Capítulo 126 – Através da parede
Ponto de vista: Kiska
No dia seguinte à caçada com o Príncipe Eligion e os outros, Agetha e eu fomos à cidade comprar roupas para o teatro que planejavamos ir em dois dias. Na linha do tempo anterior, Agetha usava um vestido preto, mas desta vez, ela comprou um vestido azul-céu bem claro. Eu escolhi um terno parecido com o que usei da última vez. O dia seguinte foi tomado pela cerimônia de triunfo.
E hoje, fomos ao teatro assistir a uma ópera. E, esta noite, eu vou morrer.
— Ei, Agetha.
— Eu entendo. Eu vou te proteger, então fica tranquilo, Kiska.
Com Agetha dizendo isso, parece que posso ficar em paz.
Depois, curtimos juntos a ópera no teatro. Apesar de já ter assistido a essa mesma peça uma vez, ela não foi nada entediante. Pelo contrário, pareceu ainda mais divertida dessa vez, como se eu tivesse percebido detalhes novos que deixei passar da outra vez.
— Então, Kiska, você sabe que horas foi atacado?
Agetha e eu estávamos sentados de costas um para o outro na cama. Sentar assim ajudava a cobrir os pontos cegos.
— Não sei. Mas lembro que fiquei acordado até tarde, então sei que foi de madrugada.
— Entendi. Nesse caso, talvez a gente precise se preparar para virar a noite.
Depois disso, fiquei em estado de alerta, vigiando constantemente a porta do quarto. Não sabia quando alguém poderia entrar por ali. Fiquei um bom tempo apenas encarando a porta.
— Ei, Agetha. Você tá acordada?
— Tô, sim.
De repente, bateu uma ansiedade, e falei com Agetha. Acho que só consigo me manter calmo porque ela tá do meu lado. Se não fosse por ela, já estaria tomado pelo medo.
Quanto tempo passou?
Nada de anormal aconteceu.
Tomara que a gente consiga chegar até a manhã em segurança.
— Kiska, alguém tá se aproximando do quarto.
— Hã?
— Você não ouve? Passos.
Forcei os ouvidos, mas não consegui escutar nada.
— O que a gente faz? Quer que eu vá verificar?
— É uma boa ideia.
Agetha se levantou da cama e saiu do quarto.
Meu coração apertou ao vê-la se afastar.
— Ei, quer que eu vá com você?
— Kiska, fica aqui. Se virar uma luta, não quero que você se envolva.
— Beleza.
Se é assim, vou obedecer e esperar aqui. Pode até parecer meio patético depender dela, mas a verdade é que Agetha é mais forte, e eu devo confiar no julgamento dela.
— Então, Kiska, só fica quietinho e espera.
Dizendo isso, Agetha fechou a porta.
◆
— Ah, então era você mesmo.
Agetha falou isso sorrindo.
Na frente dela, havia uma única pessoa.
◆
Ponto de vista: Kiska
O som de batalha ecoava pelas paredes. Estava claro que Agetha estava lutando com alguém. Mesmo sabendo que ela dava conta, uma sensação horrível de angústia tomou conta de mim. Me senti um lixo. Se eu fosse mais forte, poderia estar lutando ao lado dela.
Continuei esperando, suportando os sons do confronto... até que eles cessaram.
— Acabou?
Eu não podia ver o que estava acontecendo do outro lado da parede, mas o silêncio indicava que o combate tinha terminado.
— Agetha!
Convencido de que a luta tinha acabado, saí correndo pro corredor.
— Hã...?
Demorei um pouco pra entender a cena diante de mim. O chão estava coberto de sangue, espalhado por todos os cantos — um verdadeiro campo de batalha.
— Agetha...?
No meio daquela poça de sangue, Agetha estava caída, sem forças.
— Ei, você tá bem!?
Tentei levantá-la com esforço. Ela parecia mais pesada do que imaginei.
Ela estava com os olhos abertos, mas sem consciência — ou melhor, estava evidente que ela tinha morrido.
— Me desculpa...
Essas palavras escaparam sozinhas.
Foi um erro deixar tudo nas mãos da Agetha. Se eu fosse mais forte, ela não teria morrido por minha causa.
— Desculpa, Agetha...
Falei isso enquanto a abraçava forte. Fui tomado por um arrependimento absurdo por tê-la deixado morrer. Mais do que tudo, eu odiava o fato de Agetha ter morrido bem na minha frente. As lembranças da vez em que ela se enforcou e tirou a própria vida voltaram como uma punhalada. Eu não queria que ela sentisse essa dor de novo.
— Desculpa, desculpa, desculpa, desculpa...
Não importava o quanto eu pedisse perdão — ela não respondia.
Eu precisava fazer melhor da próxima vez. Pra não fazer a Agetha sofrer de novo.
— Ah...
De repente, sangue jorrou da minha boca.
Olhei pra baixo. Algo parecido com uma lâmina atravessava meu abdômen.
Fui apunhalado por trás, com certeza.
— Q-quem...!?
Disse isso enquanto me virava.
Se eu não visse o rosto de quem me atacou, seria difícil bolar uma estratégia depois de reviver. Então eu precisava ver quem era... custasse o que custasse.
Ouvi um som — como se o ar tivesse sido rasgado.
E então, minha visão escureceu.
— AAAAAAAAAAAH!!
Não consegui segurar o grito. Fui cortado nos dois olhos por algo semelhante a uma lâmina. No segundo seguinte, senti uma dor violenta no peito. Provavelmente fui esfaqueado de novo.
E então, perdi a consciência.
◆
Acordei. Parece que consegui voltar da morte.
Mas dessa vez, preciso mudar completamente minha estratégia. Nunca imaginei que o inimigo seria alguém mais forte que a própria Agetha.
Confiar que ela vai resolver tudo talvez não seja o melhor caminho.
— Kiska, você tá meio aéreo. Tá tudo certo?
— Tô sim. Vamos, Agetha.
Na minha frente estava a Agetha Negra. Já que eu ainda não tinha quebrado o selo da verdadeira Agetha, essa aí era só uma cópia.
Primeiro, preciso libertar a Agetha de verdade. Depois, derrotar o Lorde Demônio Zoga.
Junto com Noct, a assassina, fomos até onde estava o Príncipe Eligion. Depois de convencê-lo de algum jeito, peguei a espada sagrada emprestada.
Então, Noct colocou um tipo de pedra preciosa sobre a espada para quebrar o selo.
No instante seguinte, uma luz intensa brilhou a partir da espada.
Quando o clarão se dissipou, uma garota apareceu.
— Faz tempo que eu não respiro o ar de fora.
Ela disse isso, olhando diretamente pra mim.
Hã...? Senti um certo desconforto.
— Hmm? Que foi, Kiska? Tá com uma cara ainda mais idiota que o normal.
Ah, é mesmo. A Agetha na minha frente era a Agetha… mas ao mesmo tempo, não era.
— Você... é a Agetha Negra?
A Agetha tem duas personalidades dentro dela — a Agetha normal e a versão mais agressiva, a Agetha Negra.
— Agetha Negra?
Ah, claro. Esse é um nome que eu inventei do nada. Ela não fazia ideia desse apelido.
— Ah, entendi. Então “Agetha Negra” é o meu apelido.
Mesmo assim, ela assentiu como se tivesse entendido.
— De fato, sou eu que carrego a maldade da Agetha. Então, o nome Agetha Negra até que faz sentido.
Sim — a pessoa diante de mim era a outra personalidade da Agetha.
A Agetha Negra.
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