Capítulo 120 — Teatro
— Ei, como eu tô?
Ao dizer isso, Agetha girou no lugar.
— Oh, tá fofa.
— Sério? Obrigada.
Parece que se vestir com mais capricho do que o normal é considerado etiqueta quando se vai ao teatro. Por isso, fomos antes a uma loja de roupas e mandamos fazer trajes caros sob medida.
Agetha vestia um longo vestido preto, com um design translúcido nos ombros e no peito. Ela também usava um acessório grande em forma de flor na cabeça.
— Você também tá bem bonito, Kiska.
— É mesmo?
Gaguejei um pouco ao receber o elogio. Eu também estava de terno. Lembrei que tinha pago uma boa grana por ele. Como eu não tinha dinheiro, foi a Agetha quem cobriu os custos. Mentalmente, anotei que precisava pagar isso depois com a recompensa que recebi do rei.
— Então, vamos?
Dizendo isso, Agetha veio e entrelaçou o braço no meu. E assim, seguimos juntos em direção ao teatro.
◆
Os ingressos que o Príncipe Eligion nos deu eram realmente para uma área especial — os melhores assentos do terceiro andar. Além disso, era uma sala privada, só para nós dois, e se tocássemos um sininho, atendentes vinham nos servir bebidas à vontade.
— A propósito, Agetha, quantos anos você tem?
— Por que tá perguntando isso?
— Fiquei curioso se você pode beber álcool.
A aparência da Agetha é de uma garota bem jovem e delicada. Neste país, basicamente qualquer um que já não seja mais criança pode beber, então imaginei que não seria um problema.
— Dependendo se você conta ou não o tempo em que fiquei selada, minha idade muda bastante.
— Não precisa incluir isso…
— Então vamos dizer que eu tenho 15.
— Certo, então álcool tá liberado.
— E você, Kiska? Quantos anos tem?
— Eu tenho 18.
— Até que é mais velho do que pensei.
Isso quer dizer que pareço mais novo?
Depois de pedirmos vinho e brindarmos, a peça começou. Achei que seriam apenas atores atuando, mas começou com apresentações poderosas de vários músicos.
Depois, os atores começaram a cantar enquanto falavam suas falas. Agetha explicou que aquilo se chamava ópera. Sem nem perceber, eu estava completamente encantado pela ópera.
A história era sobre um protagonista que empunhava uma espada para salvar um anjo lindo que foi colocado para dormir por desafiar os deuses. No final, o protagonista beijava o anjo, ela acordava e os dois juravam amor eterno.
Apesar de ser uma produção longa que durou várias horas, pareceu passar num piscar de olhos. Tinha ido ao teatro só porque era popular, mas nunca imaginei que ficaria tão fascinado. Meu coração ainda batia acelerado, e a empolgação ainda estava viva.
— Ainda bem — disse pra Agetha, e ela assentiu com um leve rubor no rosto, talvez por causa do álcool. Tínhamos feito um jantar leve antes do teatro, então agora era só voltar.
Voltamos a pé para o palácio onde estávamos hospedados. No caminho, não trocamos uma palavra sequer — as emoções da ópera ainda ecoavam na nossa mente.
— Já tá tarde, vamos dormir — sugeri quando chegamos em frente aos nossos quartos. Cada um tinha seu próprio quarto, e ultimamente tínhamos o hábito de voltar aos nossos antes de dormir.
Mas essa noite foi diferente. Agetha segurou minha roupa e não quis soltar.
— Agetha...? — chamei, mas ela ficou em silêncio. Não fazia contato visual e mantinha a cabeça baixa. Além disso, seu rosto estava vermelho como se pegasse fogo.
Mesmo sem ela dizer nada, eu já sabia o que ela queria. Não consegui evitar lembrar daquele dia — o dia em que rejeitei Agetha. Naquela época, minhas feridas emocionais ainda estavam abertas, e eu não a entendia direito, então acabei rejeitando seus sentimentos. Mas me arrependi disso, porque sabia que a machuquei. Decidi que, se algo assim acontecesse de novo, eu aceitaria.
De repente, ela murmurou sem levantar o rosto:
— Eu não quero ficar sozinha hoje...
E no instante em que ela disse isso, algo dentro de mim se partiu.
◆
O que foi que eu fiz...
Estava deitado na cama, consumido pelo arrependimento. Agetha dormia ao meu lado.
Assim que tudo aconteceu, a sobriedade me atingiu como um balde de água fria. Eu me sentia um cara desprezível. Primeiro me envolvi com a Nyau, e agora cruzei a linha com a Agetha.
Pensando bem, pareço um cafajeste. Mas se eu rejeitasse o carinho da Agetha, ela podia acabar me matando ou, pior, tirar a própria vida. Então não dava pra recuar. Claro, também não dá pra negar o fato de que não resisti aos avanços de uma garota fofa.
Quanto à Nyau, provavelmente nem lembra do que rolou entre a gente, então tudo bem. Talvez. A Agetha com certeza ficaria com ciúmes, então não posso deixar ela saber da Nyau.
Criei uma baita situação complicada e agora tenho que assumir a responsabilidade. Será que preciso me apresentar pros pais da Agetha? Espera... ela não disse que veio de outro mundo? Se for isso mesmo, os pais dela devem estar em outro mundo também. Encontrá-los vai ser complicado, considerando que nem sei como viajar pra outro mundo.
Quando amanhecer, vou perguntar tudo isso pra ela.
◆
Acordei.
Ah, já é de manhã.
— Agetha! — chamei, tentando abraçá-la enquanto me mexia.
— O que foi?
Hã? Agetha estava de pé, bem na minha frente. Meu corpo, que deveria estar deitado na cama, agora estava em pé no chão. Olhei em volta. Era óbvio que aquele não era o quarto do palácio.
— Onde é que a gente tá?
— Tá meio dormindo ainda? Se liga. A gente tá prestes a enfrentar o Rei Demônio e você tá desse jeito, que saco.
— Rei Demônio...
Murmurei, percebendo que estávamos dentro de uma masmorra.
— Mas a gente já derrotou o Rei Demônio, não foi?
— Hã? Você tá mesmo sonolento, hein?
A Agetha na minha frente tinha uma expressão confusa. Ah... esse clima... é a Agetha Negra.
— …………!!
Finalmente entendi a situação e senti um calafrio. Sim, o tempo voltou de novo. E parece que foi antes da luta com o Rei Demônio. Ou seja, voltamos uma semana no tempo. Isso significa que alguém me matou.
Quem será...?
Não tinha mais ninguém naquele quarto além de mim e da Agetha. Ou alguém invadiu e me matou enquanto eu dormia... ou foi a própria Agetha. Mas não consigo pensar em um motivo pra Agetha me matar. Por outro lado, também não tenho ideia de quem mais poderia ser.
— Ei, Agetha. Você tem consciência do looping temporal?
— Se for sobre loop temporal, a gente já passou por vários.
Formulei mal a pergunta.
— Agetha, você tem alguma lembrança de ter feito... coisas íntimas comigo?
— P-por que você tá falando disso do nada!?
Agetha ficou vermelha e gaguejou.
— É uma pergunta importante. Responde sério.
— Eu não tenho nenhuma lembrança disso... Que que deu em você?
Até agora, a Agetha mantinha suas memórias mesmo com os loops. Mas, por algum motivo, dessa vez ela parece não lembrar de nada.
◆ ◆ ◆
Comentários Box