Capítulo 128 – Suspeito
— A gente não consegue chegar ao Império de Ritzken em um dia nem com cavalo, então vamos ter que passar por uma vila no caminho.
— Ei, Agetha. Você tá com dinheiro, né?
Assim que entramos na vila e fomos direto procurar uma hospedagem, falei com a Agetha Negra no balcão da recepção.
— Bom, tenho sim.
— Então, seria ótimo se você pudesse cuidar do nosso dinheiro.
A Agetha Negra fez uma cara de quem estava meio cansada da situação. Mas como eu não tinha nenhum tostão, não tinha outra opção a não ser contar com ela.
— Fazer o quê... Eu pago. Até que tô com uma graninha de sobra.
Recebi o dinheiro da Agetha Negra. Depois disso, fomos juntos até o refeitório pra jantar.
— Ei, Agetha. Você tem alguma ideia de quem pode ser o responsável por querer matar a gente?
Durante o jantar, puxei esse assunto, tentando iniciar uma conversa.
— Mesmo que você me pergunte isso, eu não tenho as memórias do looping, então é difícil dizer.
— É, verdade.
Enquanto comíamos, assenti com a cabeça. Parecia que mesmo perguntando pra Agetha, não íamos conseguir nenhuma pista.
— Quando estamos procurando um culpado, o mais importante é o motivo. Você tem alguma ideia de quem teria motivo pra querer nos matar?
— Nenhuma em especial...
Eu não lembrava de ter feito nada que causasse um ódio tão forte a ponto de alguém querer me matar.
— Entendi. Então talvez a gente precise mudar a perspectiva. Alguma pista de quem teria capacidade pra me matar?
Ah, é mesmo. A Agetha é absurdamente forte. O número de pessoas capazes de matá-la deve ser bem pequeno.
— Talvez o Espadachim Supremo Nidorg, quem sabe?
O Espadachim Supremo Nidorg era um Mestre. Então, não seria surpreendente se ele conseguisse matar a Agetha.
— Esse tal de Espadachim Supremo Nidorg teria algum motivo?
— Motivo... Acho que ele já desafiou a Agetha pra um duelo uma vez. Queria lutar contra um oponente forte, por isso.
— Entendi, então há um motivo.
— Mas eu não consigo imaginar o Espadachim Supremo Nidorg sendo do tipo que mataria a mim e a Agetha.
Embora minha interação com o Espadachim Supremo Nidorg tenha sido breve, ele não parecia ser uma má pessoa. Alguém assim realmente recorreria ao assassinato?
— A verdadeira natureza de alguém nem sempre é fácil de ver. É bem comum pessoas que parecem gentis fazerem coisas ruins pelas costas.
Apesar de o que a Agetha Negra disse poder ser verdade, eu não queria pensar dessa forma.
— Bom, deixa pra lá. Tem mais alguma pista?
— …Acho que não, mas e quanto ao Lorde Eligion?
— De fato, o Príncipe Eligion, sendo um herói aposentado, tem bastante força. Não seria surpreendente se ele conseguisse me matar.
— Mas não parece ter um motivo claro pro Príncipe Eligion.
— Vai saber. Talvez ele secretamente guarde rancor por ter os feitos heroicos dele ofuscados por mim, e isso o levasse a querer me matar.
Agetha deu um sorrisinho sarcástico ao dizer isso.
— Eu não acho que o Príncipe Eligion faria algo assim.
Conversei com o Príncipe Eligion algumas vezes, e ele sempre me pareceu gentil. Não consigo acreditar que ele chegaria a cometer um assassinato por inveja.
— Então, mais alguma pista?
A pergunta da Agetha ficou no ar. Alguém com força suficiente pra matar a Agetha... Havia mais alguém assim? Deixa eu pensar... Ah, tem uma pessoa.
— Parece que a Sábia Nyau estava por perto.
— De fato, as habilidades dela são de outro nível.
Dependendo da linha do tempo, a Sábia Nyau tinha força o bastante pra ser escolhida como uma Mestre. Considerando isso, ela podia ser uma suspeita viável.
— Agora, será que ela tem algum motivo?
Assim como os outros, aparentemente, a Sábia Nyau também não tem um motivo claro. Em algumas linhas do tempo, nós éramos bem próximos, e ela me conhecia bem. É difícil imaginar que ela faria algo assim, mas havia um possível motivo.
Por algum motivo, a Sábia Nyau parecia gostar de mim. Talvez, por ciúmes, ela tenha matado a Agetha. Não, é difícil acreditar nisso... Mas, levando em conta as circunstâncias estranhas, talvez um crime por ciúmes não seja tão absurdo. Vai saber, né?
