Capítulo 116 – Partida para a capital real
Depois de terminarmos o café da manhã com Eligion, seguimos direto para a capital em uma carruagem. Os moradores da vila queriam fazer a festa que não puderam realizar ontem, mas como Eligion estava ocupado e não podia ser retido, eles acabaram desistindo a contragosto.
— Então, vamos partir.
Eligion deu a ordem ao cocheiro. Dentro da carruagem, Eligion e a Sábia Nyau sentaram-se à minha frente, enquanto Agetha ficou ao meu lado. Lembrei de ter andado nessa carruagem várias vezes antes. Naquela época, eu ficava sempre tenso, sem saber quando a Cavaleira Sagrada Canaria poderia nos trair. Agora, sabendo que não temos inimigos por perto, posso viajar mais tranquilo.
— A propósito, qual é o relacionamento entre Kiska e Agetha? Vocês parecem se dar muito bem.
Assim que a carruagem começou a se mover, Eligion puxou conversa. Nosso relacionamento, é? Como é que eu deveria explicar isso? A palavra “amigos” parece insuficiente pra descrever o que eu tenho com a Agetha. Por outro lado, também não consigo pensar em algo melhor.
— Somos namorados.
Agetha falou sem pestanejar, me pegando totalmente desprevenido. Quase deixei escapar uma risada. Não lembro de ter virado namorado da Agetha, não. Bem, a gente já se beijou várias vezes, então, tecnicamente, estamos num relacionamento mesmo.
— Hã...?
Alguém soltou esse som surpreso. A carruagem ficou em silêncio por um instante, atingida pelo impacto da afirmação.
— Nyau, aconteceu alguma coisa?
Eligion se dirigiu à Sábia Nyau, que estava sentada ao lado dele. Ah, então aquela voz surpresa tinha sido mesmo dela.
— N-Não, eu só me surpreendi um pouco... P-Por favor, não se preocupem.
Nyau tentou disfarçar rapidamente seu espanto. Bom, todo mundo solta um comentário alto de vez em quando.
— De fato, é surpreendente que vocês estejam num relacionamento. Afinal, acabaram de se conhecer na masmorra. Como ficaram tão próximos tão rápido?
Eligion concordou com as palavras de Nyau. É complicado responder isso. Do ponto de vista dele, Agetha foi libertada do selo na masmorra, ganhando sua liberdade ali mesmo. Então, parece que a gente virou casal do nada.
— Foi amor à primeira vista.
Agetha explicou com uma expressão tímida. Não tenho escolha além de ir com essa versão.
— Entendo. Realmente, Kiska é bem bonito. Dá pra entender.
— Kiska, bonito, é? Que bom pra você.
Agetha provocou, com um sorriso malicioso.
— Não fico feliz ouvindo isso vindo de um cara.
Além disso, Eligion é bem mais estiloso do que eu. Então, mesmo que alguém diga que sou bonito, parece só um elogio forçado.
— Bom, então, quer que eu diga?
— Para com isso, que vergonha. Eligion-sama tá ouvindo, sabia?
— Então eu digo quando estivermos a sós.
— Por favor, não. De qualquer forma, ainda vai ser vergonhoso.
Será que é mesmo apropriado ficar nesse clima meloso? Espero que Eligion não esteja achando tudo isso um saco. Preocupado, dei uma espiada disfarçada nele.
Felizmente, ele estava sorrindo. Parece que não está incomodado. Como esperado de um príncipe, ele tem um coração bem generoso.
— Ugh...
De repente, ouvi um fungado. Olhei na direção do som e vi a Sábia Nyau, sentada na diagonal à minha frente, curvada, tentando segurar o choro.
Os outros também perceberam, e ficaram com expressões confusas. Afinal, não tinha nada de emocionante no que estávamos conversando. Era difícil entender por que ela estava chorando.
— D-D-Desculpem... Acho que entrou um cisco no meu olho, e, bem, as lágrimas não pararam de cair desde então. Ficaria grata se pudessem só... ignorar.
Nyau esfregava os olhos enquanto dava essa explicação.
Mesmo estando claro que não era só um cisco, ninguém falou nada. Provavelmente todos pensaram a mesma coisa, mas ninguém teve coragem de comentar. No fim, por causa das lágrimas misteriosas da Sábia Nyau, o clima dentro da carruagem ficou meio pesado e o papo morreu naturalmente.
◆
Quando chegamos à capital real, a cidade já estava em clima de festa. Todo mundo estava nas ruas, bebendo e cantando.
Parece que a notícia da derrota do Rei Demônio já tinha se espalhado pela cidade toda.
A presença de Eligion dentro da carruagem foi logo notada pelo povo. Resultado: uma multidão se aglomerou ao redor da carruagem, causando um verdadeiro alvoroço. Soldados apareceram e conseguiram controlar a situação e acalmar a confusão.
Eligion mostrou o rosto pela janela, acenando com a mão e correspondendo às expectativas das pessoas.
Quanto a nós, sem saber o que fazer, simplesmente fingimos naturalidade.
A carruagem seguiu adiante pela cidade até chegar ao palácio real.
— Heroína Agetha, parece que Sua Majestade, o Rei, já está preparado para recebê-la. Poderia vir, por favor?
Quando a carruagem parou, Eligion conversou com os soldados do lado de fora e depois voltou para dentro, convidando Agetha.
— Tá bom.
A expressão da Agetha deixava claro que ela achava aquilo tudo um saco.
— Kiska e Nyau, venham também. Vocês também foram importantes. Meu pai quer agradecer pessoalmente.
Com isso, Agetha, Nyau e eu descemos da carruagem.
As lágrimas de Nyau pareciam ter secado completamente, e ela agora estava calma.
— Agetha, tenta não ser grossa na frente do Rei.
Falei isso só por precaução.
— Eu sei. Tenho consciência da minha posição.
Foi o que ela disse, mas eu ainda estava com o pé atrás.
Eu também vou conhecer o Rei pessoalmente. Pensando nisso, comecei a ficar nervoso. As roupas que eu estava usando, preparadas na vila, pareciam simples demais pra uma audiência real. Será que isso tá certo...?
— Kiska, você tá nervoso por acaso?
— Claro que tô. E você, não tá, não?
— Nem um pouco.
Agetha assentiu com uma expressão tranquila.
Acho que posso aprender um pouco com essa calma dela.
— Afinal, eu sou a heroína. Não tenho medo dos líderes do país.
— Ser heroína é incrível mesmo.
— Fica só me observando, Kiska. Parece que eu é que vou lidar com tudo.
— Você parece bem confiante. É até reconfortante ter você comigo.
— É mesmo?
Conversar com a Agetha me ajudou a aliviar um pouco a tensão.
— O Rei está esperando do outro lado — disse um sujeito com cara de servo, que nos guiava, ao parar diante de uma porta.
Pelo visto, o Rei está nos esperando além dessa porta.
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