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Chapter 125: Confissão

 Capítulo 125 – Confissão


Ponto de vista do Kiska

Por algum motivo, a Nyau estava me encarando com muita intensidade.

— Você quer mesmo saber por que a Nyau estava chorando?

Nyau disse, escolhendo as palavras como se fizesse questão de ser enigmática.

Depois que perguntei, senti que não tinha mais como voltar atrás, como se algo irreversível estivesse prestes a acontecer. Mas, pela Nyau, eu faria qualquer coisa.

— Eu quero saber.

Então, eu disse essas palavras.

— Por que você estava chorando naquela hora?

Assim que perguntei, Nyau hesitou, gaguejando. Depois de alguns segundos pensando, ela criou coragem, fez uma expressão decidida e começou a falar.

— E-eu… G-gos…

Mas, no momento em que tentou dizer, parecia que não conseguia, repetindo a mesma sílaba várias vezes.

O que ela tá tentando dizer?

Uma palavra que começa com “gos”...

Seria “gostar”? Não, isso seria muita presunção. Nesta linha do tempo, eu e Nyau quase não tivemos interações, não tem como ela gostar de mim.

Então, o que mais poderia ser?

Não consegui pensar em mais nada.

— Eu gosto de você…

— …Hã?

O que eu faço? A voz dela foi baixa demais e eu não consegui entender direito. Não dava pra fingir que ouvi.

— Desculpa, pode repetir? Eu, tipo, não ouvi direito.

Então, eu disse isso. Achei que precisava perguntar de novo, porque devia ser algo importante.

— Ugh…

Por algum motivo, ela ficou vermelha até a ponta das orelhas e os olhos começaram a se encher de lágrimas.

— Eu finalmente criei coragem, e mesmo assim…

Nyau abaixou a cabeça.

— Me desculpa. Por favor, diz de novo. Eu vou prestar atenção de verdade desta vez.

Falei rápido, tentando consertar. Ela assentiu.

— Tá bom. Quero que você escute com atenção agora.

— Pode deixar.

Mas, de novo, ela ficou hesitante e gaguejou outra vez.

Dessa vez, eu a encarei com atenção, determinado a não perder nenhuma palavra. Por algum motivo, as bochechas dela estavam coradas e, talvez por nervosismo, a respiração dela estava meio descompassada desde antes. Isso estava me deixando desconcertado também.

— Eu gosto de você.

Dessa vez, eu ouvi claramente.

— Hm…

A primeira emoção que surgiu dentro de mim foi confusão.

Ela disse “gosto de você”. Sobre mim.

Nunca imaginei que algo assim poderia acontecer.

Aos poucos, conforme a ficha foi caindo, uma felicidade estranha começou a crescer. Ouvir a Nyau dizendo que gostava de mim me deixou inexplicavelmente feliz.

— É incômodo pra você?

— Incômodo? Nem um pouco.

Respondi sem pensar, e aí percebi.

Eu estou namorando a Agetha. Por isso a Nyau perguntou se era incômodo.

Mas a Nyau sabe disso. Ela sabe que estou com a Agetha. Então por que se declarou?

— Então, eu… tô namorando a Agetha…

— Eu sei disso.

— Então, por quê…

— Eu não sei… Mas eu gosto muito de você, Kiska. E tá tudo bem pra mim ser a segunda opção. Não ligo de ser tratada como uma mulher conveniente. Eu só quero estar ao seu lado, Kiska.

— Nyau…

Era impossível não ficar abalado com o que ela tinha acabado de dizer. Uma vontade imensa de abraçar a Nyau surgiu dentro de mim. Talvez estar com ela assim fosse algo bom.

Então, eu disse—

— Desculpa, eu não posso corresponder aos sentimentos da Nyau.

Um pedacinho de racionalidade foi quem disse essas palavras. Eu tinha decidido me dedicar à Agetha. Não podia trair essa decisão.

— Não se desculpa. Eu sabia desde o começo que era loucura.

— Mas, mesmo assim, ouvir isso da Nyau me deixou muito feliz.

— Essas palavras não me consolam.

— …Me desculpa.

Um clima pesado tomou conta do lugar.

Era esperado. Eu tinha acabado de rejeitar alguém que se declarou.

— Dói, mesmo eu já sabendo. Ser rejeitada por quem a gente gosta. Mas eu não pretendo desistir. Nem que leve anos, um dia eu vou fazer você ser meu, Kiska.

— Por que a Nyau gosta de mim?

— Você faz esse tipo de pergunta vergonhosa justo pra quem acabou de rejeitar?

— Desculpa, é que… eu realmente queria saber…

Ela suspirou e então respondeu.

— Eu mesma não sei. Eu não sei, mas simplesmente não consigo evitar gostar de você, Kiska.

Nyau disse isso com o olhar abaixado, visivelmente envergonhada.

Achei que talvez ela lembrasse da linha do tempo anterior que passamos juntos, mas parecia não ser o caso.

— A propósito, Kiska, posso te pedir uma coisa?

— Claro, pode falar.

Esperando, de alguma forma, compensar o que eu tinha feito, respondi na hora.

— Me beija.

— Ei, isso é pedir demais…

— Eu não tô pedindo sua permissão.

— Hã?

Assim que percebi, senti uma coisa macia encostar nos meus lábios. Levei alguns segundos pra entender que tinha sido beijado.

— Kiska, por favor, não esquece este dia. Só por esse momento… você foi meu.

— É… tá bom.

Assenti, e então ela se levantou do sofá e começou a ir embora.

Provavelmente era melhor não ir atrás dela.

Ugh, que sensação horrível.

Parece que a culpa tá me esmagando por dentro.

— Kiska…

Depois de ficar sentado no sofá, meio anestesiado, voltei à realidade quando ouvi alguém me chamar.

— Agetha?

Parece que a Agetha entrou na cabana, talvez tenha cruzado com a Nyau pelo caminho.

— Ei, aconteceu alguma coisa? Eu vi a Sábia Nyau saindo da cabana.

— Não foi nada.

— É mesmo?

Apesar de parecer aceitar a resposta, dava pra ver um quê de insatisfação no rosto dela.

Mas eu não podia explicar o que tinha acontecido dentro da cabana pra Agetha.

— Bem, tudo bem.

Agetha disse isso e se sentou ao meu lado.

Depois, se inclinou na minha direção.

— Kiska, eu te amo.

— Eu também te amo.

Eu sei que o que fiz não foi errado.

Eu deveria entender isso.

Mas mesmo assim, sinto um desconforto absurdo.

Acho que vou continuar lembrando desse dia nos meus sonhos… pelo resto da vida.

Nyau saiu correndo da cabana, com uma expressão horrível, cuidando para que ninguém a visse.

— Ah… então é isso que chamam de coração partido.

Disse isso num tom meio animado. Parecia que precisava fingir estar bem, mesmo forçando um pouco.

— Bom, desde o começo eu sabia que ia acabar assim.

Ela sabia que o Kiska estava namorando a Agetha.

Ela sabia que não tinha chance.

Mesmo assim, não conseguiu conter os próprios sentimentos.

Esperava que, ao confessar, algo pudesse mudar.

Mas o mundo não era tão gentil assim.

Não só nada mudou, como ela acabou saindo machucada, sozinha.

— Ughhh~

Com esses pensamentos, as lágrimas começaram a cair.

Mesmo tendo decidido que não ia chorar hoje.

Cumprir essa promessa parecia impossível agora.


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