— Parece que temos uma pista.
Agetha Negra deu um sorriso malicioso, como se tivesse percebido algo na minha expressão.
— …É.
— E qual seria o motivo?
Perguntada pela Agetha Negra, eu não podia simplesmente dizer que a Sábia Nyau gostava de mim. Isso só ia complicar tudo.
— Ah, não é um motivo tão sério assim, pra ser honesto.
Tentei mudar de assunto. Agetha Negra não pareceu desconfiar e apenas assentiu, dizendo:
— Entendi.
— Tem mais alguma pista ou é só isso?
— Acho que, por enquanto, não tem mais ninguém.
— Entendi. Então estamos com três suspeitos, hein?
Ainda assim, eu não conseguia acreditar que qualquer um desses três fosse o verdadeiro culpado.
◆
Na manhã seguinte, acordei sentindo o calor do sol entrando pela janela.
No fim, depois do jantar ontem, voltei pra hospedaria e dormi direto.
Olhando pro lado, Agetha ainda está dormindo.
Achei que tinha escolhido um quarto duplo com duas camas, mas parece que me enganei e reservei um de casal, com só uma cama pra nós dois.
Olhando a Agetha dormindo, não consigo evitar pensar no quanto ela é fofa.
Ah, que vontade de abraçar ela.
— Só um pouquinho não faz mal, né?
Me aproximei da Agetha dormindo e a abracei com os dois braços.
Primeiro, o cheiro gostoso que vinha dela me invadiu o nariz. Depois, senti o calor e a maciez da pele dela através do tecido.
Aquilo me deu uma sensação boa, como se o coração estivesse se acalmando.
— Ei, o que você tá fazendo? Pervertido!
De repente, Agetha abriu os olhos e me lançou um olhar fulminante. Parece que eu acabei acordando ela.
Ah, é mesmo, essa aqui é a Agetha Negra. Talvez por estar sonolento, confundi ela com a Agetha normal.
— Foi mal.
Pedi desculpas no reflexo, mas aí uma coisa me veio à mente. Eu e a Agetha éramos um casal, mas... e com a Agetha Negra?
Lembro que ela também demonstrou gostar de mim. Bom, então não deve ser um grande problema.
— Ei, você gosta de mim?
— Oi? Que papo é esse do nada? Para com isso.
— Tô falando sério.
Eu realmente queria perguntar de forma sincera, mas parece que ela não entendeu. Nesse caso, vou ter que ser mais direto.
— Eu gosto de você. E você, gosta de mim?
Agora que pensei bem, eu pretendia confessar meus sentimentos pra Agetha, mas acho que nunca falei isso claramente pra Agetha Negra.
— Ei, que droga é essa... por que você tá dizendo isso de repente...
Na hora, Agetha Negra ficou vermelha e toda atrapalhada.
— Achei que era melhor esclarecer isso logo. Então, e aí?
— C-Como assim…
Agetha Negra desviou o olhar, visivelmente envergonhada.
— Agetha, responde direito.
— Eu, ahn…
Esperei pacientemente pelas palavras da Agetha Negra.
— Eu, meio que, tipo... gosto de você.
Na prática, ela acabou de dizer que gosta de mim, mas vou esperar ela falar com todas as letras.
— Ei, eu preciso mesmo dizer isso em voz alta?
De repente, Agetha Negra me perguntou com uma expressão toda sem jeito.
— Seria bom ouvir você dizendo isso, sim.
— Tá bom. Eu vou dizer direito, só me dá um tempinho para preparar o coração.
— Beleza, sem pressa.
Com isso, Agetha fechou os olhos ali mesmo e começou a respirar fundo, fazendo “fuuu, fuuu”.
Mas, sinceramente, aquilo parecia exagero só pra dizer que gosta de alguém.
— Pronta?
— Uhum, desculpa a demora.
— Então, manda ver.
— E-Eu, ahn, gos…
“Se conseguiu dizer ‘gos’, dizer ‘gosto’ não devia ser tão difícil assim”, pensei enquanto esperava.
— Ei, você tá só tentando me fazer passar vergonha, né!
Falando isso, ela me empurrou com tudo.
Surpreso, caí pra trás.
— Aaah!
Quando percebi, Agetha já tinha saído correndo do quarto como se estivesse fugindo.
Sozinho no quarto, não consegui evitar pensar:
— Essa Agetha Negra… a reação dela é bem inocente. Todas as garotas que conheci até agora sempre foram bem diretas, então a resposta dela foi até refrescante. Como posso dizer isso…
E aí, só consegui pensar:
— Ela é bem fofinha, no fim das contas.
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