá tudo bem...?
— A Cavaleira Sagrada Canaria, sendo uma filha ilegítima, foi entregue aos cuidados de pais adotivos da Vila Luna ainda pequena. Se interrogarmos os pais dela, talvez a gente consiga confirmar isso.
— Ou seja, ela tinha motivo pra me trair...
Eligion se sentou de volta, parecendo atordoado.
— Vou investigar a Cavaleira Sagrada Canaria do meu jeito... Obrigado por me contarem tudo isso.
— Não, nós é que agradecemos por acreditar na nossa história.
— Ah, é verdade. Heroína Agetha, como você derrotou o Rei Demônio, vai receber uma recompensa de Sua Majestade, o Rei. E também gostaria que você participasse da cerimônia de vitória na capital. Afinal, você é a protagonista desse evento. Então, aceitaria ir até a capital?
Agora que penso bem, depois que o Rei Demônio fosse derrotado, o grupo do herói deveria ir até a capital e participar da cerimônia.
— Nem pensar. Muita trabalheira.
A Agetha recusou sem pensar duas vezes.
— Não gosto de chamar atenção. Odeio até mesmo esse título de heroína. Se quiser, pode dizer que foi você quem derrotou o Rei Demônio.
— De fato... não é tão simples assim...
Eligion fez uma cara de quem não sabia o que fazer.
— Pelo menos, mesmo que não participe da cerimônia, você poderia ir até a capital? Gostaria de te receber lá.
— Não quero.
Pois é, não é todo dia que alguém recusa casualmente um pedido do príncipe herdeiro.
— Ei, Agetha. Que tal ir pra capital? Vai que você encontra alguma coisa interessante por lá.
Hoje de manhã, a Agetha tinha falado que queria sair pra se divertir. Pensando nisso, uma visitinha à capital como passeio não parecia má ideia.
— Se o Kiska diz, então eu vou.
— Que bom que você tá nessa vibe. Beleza, então vou providenciar a carruagem de novo. Vamos pra capital juntos?
Dizendo isso, Eligion parecia prestes a ir embora. Já tinha terminado o café da manhã, e parecia que ele queria encerrar a conversa.
— Eligion-sama, tem mais uma coisa que quero dizer.
— Hmm? O que é?
— Na verdade, nossa batalha ainda não acabou.
O mundo ainda não está salvo da destruição. O que exatamente vai acontecer, a gente ainda não sabe. Só posso pedir que ele fique atento. Mesmo assim, Eligion assentiu e respondeu:
— Vou manter isso em mente.
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