Capítulo 122 – Humilhação
Três dias depois de derrotarmos o Lorde Demônio, hoje era o dia do meu encontro com Agetha na capital real. Seguindo os eventos do loop anterior, de manhã fui ao teatro comprar ingressos para daqui a seis dias e, em seguida, almoçamos em um restaurante famoso recomendado pelos funcionários do local.
Depois disso, Agetha e eu passeamos pela cidade, fazendo compras com calma. O distrito central da capital real era cheio de lojas, atendendo tanto os moradores quanto os turistas. Havia uma enorme variedade de produtos, então era divertido só de olhar.
Mas, como eu já tinha explorado essas lojas no loop anterior, agora parecia meio entediante. Como Agetha parecia estar se divertindo, decidi passar o tempo numa livraria.
Peguei um livro que me chamou atenção e folheei algumas páginas. Os livros eram produzidos graças à habilidade da classe Sacerdote, chamada “Escrita Automática”, então a maioria dos exemplares envolvia mitologia. No entanto, eram sempre formais demais, e eu queria algo mais leve de se ler.
Também havia grimórios à venda. Tentei folhear um, mas era tão complicado que não consegui entender nada do que estava escrito.
— Devo voltar para perto da Agetha?
Ao sair da livraria, fui andando pela cidade procurando por ela. Acabei encontrando Agetha dentro de uma loja, olhando fixamente para alguma coisa.
— O que você tá olhando?
Perguntei, me aproximando.
— Hm… anéis…
De fato, bem na frente da Agetha, havia anéis expostos numa vitrine de vidro.
— Você quer um?
— Quero, mas é caro, então talvez não dê…
Olhei a etiqueta de preço: 300.000 El. El era a moeda deste país.
300.000 El era quase o que eu ganharia em meio ano trabalhando como fazendeiro. Era uma quantia absurda. Apesar de querer dar um presente para Agetha nesse dia especial, estava fora de cogitação, considerando que meu saldo atual era zero.
— No meu país, existe uma tradição de casais usarem o mesmo anel. Então, eu queria usar um anel combinando com o Kisska…
— É mesmo?
Um anel custava 300.000 El. Dois sairiam por 600.000 El.
Seria ótimo se existisse uma maneira fácil de conseguir esse dinheiro todo…
◆
Depois de voltarmos ao palácio real, jantamos, e então o Príncipe Eligion veio ao meu quarto me convidar para a cerimônia de Triunfo. Em troca de aceitar, recebi ingressos para os assentos VIP do teatro, igualzinho ao loop anterior.
— Kiska, hoje também foi divertido.
Na cama, Agetha e eu estávamos relaxando. Talvez por termos passado de certo limite ontem, Agetha parecia ainda mais próxima de mim. Mesmo agora, ela se encostava confortavelmente no meu ombro. De tão perto, dava pra sentir um leve perfume adocicado vindo dela. Talvez fosse por causa desse cheiro que uma vontade estranha de mimar Agetha tomou conta de mim.
— Agetha…
Chamei o nome dela num tom mais demorado, e a abracei, curtindo aquele calor agradável que atravessava o tecido das roupas. Comecei a entrar num clima mais romântico, então estendi minha mão, com a intenção de—
— Não, Kiska.
— Por quê…?
— Espera eu tomar banho primeiro. Então tenha um pouco de paciência.
Se era só isso, então eu podia esperar o quanto fosse preciso. Me afastei de Agetha. Ela então desceu da cama e começou a se preparar para ir ao banho coletivo. No começo, achei que nosso relacionamento tinha começado de forma casual, mas agora eu gostava mesmo da Agetha. Talvez, quanto mais tempo passássemos juntos, mais eu fosse me apaixonando por ela.
◆
O banho público do palácio real era espaçoso e aberto.
Dentro daquela enorme banheira, a Sábia Nyau estava mergulhada.
Por causa da estatura pequena de Nyau, quando ela se sentava com o bumbum no fundo da banheira, o nariz já ficava submerso. Então ela precisava agachar.
Durante o banho, era preciso ficar quieta. Talvez por isso a mente de Nyau estivesse cheia de pensamentos.
No fundo, Nyau sabia que havia algo estranho com ela mesma.
A causa dessa estranheza era, sem dúvida, o homem chamado Kiska e a garota chamada Agetha ao lado dele.
Sempre que fechava os olhos, só conseguia pensar em Kiska. Quando descobriu, dentro da carruagem, que ele e Agetha eram um casal, ficou tão chocada que as lágrimas simplesmente escorreram sem controle.
Ao lembrar que chorou, um turbilhão de emoções — vergonha, pena, tristeza — veio à tona, deixando-a deprimida.
— O que será que Nyau deve fazer…
Ela murmurou, com a voz sumindo.
Apesar de estar pensando nisso há um tempo, a resposta já era clara fazia muito tempo.
— Que coincidência te encontrar aqui.
Ao ouvir essa voz, Nyau se virou e viu uma figura de pé dentro da banheira.
— Heroína Agetha…
Nunca imaginou encontrá-la num lugar como esse. Relutante, Nyau desviou o olhar da pessoa que mais queria evitar.
— Se importa se eu me juntar?
—S-sim.
Mesmo não querendo, ela não teve coragem de recusar, então assentiu com a cabeça.
(O que diabos Nyau quer dele?) Foi o que ela pensou.
— Você gosta do Kiska?
O rosto de Nyau se contraiu com a pergunta inesperada. Nunca imaginou que escutaria algo assim.
— N-não, não é isso…
Negou na hora. Afinal, a pessoa diante dela era a namorada de Kiska. Não podia confirmar algo assim.
— Entendi, tá negando. Mas, pelo seu jeito, é difícil acreditar que não goste do Kiska.
Dizendo isso, Agetha lançou um olhar afiado em sua direção. Ser encarada daquele jeito dava a sensação de que ela podia ver direto o coração de Nyau, fazendo seu peito disparar.
— Bom, dá pra entender se apaixonar pelo Kiska, ele é mesmo incrível.
Sem saber o que responder, Nyau ficou em silêncio. No entanto, ao ouvir Agetha dizer que Kiska era incrível, seu rosto ficou levemente corado.
— Mas vou te dizer uma coisa.
Ao falar isso, Agetha aproximou o rosto do de Nyau.
O que será que ela vai dizer…?
— Eu já dividi a cama com o Kiska. Talvez ele me procure de novo hoje.
— …!?
Por um momento, Nyau não entendeu o que Agetha quis dizer. Mas assim que compreendeu, baixou o olhar instintivamente.
— O Kiska tá apaixonado por mim, então infelizmente não tem espaço pra você.
Dizendo isso, Agetha se levantou da banheira, como se já tivesse dito tudo o que queria.
— Ugh…
Nyau não conseguiu segurar as lágrimas. Por sorte, dentro do banho ninguém prestaria muita atenção. Mas ela sentiu uma humilhação avassaladora.
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